Bolsa cai aos 102 mil pontos com forte aversão global ao risco; dólar sobe 2,48%

708

São Paulo – A Bolsa encerrou a primeira sessão da semana em forte baixa com os mercados globais evitando os ativos de risco por uma expectativa de maior aperto monetário e desaceleração do crescimento no mundo. É o sétimo dia seguido de queda e no mês, a Bolsa já perde 5,27%.

O movimento reflete a crescente pressão inflacionária configurada após a divulgação dos dados de inflação acima do esperado na semana passada nos Estados Unidos, que elevam as apostas de aumento ainda maior dos juros, além de receio de novos fechamentos na China, impactos da guerra entre Ucrânia e Rússia em curso, ruídos políticos na França e Inglaterra e piora da atividade econômica no Reino Unido em abril.

Os investidores mostraram forte pressão vendedora enquanto esperam pela elevação de juros no Brasil e nos Estados Unidos na próxima quarta-feira, que terá anúncios do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) e do Comitê de Política Monetária brasileiro.

O Ibovespa, o principal índice da B3 encerrou a sessão em queda de 2,73%, aos 102.598,18 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho recuou 2,71%, aos 102.600 pontos. O giro financeiro foi de R$ 22,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em forte queda%.

Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, escritório credenciado da XP Investimentos, aponta que a possível alta de 0,75% nos juros nos Estados Unidos e de 0,50% no Brasil gera aversão a risco nas bolsas e aumenta a busca por ativos da renda fixa.

“Também vemos empresas do setor aéreo enfrentando quedas hoje. Tal movimento mostra-se ainda mais acentuado em empresas muito alavancadas e as quais têm seus custos operacionais e de dívidas atreladas ao dólar, que já se valorizou mais de 10% nas duas últimas semanas, impactando principalmente o setor aéreo, sem contar os novos lockdowns na China”, disse.

Alves também vê um movimento de alta dos juros futuros, assim como do dólar, que ocorre devido ao aumento da aversão a risco, assim como dos temores da inflação alta que segue forte em todo o mundo, gerando fuga de capital para as economias mais seguras e ativos de maior qualidade. “Esse movimento também pode indicar um prelúdio da tão falada recessão de nível global. A esperança é que ela seja menos aguda do que se anuncia”, comentou.

Na sessão desta segunda-feira (13/6), os ativos brasileiros caíram em bloco pressionados pelo cenário de fuga de risco, onde as quedas mais acentuadas foram nos setores de varejo, tecnologia e aéreas refletindo a abertura das curvas de juros e alta do dólar. As piores quedas foram de Gol (-14,45%), CVC (-11,72%), Méliuz (-11,11%), Azul (-10,92%) e Via (-9,89%).

As únicas ações a subir foram Iguatemi (+5,48%), Cielo (+1,32%), Suzano (+0,69%), Energias do Brasil-EDP (+0,63%) e Taesa (+0,29%).

Em dia de estreia na B3 por sua privatização, as ações da Eletrobras (ELET3; ELET6) caíram 2,19% e 0,80%, a R$ 40,10 e R$ 39,38. A precificação da oferta ficou em R$ 42,00 por ação.

Para Filipe Villegas, analista da Genial, a inflação alta nos Estados Unidos deve obrigar a autoridade monetária a elevar os juros. “Há expectativas menores de crescimento e retração financeira e o movimento esperado de um banco central é reduzir os juros para voltar a estimular a economia. Mas, como fazer isso diante de uma inflação anual próxima da década de 1970, 1980? O mercado está se preparando para isso e passou a precificar esse cenário e apostar que nessa semana de o Fed avance 0,75%na próxima quarta-feira, com mais algumas altas nas próximas reuniões, por isso, hoje há uma forte abertura das taxas de juros”, comentou o analista.

Para se ter uma ideia, o mercado precifica que até setembro, aconteça uma elevação na taxa de juros nos Estados Unidos de 175 pontos base, ou seja, uma alta de 0,75% e mais dois aumentos de 0,5%. “A última vez que o Fed elevou os juros em 0,75% foi em 1994”, acrescentou o analista da Genial.

O dólar comercial fechou em alta de 2,48%, cotado a R$ 5,1130. O temor por um Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mais duro, na reunião desta semana, e as dúvidas sobre a reabertura chinesa proporcionaram um forte clima de aversão ao risco durante toda a sessão.

Segundo o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “os mais pessimistas esperam uma alta de 0,75%, mas o consenso é que seja de 0,5%”. Nagem observa que a China voltando a recrudescer o lockdown também é um fator que joga contra o real e as moedas emergentes ligadas às commodities.

Para o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “precisamos ver se uma alta de 0,75% fica em aberto no discurso desta semana. Se isso acontecer, o mercado deve reagir bem mal, afetando diretamente o câmbio e a curva de juros”.

Komura se mostra incrédulo quanto ao avanço da reabertura na China: “É bem capaz que a gente tenha estas ondas (de Covid), e provavelmente não vai haver uma melhor significativa tão cedo. E isso puxa muito o Brasil, pois afeta o preço das commodities”, explica.

De acordo com o boletim da Ajax Capital, “o Fed poderá promover sucessivas altas de 0,5% para que a política monetária ingresse mais rapidamente no campo contracionista”. O boletim também relata que “parte relevante do mercado” precifica alta de 0,75% já na reunião desta semana.

Por outro lado, a reabertura da China segue claudicante, com o ressurgimento de novos casos de Covid, e sem definição do governo de Pequim para retomar as principais atividades.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta nesta segunda-feira (13) em semana de reuniões do Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) e Copom (Comitê de Política Monetária), com mercado avesso ao risco.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,545% de 13,370% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,290%, de 12,990%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,745%, de 12,495% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,740% de 12,490%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,1280 para venda.

Os principais índices do mercado de ações fecharam em sua maior queda desde março de 2021, entrando em território de perdas à medida que os investidores apostam cada vez mais em um aumento de 0,75 ponto percentual (pp) na taxa básica de juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e se preparam para uma recessão.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -2,79%, 30.516,74 pontos
Nasdaq Composto: -4,68%, 10.809,2 pontos
S&P 500: -3,87%, 3.749,63 pontos

Com reportagem de Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Julio Viana / Agência CMA.