Bolsa cai com influência da Petrobras e dólar avança em dia de baixa liquidez

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – Após oscilar entre altas e baixas mais cedo, o Ibovespa perdeu força e fechou em queda de 0,05%, aos 108.233,28 pontos, no último pregão do mês, refletindo as perdas das ações da Petrobras, em meio a fortes quedas dos preços do petróleo e incertezas sobre as negociações comerciais entre China e Estados Unidos. O dia também foi marcado por um volume negociado mais fraco, de R$ 14,1 bilhões, em função do funcionamento reduzido das Bolsas norte-americanas.

Na semana, que contou ainda com temores em relação a níveis recordes do dólar, o índice caiu 0,42%. Porém, em novembro, o Ibovespa acumulou ganhos de 0,95%, no terceiro mês seguidos de alta e fazendo o índice acumular ganhos de cerca de 23% no ano.

“Muitos fundos acabam ajustando carteiras e tivemos um pouco de volatilidade”, disse o gerente da mesa de operações da H.Commcor, Ari Santos, destacando que as ações da Petrobras, que têm grande peso no índice, impediram que ele subisse hoje.

Os papéis da Petrobras (PETR4 -1,28%) recuaram refletindo os preços dos contratos futuros de petróleo, que fecharam com perdas superiores a 5% pressionados pela combinação das incertezas comerciais e de produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e também pela valorização do câmbio. 

Já as maiores quedas do Ibovespa foram da Tim (TIMP3 -2,73%), da Ecorodovias (ECOR3 -2,17%) e da CCR (CCRO3 -1,77%). Na contramão, as maiores altas foram da Via Varejo (VVAR3 3,61%), em meio a expectativas positivas sobre a Black Friday, da Weg (WEGE3 3,36%) e do BTG Pactual (BPAC11 2,55%).

As bolsas norte-americanas também fecharam em leve baixa, embora com altas no mês, mostrando cautela devido às especulações em torno da influência que aprovação da lei de apoio a Hong Kong nos Estados Unidos possa ter nas negociações comerciais com a China.

Para dezembro, analistas seguem mantendo previsões otimistas para a Bolsa, com alguns ainda acreditando em um rali de fim de ano, que possa fazer com que o Ibovespa renove recordes históricos. No entanto, lembram que o cenário externo precisa colaborar, com a guerra comercial ainda no foco.

“Estou bastante otimista para dezembro, momentos de queda têm sido oportunidades de compra e pode vir um rali quando colhermos resultados positivos da Black Friday e vermos uma melhora de ações como as de bancos. Mantive a previsão de 116 mil pontos para o afim do ano”, disse o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino.

O dólar comercial fechou em alta de 0,59% no mercado à vista, cotado a R$ 4,2410 para venda, em dia de ajustes de fim de mês e após a forte queda no pregão de ontem, quando chegou ao nível de R$ 4,21. A liquidez reduzida nos Estados Unidos em reflexo de feriado e hoje, com o pregão encerrando os negócios mais cedo, corroboraram para a alta, antes do fim de semana.

“Depois de operar em forte queda na primeira parte da sessão, influenciado pela força dos vendidos na disputa [pela formação] da taxa Ptax de fim de mês, o dólar passou a subir, tentando acompanhar o movimento de seu par, o peso mexicano, no exterior”, comenta o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik.

Na semana marcada por patamares históricos, com o recorde intraday em R$ 4,2770 e três pregões seguidos de máxima alcançando o fechamento inédito de R$ 4,2580, a moeda estrangeira fechou valorizada em 1,12%. Na segunda-feira, os dados da balança comercial brasileira não agradaram ao mercado ao apontar déficit.

Ontem, o Ministério da Economia alegou erro nos cálculos de exportação e revisou os números para cima, passando para superávit no mês. Na sequência, o ministro da pasta, Paulo Guedes, disse que era preciso “se acostumar” com um dólar mais alto e um patamar de juros mais baixos no País.

“Os dados das contas externas geraram um ruído e o Guedes, uma figura importante como ele, gerou incertezas com as declarações”, avalia o economista da Tendências, Silvio Campos.

Diante disso, o Banco Central (BC) realizou quatro operações de venda de dólares no mercado à vista ao longo da semana, com a oferta de pelo menos US$ 4,0 bilhões. “O BC teve que mostrar toda a sua força e marcar forte presença para conter a escalada da moeda norte-americana”, comenta o analista da mesma corretora, Ricardo Gomes Filho.

Os níveis recordes do dólar refletiram vários eventos ao longo do mês como o “fracasso” dos leilões da cessão onerosa, em que havia uma ampla expectativa de participação estrangeira no arremate dos lotes e entrada de um fluxo intenso de dólares no País. O evento arrecadou R$ 69,9 bilhões, enquanto o governo federal esperava arrecadar R$ 106,5 bilhões. Com isso, a moeda teve alta de 5,65% em novembro.

“Foi um mês complicado. Os leilões da cessão onerosa foram o principal gatilho para piorar o patamar da moeda porque deram errado. Além disso, o fluxo segue negativo, a liquidez foi baixa em meio aos feriados aqui e nos Estados Unidos”, reforça Campos que acrescenta ver um cenário nebuloso para a moeda no curto prazo. “Mas não vejo mais motivos para subir mais”, diz.

Na próxima semana, começa o último mês do ano, marcado pela “tradicional” saída de dólares do País com as empresas remetendo lucros para as filiais, lembra o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer. “Mesmo que esse movimento já tenho começado”, diz. Com a agenda de indicadores carregada, os destaques estão com o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no terceiro trimestre, números da atividade industrial e fecha com inflação aqui e dados do mercado de trabalho norte-americano.

Para o encurtado mês, a grande expectativa do mercado fica com a guerra comercial no qual Estados Unidos e China podem ou não avançar nas tratativas comerciais e no dia 15, o governo norte-americano pode validar cobranças adicionais sobre produtos chineses. Para o economista da Tendências, um fracasso nas negociações entre os países pode levar a uma nova deterioração do dólar.