Bolsa cai com possível alteração na meta da inflação sugerida por Roberto Campos Neto

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda com os investidores temorosos de uma possível revisão na meta da inflação-para este ano é de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem criticado a meta por ser baixa.

Existem rumores de que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, esteja a favor dessa mudança. A preocupação com os juros nos Estados Unidos também foi um adicional para o pessimismo no Ibovespa.

As ações da Metalúrgica Gerdau (GOAU4) e Gerdau (GGBR4), que caíram 7,93% e 7,80%, ficaram entre as maiores quedas recomendação de corte do JP Morgan. O setor financeiro também teve queda expressiva, após forte alta da véspera e os investidores ficam no aguardo do balanço do Bradesco (BBDC3 e BBDC4), com o mercado fechado.

O principal índice da B3 caiu 1,76%, aos 108.008,05 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro perdeu 2,17%, aos 107.975 pontos. O giro financeiro foi de R$ 23,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, disse que o Ibovespa cai forte “com a possibilidade de Roberto Campo Neto ter sinalizado ao governo uma provável alteração na meta da inflação para 2023, sairia de 3,25% para 3,50%”. A mudança se daria na reunião do dia 16 do Conselho Monetário Nacional (CMN).

Alves explicou que diante desse cenário “as empresas domésticas são afetadas com juros altos, inflação mais elevada e economia desacelerando ’em prol’ do processo de desinflação por parte do Copom. Tudo isso tem incomodado e gerado duras críticas por parte do governo, que está de certa forma iniciando um processo de fritura do Campos Neto, colocando em xeque até a independência do Banco Central”.

Alison Correia, CEO da Top Gain, disse que o estresse na Bolsa é atribuído à tentativa do governo de fazer uma possível mudança na meta inflacionária. “O governo estaria forçando uma mudança inflacionária das metas de uma forma antecipada colocando em votação no dia 16; o governo é maioria contra RCN; A alteração seria algo muito preocupante pelo mercado uma vez que o governo já tem batido muito na taxa de juros, meta de inflação e autonomia do Banco Central”.

Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos, disse que o mercado está refletindo “um pouco de realização de lucro por conta do balanço de Itaú, notícias dos trâmites do STF julgando ações de algumas empresas, além de desaceleração econômica e o medo do Fed aumentar a taxa de juros para controlar a inflação por lá”.

O dólar fechou em alta de 1,44%, cotado a R$ 5,2700. A moeda refletiu, ao longo da sessão, os ruídos entre Lula e Banco Central (BC), impedindo que o real ganhasse terreno.

Segundo o sócio da Nexgen Felipe Izac, “o fator é muito mais interno do que externo, com as críticas de Lula que têm gerado uma tensão muito grande. É muito tóxico para a nossa moeda”.

Izac explica que a situação gera incertezas fiscais e políticas, o que afasta o investidor estrangeiro, causando fuga de capital e consequente desvalorização do real.

Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “estas tensões com o BC têm pesado no câmbio nos últimos dias. Apesar da melhora do ambiente lá fora, o real continua com um desempenho aquém na comparação com os pares emergentes”.

De acordo com o boletim da Mirae Asset, “o ambiente segue contaminado pela escalada na relação entre BC e Lula. Na leitura do diretor de política monetária do BC, Bruno Serra, o p patamar da Selic (taxa básica de juros) (taxa básica de juros) em 13,75%, dada a herança fiscal do governo anterior e o ativismo fiscal do atual, é ‘tecnicamente adequado’. Em evento no Rio, disse que estão ingressando muitos recursos para emergentes, que os estrangeiros veem oportunidades no Brasil e que está otimista com o câmbio”.

Serra ainda disse, sobre a independência do BC, que as acomodações as oscilações cambiais se devem ao BC autônomo e que a instituição “é de Estado, não de Governo”.

As taxas curtas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta. Isso reflete o cenário doméstico, que vê uma nova escalada da inflação, além do persistente risco fiscal.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,430% de 13,540% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,860%, de 12,830%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,955%, de 12,810%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,125% de 12,915% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 5,2680 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em queda já que as preocupações com o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e a futura política monetária continuam e superam qualquer empolgação em torno do último lote de lucros corporativos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,73%, 33.699,88 pontos
Nasdaq Composto: -1,02%, 11.789,6 pontos
S&P 500: -0,88%, 4.081,50 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Julio Viana / Agência CMA.