Bolsa cai com temor dos efeitos do coronavírus na economia

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – O Ibovespa caiu pelo segundo pregão seguido, com perdas de 1,23%, aos 113.770,29 pontos, refletindo a queda dos principais mercados acionários no exterior com investidores preferindo embolsar lucros diante das incertezas sobre impactos do coronavírus na economia mundial.

“A semana começou com um movimento de recuperação nas três primeiras sessões, mas, desde ontem, o Ibovespa voltou a piorar. A China ainda segue com cidades vazias, paradas, vimos até a interrupção de compras de proteínas brasileiras. É difícil estimar qual vai ser o impacto disso”, disse o analista da Toro Investimentos, João Freitas.

Em meio a preocupações com a China, as ações de frigoríficos ficaram entre os destaques de queda hoje, caso da JBS (JBSS3 -4,18%), depois de notícias de que as negociações para novos pedidos de carne brasileira por compradores chineses estão suspensas desde o Ano Novo em função do surto de coronavírus. Ontem, uma associação do setor de eletrônicos também já apontou que estão faltando componentes importados da China nas fábricas, o que pode afetar indústrias brasileiras.

As ações da Vale (VALE3 – 2,21%) e de siderúrgicas, como da Gerdau (GGBR4 -4,66%), também pesaram negativamente já que muitas exportam para a China e dependem dos preços do minério de ferro, negociado no país.

Entre as maiores quedas do Ibovespa ficaram as ações do IRB (IRBR3 -7,31%), da MRV (MRVE3 -5,07%) e da B2W (BTOW3 -4,95%).

Já entre as maiores ficaram estão as ações do setor financeiros, como do BB Seguridade (BBSE3 1,60%) e do Itaú Unibanco (ITUB4 1,29%), refletindo balanços que já foram divulgados e outros que devem ser divulgados na próxima semana.

Além das dúvidas sobre efeitos do coronavírus, analistas apontam que a taxa de juros mais baixa no Brasil reduz a atratividade de investidores estrangeiros, que seguem retirando recursos da Bolsa e pressionando ainda o dólar, que renovou seu recorde ao fechar em R$ 4,3220. “O mercado está um pouco pesado, os estrangeiros continuam fora e o mercado está meio sem rumo”, disse o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira.

Para Bandeira, será preciso novos gatilhos positivos para que a Bolsa volte a subir, como números melhores da economia doméstica, que na sua avaliação, ainda não mostrou tração.

O analista de investimentos da Clear Corretora, Rafael Ribeiro, lembra que a semana que vem será cheia na cena doméstica, “com os investidores ansiosos pela ata do Copom na terça-feira” depois da sinalização do fim do ciclo de corte de juros, além de aguardarem os dados de vendas no varejo e do setor de serviços.

“Além dos dados econômicos, vale destacar a temporada de resultados do quarto trimestre, com a semana começando com os números do Itaú após o fechamento do mercado”, disse em relatório. Já no exterior, também haverá dados como as vendas ao varejo e o desempenho da indústria norte-americanos.

O dólar comercial fechou em alta de 0,83% no mercado à vista, cotado a R$ 4,3220 para venda, renovando máxima histórica acima de R$ 4,30 pela primeira vez na história. A moeda bateu máximas atrás de máximas ao longo do dia acompanhando o exterior onde a divisa estrangeira ganhou terreno frente às principais moedas pares e de países emergentes. Na semana, a moeda se valorizou em 0,81%.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca a pressão altista do dólar no exterior influenciado pelo relatório de empregos dos Estados Unidos, o payroll, no qual apontou a criação de 225 mil vagas em janeiro. “O forte relatório ajudou a manter a força do dólar no mundo ao longo da sessão com a divisa registrando altas sequenciais”, comenta.

Sobre as máximas históricas, o economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito, ressalta que não é o real que está fraco e sim, o dólar que está forte. “Numa situação como essa, há pouco o que o Banco Central [BC] possa fazer a não ser deixar sangrar reservas, o que não nos parece ser o caso nem o desejo da autoridade monetária”, diz sobre a ausência de intervenções no mercado cambial.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, pondera que se observa um movimento de desvalorização do real junto com outras moedas. Diante disso, o Banco Central deverá ser “parcimonioso e esperar” mais um pouco antes de alguma atuação.

Perfeito acrescenta que em um cenário com déficit na balança comercial, juros no menor patamar da história e com a saída de investidores estrangeiros do mercado de ações brasileiro, será “crucial” observar a reação do BC. “Quando se trata de câmbio vale no geral aquela estratégia militar. Não se recua um exército nem tão rápido que pareça covardia, nem tão devagar que pareça provocação”, salienta.

No ano, o real é a segunda moeda que mais se desvalorizou frente ao dólar, 6,78% até o momento. Em contrapartida, o peso mexicano, moeda par da moeda local, tem valorização ao redor de 0,90%. Na esteira dos dados do payroll e da forte valorização da moeda norte-americana, a equipe econômica do Rabobank explica que ganhos mais recentes foram impulsionados por uma “onda” de dados da economia dos Estados Unidos melhores do que o esperado. “Na medida em que isso coincidiu com algumas decepções econômicas”, avaliam.

Na próxima semana, a agenda de indicadores mais pesada deverá contribuir para os rumos da moeda. Aqui, o destaque fica para a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) realizada nesta semana, no qual o mercado deve buscar justificativas para a decisão de promover o quinto corte seguido da taxa básica de juros (Selic) – a 4,25% ao ano, diz a equipe econômica do Bradesco.

Sobre os indicadores, as atenções se voltam aos números de vendas no varejo e de serviços, além do IBC-Br – números de dezembro – que devem dar uma visão “mais clara” sobre o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre, ressaltam os economistas do banco. Lá fora, tem os dados de atividade e de inflação nos Estados Unidos no mês passado.