Bolsa cai e dólar recua com temor de recessão nos Estados Unidos

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São Paulo- A Bolsa fechou em queda, perdeu mais de 2,3 mil pontos, seguindo o mau humor no exterior. O pessimismo se estende desde ontem com o temor de recessão nos Estados Unidos e piorou após a divulgação dos dados do mercado de trabalho americano (payroll, sigla em inglês) abaixo das expectativas.

O mercado espera por corte de 0,50 ponto porcentual (pp) nos juros da maior economia do mundo, em setembro. O Ibovespa acumula perdas de 1,28% pela segunda semana consecutiva.

O dia foi de queda da maioria das ações, à exceção do setor de consumo. Magazine Luiza (MGLU3) subiu 7,12% e Lojas Renner (LRNE3) avançou 3,53%, enquanto as blue chips despencaram.

Mais cedo foi divulgado relatório de emprego nos Estados Unidos referente ao mês de julho. Foram criaram 114 mil vagas de trabalho, abaixo da expectativa de 175 mil vagas. A taxa de desemprego cresceu para 4,3%, contra 4,1% esperado pelo mercado.

O principal índice da B3 caiu 1,20%, aos 125.854,09 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto recuou 1,06%, aos 126.310 pontos. A máxima no interdiário foi de 128.10,3,59 pts e a mínima de 125.730,94 pts. O giro financeiro foi de R$ 23,8bilhões. Em Nova York, as bolsas despencaram.

Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, disse que o Ibovespa acompanha o pessimismo externo com o temor de um hard landing nos EUA.

“O Ibovespa segue um pouco do reflexo lá de fora com a ótica de que os Estados Unidos podem estar se aproximando de uma recessão. A gente via um discurso de soft landing, um pouso suave, em relação à desaceleração da economia, mas isso pode estar se invertendo para um hard landing. Desde ontem vimos um certo nervosismo nos mercados, percebido pelo VIX- Indice do Medo- que vem trabalhando com altas seguidas. Com o payroll abaixo do esperado, acabou impulsionando um sell-off e com uma visão de que a gente possa ver cortes de juros de uma forma antecipada [pelo Fed]”.

Iarussi ressaltou o desempenho positivo das empresas cíclicas, mais sensíveis à curva de juros, com principal destaque para a Eztec, após o balanço do 2T24. A empresa apresentou um lucro líquido um pouco mais de 17% em relação ao período do ano passado, e anunciou a distribuição de dividendos.

Thiago Lourenço, operador de renda da Manchester, disse que a decisão e comunicado do Fed na quarta-feira (31) mostrou o Fed deveria ter agido de forma mais intensa em relação aos juros.

“O Fed está muito passivo, parece que está esperando alguma coisa grave para se movimentar. Apesar de terem mudado o discurso, com os dados de emprego e resultados mais fracos, faria sentido um corte de juros. O mercado acredita que deveria ser mais urgente. A pressão agora é para começaram a cortar 0,50pp já em setembro, porque acaba ficando muito distante do resto do mundo. O Banco da Inglaterra (BoE) cortou esta semana e países emergentes como o Brasil já fizeram isso. Agora a expectativa é quanto será o corte e não mais quando. Tem de observar as falas dos integrantes do Fed daqui pra frente”.

Mais cedo, Ubirajara Silva, gestor de renda variável independente, disse que a bolsa deveria estar caindo mais, mas o mercado demora um pouco para reagir. Em um primeiro momento mercado se anima com o mercado interno, dado a queda dos juros e depois cai na real e volta a vender tudo. O mercado é under em bolsa brasileira e comprado em bolsa americana. Quando tem um movimento muito grande lá fora, o mercado acaba zerando esse trade em um primeiro momento-vendem bolsa americana e compra a brasileira para zerar trade”.

O dólar comercial fechou a R$ 5,7092 para venda, com desvalorização de 0,44%, diminuindo a alta semanal para 0,92%. Às 17h20min, o dólar futuro para setembro tinha baixa de 0,78% a R$ 5.726,000. O Dollar Index, que mede o desempenho da moeda americana frente a uma cesta de unidades, tinha baixa de 1,15% a 103,22 pontos.

O dia foi de forte queda da moeda americana frente a seus pares. No Brasil, o dólar iniciou o dia em alta, ampliou a elevação após a divulgação do payroll e logo depois mudou de direção, com os players tentando entender a tensa movimentação dos mercados globais nesta sexta.

Os investidores locais estão preocupados com um cenário global mais desafiador e visualizando a possibilidade de recessão nos EUA.

Após o comunicado do Fed na quarta, quando decidiu manter os juros inalterados, quando a possibilidade de início do ciclo de cortes ficar praticamente encaminhada, dados de desempenho da economia americana preocuparam. Agora, os investidores ficam na expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) seja mais agressivo no corte de juros.

A ferramenta CME FedWatch, que rastreia a probabilidade de ajustes nas taxas de juros pelo Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), indicou uma mudança brusca na possibilidade de cortes de juros em 0,50 pontos percentuais na reunião de setembro.

Ontem, as expectativas estavam em 22%, e hoje saltaram para 60,50%. A mudança se deu depois da divulgação do payroll de julho.

Já para a reunião de novembro, subiu sensivelmente a possibilidade de corte de juros para 4,50% e 4,75%: de 20,95% de ontem para 49,30% hoje.

Marcos Weight, head de tesouraria da Travelex Bank, o mercado de câmbio está difícil e existe uma descorrelação com alguns ativos. ” “O mercado com medo do hard landing. O dólar subiu pela manhã, estourou a R$ 5,80. Depois do payroll fraco, as treasuyry e as bolsas despencaram e o real surfou nessa onda, mas aos poucos foi voltando. Outras moedas de emergentes estão mistas; o peso mexicano, por exemplo, está valorização mais de 1,70%; está tudo descorrelacionado. Aqui a bolsa cai, mas [Indice] small caps sobe. Quando olhamos para as moedas de países desenvolvidos, estão valorizadas frente ao dólar”.

Para Nicolas Borsoi, na discussão em relação ao dólar, a situação é mais complexa que juros e bolsas. “A reação do câmbio tende ser mais ambígua porque há duas forças fortes [atuando] em cima dele. A recessão [nos EUA como é a percepção do mercado] é altista para o dólar, mas a moeda já está muito valorizada ante o real. Por um lado, vai pedir um dólar mais alto e, por outro, a possibilidade de o Fed cortar mais juros beneficia o real porque o BC decidiu ficar parado [não cortar mais juros]. Se o Fed [banco central americano] for cortar juros mais que o esperado -0,50pp-o carrego fica mais atrativo”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) abriram e fecham em queda e estenderam as perdas, seguindo os Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano), após os dados do relatório de folhas de pagamentos não agrícolas (payroll, sigla em inglês) nos Estados Unidos abaixo do esperado, sugerindo uma recessão por lá.

Por volta das 16h45 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,560% de 10,680% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,255%, de 11,550%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,465%, de 11,800%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,615% de 11,940% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, após o payroll de julho mostrar uma desaceleração adicional no mercado de trabalho, alimentando preocupações de que a postura de taxa de juros “mais alta por mais tempo” do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) possa terminar em recessão.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,64%, 40,589.34 pontos
Nasdaq 100: -1,03%, 17,357.88 pontos
S&P 500: -1,11%, 5,459.10 pontos

 

Com Dylan Della Pasqua, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News