Bolsa cai e dólar sobe após Bolsonaro confirmar covid-19

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São Paulo – Após voltar a se aproximar dos 100 mil pontos ontem e fechar no maior nível em quatro meses, o Ibovespa interrompeu a sequência de quatro dias de alta ao fechar em queda de 1,18%, aos 97.761,04 pontos. Investidores embolsaram lucros em meio à confirmação de que o presidente Jair Bolsonaro está com coronavírus, a notícias negativas para os bancos e a um cenário externo mais cauteloso.

No fim da manhã, Bolsonaro confirmou que está com covid-19 depois de ter sentido sintomas da doença. Ministros que se reuniram com o presidente também estão fazendo testes.

“A confirmação de que o presidente está com covid-19 ampliou um pouco a volatilidade da Bolsa e do dólar. A Bolsa já vinha em queda, mostrando uma realização de lucros depois de bater a máxima em quatro meses ontem, então investidores aproveitam para embolsar lucros”, disse o diretor de operações da Mirae Asset Corretora, Pablo Spyer.

Além da saúde do presidente, as ações de bancos aprofundaram perdas mostrando uma realização de lucros mais forte após falas do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Segundo o analista da Guide Investimentos, Henrique Esteter, Maia comentou que projetos que propõe redução dos juros de cartão de crédito e do cheque especial ainda serão discutidos e que “taxas têm que acabar”.

As ações do Itaú Unibanco (ITUB4 -4,79%), do Santander (SANB11 -3,98%) e do Bradesco (BBDC4 -3,70%) ficaram entre as maiores perdas do Ibovespa, ao lado das da CVC (CVCB3 -6,79%), que mostrou erros contábeis piores do que o previsto inicialmente.

Por outro lado, as maiores altas do índice foram das ações de frigoríficos, como Marfrig (MRFG3 7,60%), da JBS (JBSS3 3,86%), além do Magazine Luiza (MGLU3 3,76%). Hoje, um relatório do Credit Suisse mostrou grande otimismo com a JBS, que deve apresentar seu melhor trimestre da história, o que puxou o setor como um todo.

Já no exterior, o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo, afirmou que os dados mais fracos do que o esperado pelo mercado da produção industrial da Alemanha ajudaram a inspirar maior aversão ao risco, assim como projeções piores de queda do Produto Interno Bruto (PIB) da União Europeia (UE) este ano.

Além disso, o aumento de casos de coronavírus nos Estados Unidos continua no radar. Vários estados norte-americanos continuaram a apresentar altas diárias de infectados, caso da Flórida, que reportou mais 7,3 mil doentes nas últimas 24 horas.

Apesar das preocupações na cena política local e no exterior, que mantêm volatilidade, o diretor da SRM Asset, acredita que o quadro ainda é favorável para a compra de Bolsa, com o índice podendo voltar a superar os 100 mil pontos esta semana. “O ambiente ainda é propício, com juros baixos e liquidez. Será importante o Ibovespa se estabelecer acima de 99 mil para consolidar uma tendência de alta”, disse.

A agenda de amanhã está mais esvaziada, mas investidores ainda devem acompanhar os dados dos estoques de petróleo nos Estados Unidos e as vendas no varejo no Brasil, além de continuar observando o avanço da pandemia.

O dólar comercial fechou em alta de 0,63% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3860 para venda, em mais um dia de forte volatilidade acompanhando o movimento negativo para as moedas de países emergentes, enquanto aqui, a confirmação do presidente Jair Bolsonaro de que um teste feito ontem deu positivo para a covid-19 corroborou para as fortes oscilações da moeda ao longo da tarde.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, ressalta que o dólar voltou a ter um dia de fortes oscilações e “grande amplitude”, ao operar na mínima de R$ 5,2900 e máxima de R$ 5,4010.

Ele destaca que a sessão foi pautada pela aversão ao risco na abertura dos negócios em função do ressurgimento do novo coronavírus nos Estados Unidos e pela previsão da União Europeia de que o Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro deve “sofrer um tombo” de 8,7% neste ano. “O que levou a moeda a trabalhar de forma pontual na casa dos R$ 5,40”, diz.

“Depois passou a registrar mínimas sucessivas com um fluxo de entrada de recursos estrangeiros, muito provavelmente, vindo das últimas captações corporativas”, reforça Rugik.

Porém, a confirmação de que o resultado do teste do presidente Bolsonaro deu positivo para o novo coronavírus fez a moeda oscilar acima de R$ 5,35. “Isso assustou um pouco os mercados”, acrescenta a equipe econômica do banco Fator.

Amanhã, em mais um dia de agenda de indicadores esvaziada, o noticiário e movimentos técnicos devem ditar o rumo dos mercados, aposta o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer. “O mercado está esquisito. Está subindo por motivos financeiros com a forte injeção de dinheiro pelos Bancos Centrais, descolado dos números da economia real”, avalia.