Bolsa cai e dólar sobe com aversão por surto do coronavírus

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São paulo – O Ibovespa fechou em queda de 1,65%, aos 114.586,24 pontos, acompanhando uma piora generalizada dos ativos em todo mundo tendo como pano de fundo a continuidade de incertezas em torno do surto de coronavírus. Na cena doméstica, alguns balanços negativos e realizações de lucros também pesaram sobre o índice.

Pela manhã, o índice operava apenas em leve queda, mas acompanhou o movimento externo visto no início da tarde, aprofundando perdas. Embora analistas não tenham encontrado um gatilho específico para a piora, citam a subida dos preços do ouro e os treasuries (títulos público norte-americanos) como os primeiros ativos a puxarem o agravamento dos mercados.

O analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, destaca que os mercados pioraram rapidamente sem grandes justificativas, mas com investidores ainda preocupados com impactos do coronavírus.

“Notícias pontuais sobre o coronavírus podem continuar afetando os mercados e as empresas começaram a falar que estão sentindo impactos. Investidores vão especular, não tem como ser herói nesse mercado, mas também podem aparecer algumas oportunidades”, disse ainda o economista-chefe da Codepe Corretora, José Costa. Mais cedo, a confirmação de mais mortes fora da China, com duas no Japão e uma na Coréia do Sul, já preocupavam investidores.

Entre as ações, os papéis da Petrobras (PETR3 -2,51%; PETR4 -2,06%) passaram a cair mais acompanhando o exterior e com investidores aproveitando para embolsar lucros, já que os resultados financeiros da estatal foram positivos no quarto trimestre. As ações de bancos também se fecharam em queda, com destaque para o Bradesco (BBDC3 -2,26%; BBDC4 -1,44%).

Já as maiores perdas do índice foram do Pão de Açúcar (PCAR4 -7,32%), da Ultrapar (UGPA -7,33%) e da Gerdau Metalúrgica (GOUA4 -7,39%) que refletiram balanços mais fracos do que o esperado pelo mercado. Na contramão, os maiores ganhos foram da Embraer (EMBR3 3,36%), da MRV (MRVE3 0,34%) e da Cyrela (CYRE3 0,44%)

Amanhã, o diretor de operações da Mirae Asset Corretora, Pablo Spyer, destaca que investidores devem ficar atentos a uma série de leituras preliminares dos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês), que serão divulgados nos Estados Unidos, Eurozona e Japão, podendo dar mais sinais de como a economia mundial está reagindo ao coronavírus.

A temporada de balanços também deve continuar no foco, com ações refletindo balanços como os da Vale, que será divulgado ainda hoje.

O dólar comercial fechou em alta de 0,61% no mercado à vista, cotado a R$ 4,3920 para venda, renovando pelo terceiro pregão seguido a máxima histórica de fechamento, além de engatar a quarta alta seguida. Ao longo da sessão, a moeda renovou máximas sucessivas até tocar o patamar inédito de R$ 4,4000.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, destaca que um movimento global de aversão ao risco impactou diretamente as moedas de países emergentes, desde o início dos negócios, resultando na forte apreciação do dólar com a percepção de risco com os efeitos do coronavírus na economia global.

“Aqui, o movimento foi potencializado por compras protecionistas por parte de tesourarias bancárias e players em decorrência do feriado prolongado, além da ausência do Banco Central (BC) no mercado”, comenta. O mercado financeiro ficará fechado na segunda e terça-feira e só voltará a operar na quarta, às 13 horas.

Amanhã, com a agenda de indicadores esvaziada, a moeda norte-americana tende seguir pressionado no cenário local.

“Por mais que a China anuncie estímulos monetários, dando inícios de que continuarão injetando liquidez no mercado, não será suficiente para eliminar a cautela com o coronavírus que prevalece no mercado. Até sai notícias que poderiam gerar alívio, mas o temor continua e pressiona o dólar”, diz o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti.