Bolsa cai e dólar sobe com dado industrial brasileiro fraco

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São Paulo – O pregão desta quinta-feira que antecede o feriado de Páscoa operou no território negativo, descolando do mercado externo. O índice abriu em ligeiro ganho na aposta de que o pacote trilionário de Biden para investimentos em infraestrutura pudesse alavancar os movimentos, mas a alta não perdurou por muito tempo.

Os investidores ficaram com as atenções voltadas para a queda de um indicador sobre a atividade industrial em março para o menor nível em nove meses – e com as preocupações em relação ao orçamento de 2021 e a pandemia de covid-19 no Brasil.

O Ibovespa fechou com retração de 1,18%, aos 115.253,31 pontos. De acordo com uma fonte, a Bolsa está no patamar entre 113 mil e 116 mil pontos há pelo menos três semanas. O volume financeiro foi de R$ 29,0 bilhões, maior que ontem-de R$ 26,0 bilhões.

Segundo o analista Regis Chinchila, da Terra Investimentos, o mercado não vai se posicionar antes do feriado e com o cenário complexo do País. “Os investidores estão assumindo uma postura de cautela pelo ambiente político, econômico e social”, disse Chinchila.

Pela manhã, os dados da Pesquisa Industrial Mensal (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade industrial no Brasil caiu em março para 52,8 pontos – o menor nível desde junho do ano passado -, de 58,4 pontos em fevereiro, segundo dados divulgados pelo instituto IHS Markit. A leitura, superior a 50 pontos, ainda aponta expansão na atividade do setor.

“No terceiro trimestre do ano passado, o desempenho da atividade industrial foi melhor porque tivemos o auxílio emergencial e o relaxamento das restrições em relação à pandemia”, enfatizou o analista Gustavo Bertotti, da Messem Investimentos

Ele acrescentou que “estamos no pior momento da pandemia, batendo recordes em mortes [ontem foram registrados 3.869 mortos em 24 horas, segundo o Ministério da Saúde, um novo recorde de óbitos em decorrência da doença], o plano da vacinação ainda é muito lento, somado a isso temos o orçamento de 2021 que está sendo reavaliado”.

Para o analista Régis Chinchila, da Terra Investimentos, os dados fracos da atividade industrial e as preocupações com o orçamento de 2021 contribuíram para esse mau humor na Bolsa. O Congresso aprovou um corte em despesas obrigatórias neste ano que precisará ser compensado com uma redução improvável nas despesas discricionárias. Caso contrário, haverá rompimento do teto de gastos. O orçamento ainda precisa ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro.

Outro fator que puxou a queda do índice foi a performance negativa das blue chpis, siderúrgicas e Qualicorp. Os papéis das siderúrgicas como Usiminas (USIM5), Gerdau (GGBR4) e Vale (Vale 3) fecharam em queda de 2,86%,2,77%, 0,59% respectivamente e os da Qualicorp recuaram 4,35%. Os papéis das blue chips, que têm grande peso no índice, como Bradesco (BBCD3 e BBDC4) perderam 3,44% e 3,66%; Itaú (ITUB 4) baixaram 3,04% e Brasil (BBAS3) caíram 1,64%.

O dólar comercial fechou em alta de 1,45% no mercado à vista, cotado a R$ 5,7110 para venda, em sessão de forte amplitude no primeiro pregão de abril, descolado do exterior, em movimento de correção após a forte queda ontem e cautela antes do feriado prolongado aqui e em boa parte do mundo. Na semana, a moeda recuou 0,51%.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, reforça o movimento de proteção que prevaleceu ao longo da sessão diante do quadro das incertezas que permeiam o mercado doméstico, como a “crise sanitária, incertezas relacionadas ao quadro fiscal, além da instabilidade institucional”.

Ele acrescenta que a divulgação do relatório de empregos dos Estados Unidos de março, o payroll, que será divulgado amanhã, corroborou para “uma certa dose de cautela” nos negócios. Apesar da cautela da véspera, o consultor da Amplla Assessoria em Câmbio, Alessandro Faganello, diz que, caso os números venham “fora da curva”, pode influenciar na taxa de câmbio na abertura dos negócios, na segunda-feira. Segundo o Termômetro CMA, deve haver a abertura de 635 mil vagas, enquanto a taxa de desemprego deve cair de 6,2% para 6,0%.

Para o economista da Suno Research, Gustavo Sung, o resultado de fevereiro da produção industrial brasileira ajudou no sentimento de proteção ao cair 0,7% na comparação com janeiro, ante expectativa de alta de 0,35%, conforme levantamento da Agência CMA. “O resultado veio aquém do esperado em reflexo do custo das matérias-primas influenciando a indústria com desabastecimento, queda no número de empregados, um custo alto”, diz;

Sung pondera que o imbróglio em torno do Orçamento de 2021 também segue no radar do mercado e tem contribuído para sustentar o patamar da moeda ao redor dos R$ 5,70. “A gente vê o câmbio desvalorizado, uma forte liquidez no mundo e alta das commodities. A janela está diminuindo para as reformas, elevando as incertezas, o risco fiscal e risco-país. Além das interferências políticas”, avalia.

A proposta orçamentária foi aprovada na semana passada e ainda não foi sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro. A equipe econômica da Capital Economics avalia que o presidente pode precisar vetar o Orçamento para “evitar uma violação das regras fiscais do país” e até uma paralisação dos serviços do governo.

Na próxima semana, o destaque na agenda de indicadores fica para os dados de inflação no Brasil, no mês passado, além de dados de atividade na China, Europa e nos Estados Unidos. Sai também a ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), no qual para a equipe econômica do Bradesco, o documento deverá reforçar a postura mais cautelosa da autoridade monetária, em um contexto de inflação ainda baixa, apesar da aceleração da economia esperada para os próximos meses em meio ao avanço da vacinação e o elevado grau de estímulos fiscais e monetários no país.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam perto das máximas da sessão, acompanhando a recomposição da taxa de câmbio um dia depois de o dólar ter registrado forte queda em relação ao real. Além do ajuste cambial, os investidores buscaram posições defensivas antes da paralisação da B3 para o feriado de Páscoa em meio a queixas da equipe econômica de que o Orçamento de 2021 tal qual aprovado pelo Congresso seria inexequível.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 fechou a semana com taxa de 4,625%, de 4,590% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 6,51%, de 6,39%; o DI para janeiro de 2025 ia a 8,20%, de 8,05% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,79%, de 8,69%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos encerraram o pregão em campo positivo depois do anúncio do pacote de estímulos do presidente norte-americano, Joe Biden.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,52%, 33.153,21 pontos

Nasdaq Composto: +1,76%, 13.480,10 pontos

S&P 500: +1,18%, 4.019,87 pontos