Bolsa cai e dólar sobe com dúvidas sobre fim da quarentena

866

São Paulo – O Ibovespa perdeu novamente o patamar dos 80 mil pontos e encerrou a sessão em queda de 1,49%, aos 79.064,60 pontos. Dúvidas sobre a reabertura das economias e a volta do temor com o não cumprimento do acordo comercial entre China e Estados Unidos, mas desta vez pelo lado do país asiático, trouxeram cautela aos investidores.

“Parece que existe uma dúvida no mercado geral sobre o afrouxamento das medidas de isolamento social. Como a Coreia do Sul e a China apresentaram reinfecção e volta dos casos de coronavírus, o temos é que isso possa acontecer também na Itália e países da Europa”, avaliaram os analistas do BTG Pactual durante “live” de fechamento dos mercados no canal do banco no “YouTube”.

Além disso, os especialistas destacaram que hoje representantes do governo chinês disseram para um jornal estatal do país, que estão querendo renegociar a primeira fase do acordo comercial com os Estados Unidos, já que o mesmo não é benéfico para o país asiático. “A China entende que os Estados Unidos não estão com força para fazer exigências neste momento de pandemia e querem rever o acordo”, explicaram.

Por fim, mas não menos importante, os investidores temem o vazamento do conteúdo da reunião ministerial com Jair Bolsonaro em que o ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, cita a tentativa de interferência do presidente no comando da Polícia Federal. “Além do vídeo, começaram os depoimentos de pessoas ligadas ao assunto, e sempre pode haver vazamento desse conteúdo”, afirmou um operador de mesa.

O dólar comercial fechou em alta de 1,28% no mercado à vista, cotado a R$ 5,8180 para venda, reagindo ao exterior mais avesso ao risco e ganhando terreno frente às moedas de países emergentes, além das incertezas com a política local. Perto do fechamento, a moeda caminhava para renovar a máxima histórica quando o Banco Central (BC) atuou no mercado futuro de câmbio levando o dólar a recuar.

Para o diretor da Correparti, Ricardo Gomes, a valorização da moeda foi reflexo das incertezas que tem permeado o país nas últimas semanas com o cenário político. “A mais polêmica diz respeito aos vetos do presidente [Jair] Bolsonaro ao aumento salarial do funcionalismo público para sancionar o projeto que socorre estados e municípios. Caso haja o veto, ele entra em rota de colisão com o Congresso”, comenta.

Ele acrescenta que, caso Bolsonaro não vete o projeto, poderá “demitir” o ministro da Economia, Paulo Guedes, que tem se manifestado “publicamente contrário” a aprovação do projeto. “Os investidores têm reagido com cautela diante o cenário nebuloso, e sem perspectivas de melhora no curto prazo, têm fugido do risco e se refugiando no dólar”, diz.

No fim da sessão, com a moeda flertando com novo recorde acima de R$ 5,8360 (máxima histórica de fechamento alcançada em 7 de maio), o Banco Central colocou no mercado US$ 500,0 milhões em contratos de swap cambial tradicional – equivalente à venda de dólares no mercado futuro.

Amanhã, na agenda de indicadores, o destaque fica para a ata da reunião na semana passada do Comitê de Política Monetária e dados do setor de serviços no mercado doméstico em março.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, a ata não deverá trazer novidades em relação ao comunicado divulgado após a reunião na quarta-feira, já sinalizando um possível corte de até 0,75 ponto percentual (pp) na próxima reunião, em junho. Enquanto dados deteriorados da economia brasileira refletindo os reflexos da pandemia já estão “no preço”.

Ainda na agenda, amanhã, o mercado deverá reagir ao índice de preços ao consumidor e ao produtor de abril na China e os preços ao consumidor norte-americano no mês passado. “Os números da China serão importantes para avaliar se começa uma recuperação, enquanto dos Estados Unidos devem trazer recuo intenso. Mas a política local e a possibilidade de uma nova onda de coronavírus na Ásia deverão pesar mais no preço”, destaca.