Bolsa cai e dólar sobe com exterior pesado e incertezas políticas

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São Paulo – O Ibovespa fechou em queda de 1,65%, aos 119.180,03 pontos, após cair mais de 2% no pregão desta segunda-feira e registrar a mínima no interdiário desde maio-de 118.683,65 pontos- com os dados fracos da China apontando uma desaceleração da economia do país. Somado a isso, a tensão no Afeganistão com o controle do grupo islâmico Taliban e a situação conturbada da política e dos riscos fiscais no Brasil.

As ações da Petrobras (PETR3 PETR4) foram impactadas com a queda do petróleo, e fecharam com recuo de 1,90% e 2,41%. Os papéis da Vale (VALE3) conseguiram reverter o movimento de baixa e encerraram com ligeira alta de 0,46% e das siderúrgicas tiveram queda expressiva. Vale ressaltar que as “novas entrantes” na Bolsa também caíram bastante na sessão de hoje.

Segundo Rodrigo Franchini, sócio e responsável pela área de produtos da Monte Bravo, houve diminuição de apetite ao risco para as bolsas com alguns indicadores da China que “mostraram que “tem que reprecificar esse crescimento chinês, talvez não seja como se achava. E, quando isso ocorre com a segunda maior economia do mundo, é necessário colocar novos preços dos ativos na Bolsa, ocasionando um ajuste nos portfólios globais”, comentou.

Com esse cenário, o mercado emergente é sempre impactado, “fica menos atrativo e depende de indicadores mais fortes vindos dos Estados Unidos e Europa para se recuperar”.

Mas, o sócio e responsável pela área de produtos da Monte Bravo enfatizou que temos um cenário interno muito mais problemático que os fatos internacionais.  “O País está entrando em um certame fiscal complicado, algumas casas já falam em uma projeção de Selic para o ano que vem acima de 8,5%, 9% e até 9,5%  por não saber até onde o modelo populista pode ir, a questão orçamentaria também pega pesado”.

Franchini destacou que  existem alguns indicadores econômicos domésticos que mostram evolução, como o setor de serviços, o IBC-Br, mas “tudo isso fica para atrás da cortina com a falhas das nossas instituições, briga entre executivo e judiciário impedindo que sejamos atrativos”.

Para a analista Larissa Quaresma, analista da Empiricus, a preocupação com o cenário político, a deterioração da inflação, das contas públicas e possível subida de juros “são ruins para a Bolsa, aumentam o custo de capital dos investidores, diminuem o preço justo das empresas e os investidores acabam ficando mais cautelosos com os ativos de risco”.

Para Leonardo Santana, analista da Top Gain, esse mau humor na Bolsa no pregão de hoje deve-se “aos dados econômicos frustrantes da China entre produção industrial e vendas no varejo e reforçado pelo quadro econômico global após o Taliban assumir o controle no Afeganistão em meio à retirada das tropas norte-americanas”.

Santana também comentou que o cenário político no Brasil “deixa o mercado mais arisco com incertezas em relação às ultimas afirmações de Bolsonaro de que vai pedir a instauração do processo de impeachment dos ministros do Supremo Tribunal Federal e essas dúvidas pairam no ar tanto no contexto micro como no macroeconômico”.

O analista da Top Gain disse que a semana é “turbulenta com bastante incertezas e o mercado oscilará muito”.

Por aqui, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos precatórios segue no radar dos investidores devido à importância para implementação do novo Bolsa Família, denominado Auxílio Brasil. O governo propõe o parcelamento dos precatórios cima de R$ 66 milhões e a preocupação dos investidores é quanto ao rompimento do teto de gastos.

O presidente Jair Bolsonaro segue atacando o Supremo Tribunal Federal (STF) e disse que vai entregar o pedido de impeachment ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) dos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.

O dólar comercial fechou a sessão em R$ 5,2810, com alta de 0,66%. Mais que os números da China, que vieram abaixo da expectativa, problemas internos como a tensão entre Judiciário e Executivo, assim como o risco de não cumprir as metas fiscais, foram preponderantes na alta da moeda norte-americana.

De acordo com o head de análise macroeconômica da Green Bay Investimentos, Flávio Serrano, “ainda há muitas incertezas sobre o que será feito com o teto de gastos, assim como a questão dos precatórios. Isso deixa o mercado mais sensível”.

Serrano destaca, porém, que o real tem sofrido menos que o esperado: “No ano passado, o dólar chegou a quase R$ 5,80 e houve uma correção. Com as taxas de juros maior, a balança comercial positiva e, até então, uma percepção de melhora fiscal, o dólar era para estar na faixa dos R$ 4,60. Mas tudo isso foi dissipado”, destaca Serrano.

Segundo a economista e estrategista do Banco Ourinvest, Cristiane  Quartaroli, “a semana vai ficar ligada à política interna, sobretudo às reformas e o novo bolsa família, de como eles conseguirão encaixar isso dentro do teto dos gastos. Também temos a questão dos precatórios”.

“Nos próximos dias e semanas o mercado deve ter muita volatilidade, isso também se deve à aproximação das eleições de 2022”, contextualiza Quartaroli, referindo-se a medidas com caráter eleitoreiro.

“Os dados piores da China criam certa aversão ao emergentes”, disse o economista-chefe da Necton, André Perfeito. A produção industrial chinesa cresceu 6,4% em julho, em comparação ao mesmo período do ano passado. Especialistas, porém, previam que este aumento fosse de 7,8%.

Além disso, no Brasil, “temos uma agenda política cheia, além do mal-estar político e a votação da reforma tributária e dos precatórios”, disse Perfeito. No fim de semana, em mais um desdobramento da crise entre o Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro anunciou que quer abrir um processo no Senado contra os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta, com os vencimentos mais longos perto das máximas do pregão, com os investidores reagindo à persistente tensão política em Brasília e à deterioração das expectativas para a economia em um dia no qual o exterior desfavorável afasta os participantes do mercado dos ativos de risco.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 6,620%, de 6,615% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,350%, de 8,345%; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,58%, de 9,39% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,02%, de 9,79%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado norte-americano de ações conseguiram se recuperar das perdas do início do dia e terminaram a primeira sessão da semana em alta, com o S&P 500 em novo recorde, graças aos resultados trimestrais das empresas. A exceção foi o Nasdaq, que não reverteu a tendência e fechou em baixa.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,31%, 35.625,40 pontos

Nasdaq Composto: -0,20%, 14.793,80 pontos

S&P 500: +0,26%, 4.479,71 pontos