Bolsa cai e dólar sobe com incertezas no Renda Cidadã

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São Paulo – O Ibovespa fechou com ligeira queda de 0,09%, aos 95.526,26 pontos, após mais um pregão volátil diante de incertezas sobre a situação fiscal doméstica. Mais cedo, o índice caiu com mais força reagindo ao cancelamento da apresentação do programa social Renda Cidadã e com temores sobre a prorrogação do auxílio emergencial. No entanto, mostrou uma melhora durante à tarde em meio a esperanças sobre alternativas para financiar o programa dentro do teto de gastos, além de refletir o tom mais otimista de Bolsas norte-americanas hoje.

A alta de ações de siderúrgicas e mineradoras, que tiveram recomendações positivas, também impediram o Ibovespa de engatar uma queda mais forte. O volume total negociado foi de R$ 25,1 bilhões.

Segundo operadores, reportagens com fontes na imprensa citam que o governo irá respeitar o teto de gastos ao financiar o Renda Cidadã. De acordo o jornal “Valor Econômico”, por exemplo, o governo estuda criar um fundo com recursos de privatizações para financiar investimentos e ação social, o que trouxe esperanças ao mercado.

As informações ajudaram a reduzir o pessimismo com o adiamento da apresentação do programa. Hoje, o senador Marcio Bittar (MDB-AC) confirmou que a proposta será apresentada na semana que vem, na busca por um consenso. Jornais de hoje cedo também trouxeram notícias sobre uma possível extensão do auxílio emergencial, o que foi negado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.

Diante de idas e vindas e da sinalização confusa do governo, o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino, destaca que ainda há muita incerteza e que promessas de Guedes não têm sido cumpridas. “Ninguém sabe ainda como e quando vai ser lançado o Renda Cidadã e o prazo que Guedes tinha dado para começar privatizações já venceu, isso começa a gerar uma desconfiança”, disse.

Nesse sentido, o fundador e o CIO da Chess Capital, Vicente Matheus Zuffo, também destaca a necessidade de uma sinalização mais clara sobre os planos do governo para investidores. “Uma extensão do auxílio emergencial, por exemplo, ficaria totalmente fora do teto de gastos e há uma incerteza entre os próprios agentes políticos, por isso que o mercado estressa rápido”, disse.

Já no exterior, as Bolsas norte-americanas subiram mais de 1% após o presidente Donald Trump afirmar que pressionará para que o Congresso estenda cheques de estímulos à população e tome medidas de ajuda a companhias aéreas, em uma espécie de “mini pacote”. Ontem, Trump rejeitou a última proposta e suspendeu as negociações entre democratas e republicanos sobre um pacote de ajuda fiscal mais amplo, o que fez Bolsas caírem.

As maiores quedas do Ibovespa fora das ações do IRB Brasil (IRBR3 -10,32%), CVC (CVCB3 -5,75%) e Cielo (CIEL3 -5,35%). Na contramão, as maiores altas foram da Gerdau Metalúrgica (GOUA4 3,18%), Gerdau (GBBR4 3,27%), da Usiminas (USIM5 3,19%) e da Vale (VALE3 2,88%). Os papéis avançaram após o Bradesco BBI elevar a recomendação da Gerdau para compra, com uma visão mais otimista sobre as siderúrgicas, que estão conseguindo emplacar aumentos de preços de aço, além de ver um cenário melhor para o minério de ferro.

Na agenda de amanhã, investidores devem ficar atentos aos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos e aos dados de vendas no varejo no Brasil. Além disso, a questão fiscal deve continuar no radar. Para o analista do Daycoval, o patamar de 97 mil pontos tem sido uma nova resistência a ser vencida pelo Ibovespa, que pode ficar em torno dos 95 mil pontos enquanto não houver maior clareza sobre intenções do governo.

O dólar comercial fechou em alta de 0,44% no mercado à vista, cotado a R$ 5,6230 para venda, em sessão de forte volatilidade, sustentado pelas incertezas do mercado doméstico em relação ao cenário fiscal do país e ao programa Renda Cidadã, após a apresentação da proposta ser adiada para a semana que vem.

Enquanto lá fora foi dia de procura por risco, após o impacto de ontem com a declaração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que as negociações para a aprovação de um pacote de estímulo fiscal no país estão suspensas até as eleições presidenciais, em 3 de novembro. O que levou a moeda a operar nas mínimas de R$ 5,55.

Porém, no fim da manhã, a moeda passou a renovar máximas sucessivas ao redor de R$ 5,64, após o senador Márcio Bittar, também relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC Emergencial), declarar que a apresentação da proposta do programa Renda Cidadã havia sido transferida para semana que vem enquanto “buscavam um consenso”.

“Investidores foram em busca de proteção em meio ao desconforto com o quadro fiscal brasileiro e pela informação de que o governo estaria estudando estender novamente o auxílio emergencial até o ano que vem, o que foi prontamente desmentido pelo ministro [da Economia] Paulo Guedes”, comenta o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik.

À tarde, a moeda operou de lado aqui, oscilando entre R$ 5,60 e R$ 5,62, e no exterior, ao passo que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) divulgou a ata da última reunião de política monetária, realizada no mês passado.

Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, a autoridade monetária renovou o compromisso de apoiar a atividade econômica dos Estados Unidos, além de ressaltar os riscos da recuperação do país diante a possibilidade de não ter mais estímulos fiscais por parte do governo federal.

“A maioria dos analistas estava presumindo que um pacote fiscal adicional relacionado à pandemia seria aprovado este ano e observaram que, na ausência de um novo pacote, o crescimento poderia desacelerar em um ritmo mais rápido do que o esperado no quarto trimestre”, diz o documento.

Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, o mercado local seguirá atento às declarações do governo federal e desdobramentos em torno do programa Renda Cidadã, o que vem alimentando forte volatilidade no movimento dos ativos locais e as incertezas dos investidores preocupados com o risco fiscal do país.

Hoje, tem o debate entre os candidatos à vice-presidência dos Estados Unidos. Será o primeiro encontro entre Kamala Harris, vice do candidato Joe Biden, e Mike Pence, atual vice-presidente de Donald Trump, que tenta a reeleição.

“A gente tem que prestar nesse debate que, de repente, pode ajudar a dar um viés para o mercado amanhã. Mas vejo que a tendência é de um dólar um pouco mais forte com a proximidade da eleição norte-americana”, avalia a economista da Veedha.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão sem um rumo único, com os vencimentos curtos e intermediários apagando o sinal positivo visto desde a abertura e fechando em baixa, enquanto os vértices mais longos ficaram com leves altas. O movimento

acompanhou o dia de volatilidade nos demais ativos locais, com os investidores monitorando o noticiário vindo de Brasília, em meio aos crescentes riscos fiscais, diante das dúvidas sobre as formas de financiamento do Renda Cidadã.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,27%, de 3,35% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,77%, de 4,82% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,66%, repetindo o ajuste da véspera; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,58%, de 7,55%, na mesma comparação.

O presidente norte-americano, Donald Trump, foi o responsável pelos fortes ganhos de hoje em Wall Street ao sinalizar que está disposto a apoiar alívio independente a covid-19, compensando as fortes perdas do dia anterior, quando ordenou a suspensão das negociações sobre estímulos. O resultado da mudança de tom foi de novas máximas dos principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +1,91%, 28.383,46 pontos

Nasdaq Composto: +1,88%, 11.364,59 pontos

S&P 500: +1,74%, 3.419,44 pontos