Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira
São Paulo – Após renovar seus recordes históricos ontem, o Ibovespa encerrou em queda de 1,54%, aos 117.026,04 pontos, refletindo a preocupação de investidores com a confirmação de novos casos do coronavírus, com destaque para o primeiro caso nos Estados Unidos. Mais cedo, os principais mercados acionários já caíam refletindo temores em relação à disseminação do vírus na China e o receio de impacto na economia do país. O volume total negociado foi de R$ 22,2 bilhões.
Para o analista da Necton Corretora, Glauco Legat, houve uma pausa no otimismo no exterior “em meio ao alarde com novos casos do vírus, principalmente na ausência de outros fatos novos”. Ele acredita que há um risco do vírus se espalhar principalmente em função do Ano Novo chinês, que começa no sábado (25) e quando há grande número de viagens.
A confirmação, pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, do primeiro caso de contaminação pelo vírus, que causa uma pneumonia potencialmente fatal, fez o índice acelerar quedas. Segundo agentes de saúde chineses, quatro pessoas já morreram da doença no país. Também foram reportados outros casos, como na Coréia do Sul, Japão e Tailândia.
Entre as ações, as da Vale (VALE3 -2,31%) e de siderúrgicas, como da Gerdau Metalúrgica (GOAU4 -3,13%), pesaram negativamente refletindo as preocupações em relação à China, grande consumidora de minério de ferro e aço. Além disso, as ações da Vale aceleraram perdas depois que o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) fez uma denúncia contra a mineradora e 16 pessoas em função do rompimento da barragem de Brumadinho, que ocorreu há um ano. Segundo procuradores, a empresa promoveu uma “ditadura corporativa”, ocultando informações de órgãos públicos.
Os papéis de bancos, com grande peso no índice, também aprofundaram baixas, caso do Bradesco (BBDC4 -3,33%) e do Santander (SANB11 -4,93%), que ficou entre as maiores perdas do Ibovespa. Ainda entre as maiores quedas do índice ficaram as ações da Hering (HGTX3 -12,11%), que mostrou dados operacionais piores do que o esperado pelo mercado.
O dia ainda foi negativo para o setor aéreo, caso da Gol (GOLL4 -3,25%), que sentiu a alta do dólar, o que afeta custos das companhias do setor e os temores sobre o coronavírus.
Na contramão, as maiores altas foram da Braskem (BRKM5 3,57%), da Tim (TIMP3 2,58%) e da RD (RADL3 4,69%). As ações da Tim refletiram a elevação de recomendação feita pelo Credit Suisse.
Amanhã, analistas destacam que investidores devem continuar a acompanhar o surto do coronavírus e seus possíveis impactos, principalmente, em meio à ausência de indicadores e outras notícias. “Precisam vir fatos novos para que o Ibovespa volte a subir com mais força, os próximos balanços corporativos serão importantes”, disse Legat, lembrando que a temporada de balanços começa na semana que vem.
O dólar comercial fechou em alta de 0,42% no mercado à vista, cotado a R$ 4,2080 para venda, no maior patamar do ano e no maior valor desde 2 de dezembro quando a moeda encerrou a sessão a R$ 4,2180. O receio de investidores em meio ao surto de uma doença ainda desconhecida na China levou os mercados a operarem negativos, acelerando as perdas após a confirmação do primeiro caso no Estados Unidos.
A moeda operou em alta por praticamente todo o pregão, renovando máximas sucessivas na reta final dos negócios, a R$ 4,2130 (+0,55%), após a confirmação do primeiro caso de coronavírus nos Estados Unidos.
“O motivo pela busca da moeda norte-americana recaiu, sobretudo, pelos temores relacionados ao possível alastramento do coronavírus na China, especialmente, às vésperas do feriado do ano novo do país asiático e consequente, a ida de milhões de chineses para outros países”, comenta o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho.
Na China, o surto da doença ainda desconhecida já provocou a morte de seis pessoas e mais de 300 já foram infectadas. O que refletiu em forte aversão ao risco, levando as principais bolsas de ações no mundo à forte desvalorização. Segundo analistas, investidores estão cautelosos tendo em vista os potenciais impactos nas atividades do país.
Paralelamente, os mercados acompanharam os desdobramentos do Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, no qual participa o ministro da Economia, Paulo Guedes. O evento deverá ficar no radar amanhã, que também conta com a participação do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“O viés segue de alta atento à Davos, com as declarações que podem surgir por lá, e ao evento recente na China. Os gráficos indicam uma correção da moeda nos próximos dias”, diz o analista da Toro Investimentos, Lucas Carvalho. A moeda estrangeira já mostra valorização de 4,8% nas primeiras semanas de 2020, o que representa alta ao redor de R$ 0,20.