Bolsa cai e dólar sobe com possível saída de Paulo Guedes

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São Paulo – Embora tenha reduzido um pouco as perdas perto do fechamento, o Ibovespa caiu 1,73%, aos 99.595,41 pontos, mostrando uma forte correção puxada principalmente pelas ações de bancos, em meio a especulações sobre a possível saída do ministro da Economia, Paulo Guedes, e receio sobre o não cumprimento do teto de gastos. As preocupações locais fizeram o índice se descolar de Bolsas no exterior e voltar a níveis de mais de um mês atrás, no menor patamar de fechamento desde o dia 13 de julho (98.697,06 pontos).

O volume total negociado foi de R$ 45,4 bilhões, incluindo o exercício de opções sobre ações, que movimentou R$ 12,8 bilhões, e também trouxe volatilidade.

“Há muitos rumores sobre a saída de Guedes. Se ele sair a correção pode ser grande, é um gatilho para vendas e poderíamos ir em direção aos 90 mil pontos”, disse o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila.

Após a debandada vista na equipe econômica na semana passada, com a saída de mais dois secretários, e com notícias de que o governo prepara um pacote de R$ 5 bilhões em investimentos de infraestrutura, aumentou a incerteza sobre a agenda liberal do governo e a continuidade de Guedes no cargo. Hoje, o ministro tinha duas reuniões previstas na agenda com o presidente Jair Bolsonaro.

O sócio da Criteria Investimentos, Vitor Miziara, também destaca que há muitas especulações sobre a saída de Guedes, com base no noticiário dos últimos dias, mas que não há novidades, embora reconheça “a pressão por aumento de gastos depois que o presidente teve um aumento da sua aprovação”. Bolsonaro voltou a mostrar um aumento da sua popularidade nas últimas pesquisas divulgadas, inclusive em regiões como o Nordeste.

Entre as ações, as de bancos, que têm grande peso no índice, fecharam com fortes quedas, caso do Itaú Unibanco (ITUB4 -2,38%). Já as maiores quedas do Ibovespa foram da Hering (HGTX3 -8,33%), da Eletrobras (ELET3 -6,66%; ELET6 -5,16%) e da Gol (GOLL4 -6,04%). Os papéis da estatal de energia têm sofrido com analistas vendo mais dificuldade para a sua privatização desde a saída do secretário de privatizações, Salim Mattar.

Na contramão, as maiores altas do índice foram de frigoríficos e outras ações ligadas a commodities, que subiram em meio a balanços melhores do que o previsto e estímulos na China, que é maior consumidora de commodities do mundo. É o caso da Marfrig (MRFG3 5,37%), da JBS (JBSS3 2,53%) e da Klabin (KLBN11 2,10%).

Na agenda de amanhã, há poucos indicadores previstos, mas investidores devem continuar de olho nas negociações sobre o pacote de estímulos nos Estados Unidos, conforme as eleições norte-americanas se aproximam. Além de, na cena local, as atenções estarem voltadas para os próximos passos de Guedes e a questão fiscal.

Na máxima do dia o dólar comercial chegou a ser negociado a R$ 5,5150 (+1,54%), patamar visto pela última vez em maio deste ano. Isso só foi possível após rumos de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, deixaria o governo por divergências na questão fiscal do país. Também foi citado como motivo para sua saída do cargo a debandada de secretários da pasta. Ao final da sessão, o dólar comercial encerrou em alta de 1,19%, sendo negociado a R$ 5,4960 para venda.

“Hoje foi um dia muito complicado para todos os mercados. Isso não é uma exclusividade nossa, já que lá fora o impasse nos Estados Unidos para resolver o pacote de ajuda também não está caminhando. O problema por aqui é que o mercado deposita muita confiança no Guedes e uma possível saída dele pode enfraquecer essa confiança”, explicou um especialista em câmbio de um grande banco.

O subsecretário de Política Macroeconômica, Vladimir Kuhl Teles, deixou o cargo “a pedido”, segundo informações divulgadas no Diário Oficial. Recentemente, alguns membros da equipe econômica deixaram seus cargos e isso, junto com a admissão pelo presidente Jair Bolsonaro de que o governo avalia propostas para retirar do teto de gastos algumas despesas sociais e de infraestrutura, gerou receios de que o ministro Paulo Guedes estaria perdendo espaço no Planalto.

Na semana passada, os secretários especiais de Desestatização e Privatização, Salim Mattar, e de Desburocratização, Gestão e Governo Digital, Paulo Uebel, pediram exoneração dos cargos. Em nota, o ministério disse na ocasião que “ambos reiteram seu apoio ao presidente Jair Bolsonaro, ao ministro Paulo Guedes e ao Ministério da Economia na execução de políticas públicas tão relevantes ao país.”

Mais cedo, outros analistas também destaram as questões envolvendo a retomada do crescimento de casos de coronavírus em alguns países da Europa, alertando para o Brasil um possível retorno de um isolamento mais forte do que está acontecendo atualmente.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta firme, principalmente no trecho mais longo da curva a termo. Os investidores mostraram maior demanda por prêmio de risco, diante das crescentes preocupações com a questão fiscal e dos ruídos políticos envolvendo o ministro da Economia, Paulo Guedes. O movimento acompanhou a piora dos demais ativos locais, que também passaram a embutir esses riscos nos preços.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,83%, de 2,80% no ajuste anterior, ao final da semana passada; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,06%, de 4,01% após o ajuste na última sexta-feira; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 5,95%, de 5,81%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,99%, de 6,83%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram a primeira sessão da semana sem uma direção definida, com poucos catalisadores impulsionando os investidores, já que a temporada de balanços nos Estados Unidos está chegando ao fim e um acordo sobre novos estímulos parece longe de se concretizar.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,31%, 27.844,91 pontos

Nasdaq Composto: +1,00%, 11.129,72 pontos

S&P 500: +0,27%, 3.381,99 pontos