Bolsa cai e dólar sobe com temor por segunda onda do coronavírus

861

São Paulo – O Ibovespa encerrou em queda de 2,19%, aos 102.507,01 pontos, em meio a crescentes temores sobre a segunda onda da pandemia de coronavírus nos Estados Unidos e na Europa. O receio se somou às declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, acerca da necessidade de novas medidas fiscais e monetárias para conter os riscos trazido pela covid-19.

Além dos alertas de Powell, outros presidentes de bancos centrais falaram sobre o assunto e as falas do ministro da Economia, Paulo Guedes, também inspiraram cautela sobre a situação doméstica, com a possibilidade de extensão do auxílio emergencial. O volume total negociado foi de R$ 33,7 bilhões.

Para o sócio e responsável pela área de produtos da Monte Bravo Investimentos, Rodrigo Franchini, os debates e alertas de presidentes de bancos centrais e de Guedes evidenciam que ainda há muitas incertezas no cenário. Ele lembra que na Europa, “lockdowns” em novembro vão impactar a economia e que nos Estados Unidos ainda pode demorar para sair um pacote de estímulos em meio à transição na Casa Branca.

“Nos últimos dias tivemos um oba oba após a vitória do Joe Biden nas eleições nos Estados Unidos, foi um movimento de alta importante, mas pode ser sido exagerado, pois ainda temos problemas estruturais para serem resolvidos e se não tivermos medidas poderosas as coisas vão ficar mais difíceis”, disse.

O sócio da DNAinvest, Leonardo Ramos, também lembra que a alta recente foi forte. “As Bolsas já estavam esticadas este mês, só aqui o Ibovespa já tinha subido 12% no mês, é normal que ocorram realizações de lucros. A segunda onda da pandemia preocupa”, disse, embora acredite que as medidas de restrição social não devem ser iguais às vistas na primeira onda.

Além de países europeus mostrarem um recrudescimento da situação e já terem tomado medidas de restrição, os Estados Unidos registraram um novo recorde de casos diários de covid-19, com avanço de 144 mil infecções, e as hospitalizações seguem aumentando no país. Há receio de novos estragos na economia global antes de uma vacina começar a ser amplamente distribuída.

Neste contexto, Powell afirmou que há preocupação pelo risco de danos do coronavírus na economia no longo prazo, além de voltar a dizer que em algum momento o Fed terá que agir novamente e que o Congresso norte-americano precisará fazer mais. A presidente do BCE, Christine Lagarde, esteve presente no mesmo evento de Powell e fez declarações no mesmo sentido, embora não tenha detalhado quais podem ser as novas medidas a serem adotadas.

Na cena doméstica, investidores ainda digerem declarações do ministro da Economia, que disse que pode ser necessário mais apoio à economia e extensão do auxílio emergencial caso uma segunda onda ocorra no Brasil. Porém, disse que o governo gastaria menos do que na primeira onda, tentando minimizar receios sobre a situação fiscal. Além disso, tentou tranquilizar temores sobre um possível aumento da inflação e fez comentários sobre a reforma tributária, reiterando que quer taxas dividendos.

Com isso, as ações de bancos, como as do Bradesco (BBDC4 -3,94%), e as da Petrobras (PETR4 -4,23%), que têm grande peso no índice, fecharam com fortes perdas. Já as maiores quedas do índice foram da Azul (AZUL4 -6,37%), Gol (GOLL4 -5,92%) e da Via Varejo (VVAR3 -5,73%).

Amanhã, além de continuar a monitorar a situação da pandemia, investidores ficarão atentos aos dados do PIB da zona do euro, ao índice confiança do consumidor nos Estados Unidos e ao índice de atividade (IBC-Br) no Brasil.

O dólar comercial fechou em alta de 1,19% no mercado à vista, cotado a R$ 5,4840 para venda, no maior valor de fechamento em uma semana, em dia de forte oscilação da moeda estrangeira seguindo o exterior mais avesso ao risco em meio à cautela com o avanço da covid-19 nos Estados Unidos e influenciado pelo reajuste no mercado de ações. Na reta final dos negócios, declarações dos presidentes dos Bancos Centrais dos Estados Unidos e da Europa elevaram a aversão ao risco.

“Os temores renovados em relação ao constante avanço da pandemia do novo coronavírus pelo mundo deram sustentação a esse movimento [de alta]”, diz o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho, em meio às renovações de recordes de casos de contaminação nos principais países europeus e nos Estados Unidos.

Ele destaca que o avanço da moeda na segunda parte dos negócios reagiu aos pronunciamentos dos presidentes do Fed, Jerome Powell,  e do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, no qual deixaram claras as preocupações das autoridades monetárias em relação à segunda onda de covid-19 sobre as economias.

Powell voltou a afirmar que a economia norte-americana precisará de apoio monetário e fiscal adicional para superar os desafios da pandemia do novo coronavírus. Já Lagarde reiterou que as políticas monetária e fiscal devem continuar apoiando a economia. Porém, há “menos incertezas em várias frentes”, principalmente, em relação ao avanço de vacinas.

“A vacina reduz alguma incerteza”, disse, porém, ponderou que apesar de ser uma notícia positiva, “não é hora de ser exuberante”, uma vez que resultados mais completos sobre a eficácia do medicamento serão concluídos no ano que vem. “Incertezas permanecem sobre logística de transporte, fabricação, número de pessoas que serão vacinadas em 2021”, declarou a presidente do BCE.

O economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, avalia que o movimento da sessão também foi um reajuste após os ganhos recentes do real. “Não tem como o dólar se sustentar nos níveis abaixo de R$ 5,30, R$ 5,35 sem sinalização positiva do [nosso cenário] fiscal”, diz.

Ele acrescenta que o mercado também pode estar antecipando um movimento de proteção diante as declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, no fim da manhã, no qual considera continuar com o pagamento do auxílio emergencial caso o Brasil tenha uma nova onda de contaminação por covid-19, já que a grande preocupação do mercado é com o teto de gastos, além do orçamento – ainda não aprovado – para 2021.

“Os receios de um abalo fiscal ainda maior que o esperado, com a forte possibilidade de extensão do auxílio emergencial, contribuiu para a busca por ativos porto seguro como o dólar”, acrescenta o analista da Correparti.

Amanhã, o destaque na agenda de indicadores fica para a leitura preliminar do PIB da zona do euro no terceiro trimestre. Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, a reação dos mercados vai depender do resultado do indicador.

“Se o dado vier muito ruim, aumenta a pressão para o BCE aumentar afrouxamento monetário em meio à segunda onda de covid-19 por lá. Mas não deve vir uma sinalização instantânea”, diz. Ela reforça que, na ausência de notícias no âmbito fiscal doméstico e sobre vacinas, o movimento da moeda tende a ser “mais do mesmo” exibido ao longo da semana com forte oscilação.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta, principalmente no trecho longo, após abrirem o pregão em queda, com a mudança de trajetória da curva a termo sendo influenciado pelo tradicional leilão de títulos públicos do Tesouro e pela piora do apetite por risco, em meio às preocupações com os impactos econômicos da segunda onda de contágio do coronavírus nos Estados Unidos e na Europa.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,38%, de 3,41% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,98%, de 4,95% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,75%, de 6,69%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,56%, de 7,48%, na mesma comparação.

O aumento de casos de covid-19 e o anúncio de medidas mais restritivas pressionaram os principais índices do mercado de ações norte-americano, que terminaram o dia em queda. O Dow Jones recuou mais de 300 pontos, enquanto o S&P 500 registrou a sua pior performance em um mês.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -1,08%, 29.080,17 pontos

Nasdaq Composto: -0,65%, 11.709,58 pontos

S&P 500: -0,99%, 3.537,01 pontos