Bolsa cai e dólar sobe com turbulência na América Latina e crise política

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – Os ruídos na cena política local, com a saída de Bolsonaro do PSL, e as turbulências na América Latina fizeram o Ibovespa encerrar em queda de 1,49%, aos 106.751,11 pontos, no menor patamar de fechamento desde o dia 21 de outubro (106.022,28 pontos). O volume total negociado foi de R$ 18,8 bilhões.

“A disputa entre Bolsonaro e PSL no Brasil em meio a turbulências em outros países da América Latina ajudam na queda de hoje”, disse o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, embora veja a variação como exagerada.

O presidente Jair Bolsonaro teria dito a deputados que está saindo do partido para criar uma nova sigla, trazendo incertezas sobre como ficará a maior bancada da Câmara até o momento.

Mais cedo, declarações do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que disse a jornalistas que estaria disposto a fazer uma nova Constituinte, em meio a perguntas sobre a proposta para garantir a prisão de condenados em segunda instância, também chegaram a causar algum ruído.

Além das dúvidas sobre a política doméstica, o cenário nos nossos vizinhos também traz preocupação, já que o peso chileno teve forte queda frente ao dólar em meio a continuidade de protestos no país e também propostas de mudanças na Constituição. A Bolívia é outro país que segue em um impasse após a renúncia de Evo Morales, que foi para o México como refugiado político. Há receio de aumento da saída de investimentos da região diante das turbulências.

“O Brasil tem uma posição melhor do que a dos nossos vizinhos tanto em números macro como em perspectiva com agenda de reformas, mas certamente para investidores estrangeiros estamos na mesma cesta, se eles têm que reduzir exposição na América Latina por risco geopolítico nós acabamos sentindo”, disse o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo.

Os conflitos na região ainda fizeram o índice se descolar das bolsas norte-americanas, que fecharam sua maioria em alta após discurso do presidente norte-americano, Donald Trump.

Entre as ações, as de bancos pesaram negativamente hoje, caso dos papéis do Bradesco (BBDC4 -0,93%) e do Itaú Unibanco (ITUB4 -1,70%). Já as maiores perdas do índice foram da CVC (CVCB3 -6,29%), que sente a alta do dólar, da Cosan (CSAN3 -4,39%) e da Eletrobras (ELET3 -4,04%), que divulgaram balanços trimestrais.

Na contramão, as maiores altas foram da Taesa (TAEE11 1,10%), da Energias do Brasil (ENBR3 1,28%) e da Gerdau (GGBR4 0,33%).

Amanhã, na agenda local, investidores devem observar as vendas no varejo, enquanto no exterior devem ser observados dados da China, como da produção industrial e vendas no varejo, além de o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, ter discurso previsto para às 13h no Congresso norte-americano.

O dólar comercial fechou em alta de 0,62% no mercado à vista, cotado a R$ 4,1680 para venda, devolvendo toda a queda registrada ontem após subir três pregões seguidos, influenciado pelo viés de cautela dos investidores à espera do discurso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre o andamento do acordo comercial com a China, enquanto a forte desvalorização do peso chileno, em meio aos conflitos políticos no país, contaminou moedas da América Latina.

“Eu acho que o movimento está um pouco exagerado, mas entendo a cautela do mercado. Desde o fracasso dos leilões do pré-sal na semana passada, passando pelas questões políticas internas e as turbulências na América Latina que explicam esse mau humor”, comenta o economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos.

No fim da manhã, além do cenário externo, ruídos na política local ajudaram a moeda a renovar máximas sucessivas perto de R$ 4,19, após o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, declarar a jornalistas que não descarta a possibilidade de o Congresso discutir uma nova Constituição Federal.

O diretor da Correparti, Jefferson Rugik, destaca um movimento técnico após a elevação da moeda “Acabou atraindo um movimento de venda por parte dos exportadores e de investidores estrangeiros”, destaca. A declaração foi dada como “ironia” pela assessoria de imprensa do parlamentar. “Mas não deixou de trazer mais instabilidade para a política local”, comenta o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti.

Trump não trouxe informações novas a respeito de um acordo preliminar, chamado de “fase 1”, porém, deixou o mercado mais tranquilo ao afirmar que um acordo será assinado “em breve”, sem adiantar data e detalhes sobre o documento.

Amanhã, na agenda de indicadores, tem os dados do varejo no Brasil e o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), além do discurso do presidente do Fed, Jerome Powell. “Amanhã será importante avaliar o Powell, mesmo que a pausa no afrouxamento monetário já sinalizada reduza um pouco da importância do Fed nesse momento”, comenta Campos.

Para o economista da Tendências, a princípio, o cenário deverá ser “igual a hoje”, com volatilidade de olho nas questões externas e discussões internas. “Ainda creio em uma acomodação ou mesmo uma devolução de parte das altas, mas talvez não ocorra agora”, acrescenta