Bolsa cai e dólar sobe em dia de aversão ao risco global; queda generalizada das ações

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São Paulo -A Bolsa fechou em queda de 1,69%, perdeu o patamar importante dos 130 mil pontos, em dia de mau humor global. Os investidores foram surpreendidos por falas hawkish de integrantes dos bancos centrais norte-americano e do europeu sobre o corte na taxa de juros.Por aqui, o fiscal ficou no radar. O recuo das ações no Ibovespa foi generalizado.

O dirigente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Christopher Waller, disse hoje que ainda é cedo para falar sobre corte de juros.

A Vale (VALE3) baixou 1,29% e as siderúrgicas caíram em bloco. “A queda das commodities metálicas se deu em meio aos temores de um processo de deflação e a desaceleração prolongada no mercado imobiliário da China, maior consumidora da commodity, embora o país avalie emitir 1 trilhão de yuans (US$ 139 bilhões) de dívida nova para impulsionar o crescimento, disse Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

Os papéis da Petrobras (PETR3 e PETR4) perderam, respectivamente, 1,09% e 1,24%.

As ações de Magazine Luiza (MGLU3) tinham queda de 4,38%, após o banco Morgan Stanley rebaixar os papéis de neutro para venda (underweight) e o preço-alvo de R$ 2,75 para R$ 2,00.

Segundo Nishimura, as varejistas foram pressionadas pela alta juros futuros e valorização das treasuries e do dólar no exterior.

O principal índice da B3 perdeu 1,69%, aos 129.294,04 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro caiu 1,86%, aos 130.140 pontos. A mínima do dia atingiu 129.146,61 pontos e a máxima 131.516,52 pts. O giro financeiro foi de R$ 23,4 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam no negativo.

Pedro Canto, analista CNPI da CM Capital, disse a queda dos mercados no mundo é generalizada e reflete no Ibovespa.

“O mau humor é sistêmico. O recrudescimento das tensões no Mar Vermelho e discurso governador do Fed, Christopher Waller, que jogou um banho de água fria no mercado levaram a esse pessimismo global. Ele afirmou que espera três cortes de juros, enquanto e o mercado tinha expectativa entre seis ou sete. A alta dos juros de 10 anos dos EUA que voltou para casa dos 4,05% bateu em todos os mercados. Aqui, as atenções ficam para as discussões do fiscal”.

Dierson Richetti, especialista em investimentos e sócio da GT Capital, disse que falas de integrantes do Fed e ataques no Mar Vermelho impactam na Bolsa.

“Os membros do Fed não sinalizaram efetivamente uma queda de juros a partir de março e isso gera uma instabilidade para o mercado, ninguém quer assumir riscos. A intensidade do conflito no Mar Vermelho, rota importantíssima de insumos para indústrias e de commodities, também deixa os investidores preocupados. O Ibovespa perdeu um suporte muito importante, que era os 130 mil pontos”.

Alison Correia, analista da Top Gain, disse que os posicionamentos de membros do Fed e banco central europeu mais duros contaminam o mercado local e externo, e por aqui, o impasse em relação à MP da desoneração contribui para o pessimismo.

“O mercado já abriu com mau humor muito forte refletindo o tom mais conservador de integrantes do Fed e do banco Central europeu. O presidente do banco central alemão [Joachim Nagel] disse que ainda não deveria falar em corte de juros na zona do euro neste ano, totalmente contra a posição da Lagarde [Christine, presidente do BCE]. Esses tons mais conservadores têm minado e tem feito com que as treasuries subam e as bolsas caírem globalmente. Os ataques no Mar Vermelho também preocupam o mercado. Em relação ao local, a falta de dados positivos e a incerteza do cumprimento do déficit zero fazem o mercado preferi corrigir; todos os setores estão caindo”.

Mais cedo, Bruno Komura, analista da Potenza Investimentos, disse que o cenário externo e a indefinição sobre a MP da reoneração puxam o Ibovespa pra baixo.

“No exterior temos as falas dos diretores do BCE que indicaram que ainda é cedo para cortar juros e isto pode ser uma proxy para o Fed. No cenário local, temos incerteza em relação ao que vai acontecer com a MP da reoneração e isso está intensificando o movimento negativo; Vale cai apesar da indicação de que o crescimento chinês deve ser bom de acordo com a fala do primeiro-ministro [Li Qiang], o minério não tem ajudo a mineradora”.

Komura acrescentou que o setor financeiro cai, e com o peso no Ibovespa ajuda nesse movimento mais negativo.

“Os bancos deveriam amortecer o movimento por conta dos resultados acima das expectativas para o Goldman Sachs [lucro líquido sobe 51,43% no 4T23 para US$ 2,008 bilhões], devido a uma correlação que [eles] têm com o setor no exterior”.

O dólar fechou em alta de 1,20%, cotado a R$ 4,9245 para venda. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o temor de que as economias desenvolvidas, em especial Estados Unidos e Europa, mantenham os juros altos por mais tempo. No pano de fundo, as incertezas sobre a China e os ataques a navios no mar Vermelho, que tem pressionado o preço do petróleo, também contribuíram com o cenário desfavorável.

A economista do Ouribank Cristiane Quartaroli entende que o ambiente de risk off atinge especialmente o câmbio, motivado exclusivamente pelo cenário externo.

As incertezas causadas pelos discursos divergentes sobre o mercado de juros, tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, impactam diretamente o comportamento da moeda, observa Quartaroli.

Para o analista da Potenza Investimentos Bruno Komura, as falas de dirigentes do Banco Central Europeu (BCE) dizendo que os juros devem permanecer altos por mais tempo, fazem com que o mercado acredite que o mesmo deve ocorrer nos Estados Unidos.

De acordo com a Ajax Asset, “lá fora, cautela com a política de juros pressiona para cima as taxas de retorno dos Treasury bonds, o que favorece o dólar e impacta negativamente as ações e commodities. Por aqui, ativos devem ter abertura negativa com ambiente externo desfavorável.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta, impactadas pelos Treasuries (títulos do Tesouro norte-americano). Isso porque o esperado corte dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) já em março se afasta cada vez mais de uma hipótese plausível diante de dados de emprego robustos que os Estados Unidos têm trazido com os últimos indicadores.

O DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,130% de 10,070% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 9,628% de 9,640%, o DI para janeiro de 2027 ia a 9,950%, de 9,780%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 10,190% de 10,015% na mesma comparação.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo negativo, com os investidores ainda focados no rumo das taxas de juros após um início morno da temporada de resultados que começou com os números dos grandes bancos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,62%, 37.361,12 pontos
Nasdaq 100: -0,19%, 14.944,3 pontos
S&P 500: -0,37%, 4.765,98 pontos

 

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA