São Paulo – O dólar comercial fechou em alta de 0,91% no mercado à vista, cotado a R$ 5,8710 para venda, renovando a máxima histórica de fechamento em sessão de forte volatilidade. Depois de operar em queda por quase todo o pregão seguindo o exterior, no meio da tarde, o receio com a política local levou a moeda norte-americana a renovar máximas sucessivas, perto do nível de R$ 5,89.
“Na metade da tarde, declarações do advogado de Sérgio Moro [ex-ministro da Justiça], afirmando que o conteúdo do vídeo da reunião ministerial que supostamente ampara as acusações do ex-ministro contra Bolsonaro seria ‘devastador’, deu ainda mais impulso para a moeda atingir máximas, acima dos R$ 5,88”, comenta o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho.
Já a equipe econômica do banco Fator destaca que o dia foi “de viradas nos ânimos” com assuntos diversos agitando o dia. “Os depoimentos na esteira das denúncias de Moro elevam a temperatura em Brasília, enquanto o ambiente externo alterna ânimo com a perspectiva de efeitos estimulantes da abertura das economias e desânimo com os efeitos prejudiciais da mesma abertura”, avalia.
“Apesar do fechamento forte, a moeda passou grande parte do dia operando em queda, influenciada sobretudo pelo clima mais positivo dos mercados internacionais durante a manhã, acrescenta o analista da Correparti.
Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, as incertezas políticas voltam ao radar dos investidores.
“As incertezas só alimentam o receio dos investidores com relação a estabilidade institucional e política do país forçando um maior sentimento de cautela. Esse ruído deve seguir exercendo pressão com o mercado digerindo, integralmente, o que significa o teor desse vídeo para o governo. E o dólar deve seguir em alta”, ressalta o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz.
Após passar a maior parte do dia em alta, por volta das 15h (horário de Brasília), o índice virou e passou a cair amparado por notícias externas e também sobre rumores de que o vídeo da reunião ministerial, denunciado pelo ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, poderia ser “devastador” para o governo de Jair Bolsonaro. Com isso, o Ibovespa encerrou o dia em queda de 1,5%, aos 77.871,96 pontos.
Nos Estados Unidos, o Senado do país planeja adotar uma legislação para impor sanções a autoridades chinesas por violações de direitos humanos contra minorias muçulmanas, de acordo com matéria publicada pela Bloomberg. “Essa notícia fez virar os mercados nos Estados Unidos e aqui no Brasil também”, afirmou um operador de mesa.
Quase ao mesmo tempo, mas aqui no Brasil, começavam a surgir os primeiros rumores de que a reunião do presidente jair Bolsonaro com seus ministros tinha um conteúdo que poderia acabar com o atual governo. No vídeo, ficaria provada a acusação de Sergio Moro de que Bolsonaro queria interferir no comando da Polícia Federal para proteger sua família.
“Bolsonaro sempre teve essa mania de perseguição. Acha que seus filhos não fazem nada de errado e que tudo é teoria da conspiração. Talvez o vídeo seja um banho de água fria para quem ainda confiava no comando do atual governo”, acrescentou o operador.
Mais cedo, Alvaro Bandeira, economista-chefe do banco digital Modalmais, alertava para o perigo do Ibovespa perder os 80 mil pontos. Mais perigoso que isso, seria quando chegasse aos 75 mil pontos, apesar de hoje não ter chegado neste patamar. “Aqui, mercados ainda contem a necessidade do índice passar com consistência a barreira dos 80 mil pontos. Não pode perder os 75 mil pontos, porque aí acelera as realizações”, explicou.
Entre os papéis que fazem parte do Ibovespa, a maior alta ficou com as ações ordinárias da Minerva (BEEF3), com valorização de 7,06%. Por outro lado, a maior queda foi registrada pela ação preferencial Classe A da Braskem (BRKM5), com retração de 7,29%.