São Paulo – Uma série de notícias negativas, como os pedidos de seguro-desemprego norte-americanos piores do que o esperado, o aumento da tensão entre China e Estados Unidos e o temor de avanço da pandemia, fizeram o Ibovespa ampliar a queda nesta tarde e fechar com perdas de 1,91%, aos 102.293,31 pontos. Na cena doméstica, investidores também analisam a reforma tributária e o possível aumento de carga tributária para alguns setores, como para os bancos.
Para o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, a junção de vários fatores levaram a uma correção mais forte dos mercados nesta tarde, mas que pode ser pontual. Mais cedo, os pedidos de seguro-desemprego norte-americanos apagaram o bom humor do mercado ao trazer dúvidas sobre a recuperação do mercado de trabalho, já que subiram em 109 mil na última semana, para 1,416 milhão, acima dos 1,3 milhão de pedidos esperados por analistas.
Além disso, a tensão com a China segue crescendo. Depois de a Casa Branca ordenar o fechamento do consulado chinês em Houston ontem, a China planeja retaliação à decisão na próxima sexta-feira, segundo o editor do jornal estatal “Global Times”, Hu Xijin. Hoje, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, também pediu ao povo chinês que altere a direção do Partido Comunista chinês, elevando o tom.
“Essa relação entre Estados Unidos e China preocupa, mas não sei até que ponto o Trump [Donald, presidente norte-americano] pode esticar essa corda, as eleições presidenciais estão logo aí”, disse o analista.
Nesta tarde, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) ainda divulgou uma previsão bastante negativa, de que as mortes provocadas pelo coronavírus no país devem ficar entre 160 mil e 175 mil até o dia 15 de agosto. Os Estados Unidos possuem 142.755 mortes por covid-19, segundo dados do CDC, e tiveram um avanço de 1.078 óbitos em um dia.
No Brasil, por sua vez, além dos casos e mortes de coronavírus também seguirem crescendo, as propostas de reforma tributária começam a ser esmiuçadas, com alguns setores afirmando que terão aumento de carga tributária, caso do setor de serviços e bancos. As ações de bancos, que têm grande peso no Ibovespa, recuaram hoje, caso do Itaú Unibanco (ITUB4 -2,03%).
“Os bancos já não tem ajudado o Ibovespa, se eles estivessem tendo um bom desempenho o Ibovespa já teria voltando aos 110 mil pontos e, agora, ainda tem esse possível aumento de carga tributária”, disse o operador de renda variável da Commcor Corretora, Ari Santos,
Já as maiores perdas do índice foram da TIM (TIMP3 -8,30%), após a Oi informar que celebrou um acordo de exclusividade com a norte-americana Highline, que apresentou melhor oferta para a área móvel, acima do preço mínimo de R$ 15 bilhões. A TIM, a Vivo e a Claro tinham feito juntas uma oferta pelo ativo.
Ao lado da TIM, ficaram as ações da Cogna (COGN3 -6,28%) e da Via Varejo (VVAR3 -6,29%), com realizações de lucros após altas recentes. Na contramão, as maiores altas do índice foram da Suzano (SUZB3 3,36%), da Qualicorp (QUAL3 1,06%) e da Engie Brasil (EGIE11 0,86%).
Na agenda de indicadores de amanhã, os destaques são o IPCA-15 de julho no Brasil e a leitura de preliminar do índice dos gerentes de compras (PMI) sobre atividade dos setores de serviços e industrial nos Estados Unidos.
O dólar comercial fechou em forte alta de 1,97% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2160 para venda, após acelerar os ganhos na reta final dos negócios em sessão de correção local, interrompendo uma sequência de três quedas seguidas, no qual acumulou 5% de perdas. Os números acima do esperado dos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos corroboraram para a valorização da moeda norte-americana.
“A sessão de hoje foi marcada por uma forte recuperação do dólar após o movimento intenso de queda visto na véspera”, comenta o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho, no qual a moeda recuou abaixo de R$ 5,10 na sessão anterior, no menor valor intraday em seis semanas.
Ele destaca que o aumento do número de pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos, que não mostrava acréscimos desde março, levou investidores a partirem para a “segurança do dólar” em meio às incertezas sobre a recuperação da economia norte-americana.
Amanhã, na agenda de indicadores, tem a leitura preliminar do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a indústria e serviços nos Estados Unidos, na zona do euro e no Reino Unido.
Para a analista da Toro Investimentos, Paloma Brum, os números podem pesar no mercado amanhã já que, se ficarem abaixo do esperado, podem “acender um alerta” de que essas economias podem não estar respondendo aos estímulos dos governos e de bancos centrais durante a pandemia do novo coronavírus.
Os analistas da Guide Investimentos acrescentam que, o “desentendimento” iniciado ontem entre Estados Unidos e China está longe de ter terminado e, por isso, “não descartam” novas turbulências para os próximos dias. A analista da Toro ressalta que os investidores deverão ficar atentos ao noticiário envolvendo essa nova escalada das tensões os países e também sobre o coronavírus.