Bolsa cai e dólar sobe na máxima histórica com incertezas sobre EUA e China

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – Após abrir em alta, o Ibovespa fechou em queda de 0,27%, aos 106.269,25 pontos, refletindo o aumento de incertezas em relação às negociações comerciais entre China e Estados Unidos, em meio a rumores de que chineses estariam mais pessimistas sobre a assinatura da primeira fase de um acordo. O volume total negociado hoje foi de R$ 27,1 bilhões, sendo que R$ 8,96 bilhões se referem ao exercício de opções sobre ações.

Mais cedo, o índice mostrou um ajuste em função do feriado da última sexta-feira, quando as bolsas norte-americanas subiram e renovaram recordes após declarações mais otimistas de autoridades dos dois países sobre o acordo comercial.

Para o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, segue a “novela” entre China e Estados Unidos, que parecem continuar em um “jogo de blefe”, embora não tenham ocorrido grandes novidades hoje, apenas rumores de que a China está pessimista. Além disso, investidores podem ter segurado alguns papéis para depois vender após o exercício de opções sobre ações.

Entre as ações, as de bancos passaram a cair com mais força, pesando sobre o índice, caso dos papéis do Bradesco (BBDC4 -0,76%). As ações da Petrobras (PETR4 -0,75%) também pesaram negativamente.

Já as maiores quedas do Ibovespa foram da Natura (NATU3 -3,22%), da Yduqs (YDUQ3 -3,81%) e da CVC (CVCB3 -3,64%). Na contramão, a maior alta foram das ações da Marfrig (MRFG3 5,56%), que reagiram positivamente ao aumento da fatia da companhia na norte-americana National Beef. Também entre as maiores altas ficaram as ações da Suzano (SUZB3 3,19%) e da Telefônica Brasil (VIVT4 2,22%).

Amanhã, a agenda de indicadores segue esvaziada e a semana também promete ser mais parada, com novo feriado na quarta-feira, quando será divulgada a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), e sem novidades na agenda política local. “Acredito que vamos continuar por conta do exterior e da guerra comercial”, disse o analista da Toro Investimentos, Thiago Tavares.

O dólar comercial fechou em alta de 0,38% no mercado à vista, cotado a R$ 4,2070 para venda, renovando a máxima histórica de fechamento, de R$ 4,1970, alcançado em 13 de setembro do ano passado durante as eleições presidenciais. Ao contrário do otimismo exibido em boa parte dos negócios, as incertezas em torno da guerra comercial provocaram um mau humor nas moedas de países emergentes, como a moeda local.

“Foi um movimento de cautela, após declarações do presidente [norte-americano] Donald Trump, que afirmou que não haverá reversão de tarifas já impostas aos produtos chineses. Isso atingiu em cheio as moedas ligadas emergentes que passaram a cair fortemente frente ao dólar”, comenta o diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik.

O peso mexicano, por exemplo, caiu ao redor de 0,70% frente ao dólar, enquanto a moeda local renovou máximas a R$ 4,2090 (+0,43%) na maior cotação intraday do ano. Com a forte escalada da moeda estrangeira, o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, avalia que a balança comercial “mais frágil” aponta para um dólar mais forte.

“Dados da balança comercial semanal apontam que o Brasil já roda déficits comerciais mais fortes. Os números divulgados hoje apontam déficit de US$ 482 milhões na semana passada. Isso é mais uma notícia ruim para o real que já sofre com os efeitos difusos da guerra comercial, a erupção de revoltas pela América Latina e os juros baixos no País, que atraem menos divisas pelo motivo de especulação”, ressalta.

Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, o economista da Guide Investimentos, Victor Beyrutti, comenta que a guerra comercial entre norte-americanos e chineses seguirá no radar dos investidores. Assim como o Banco Central (BC). “Vamos aguardar se ele entra no mercado com a moeda acima de R$ 4,20”, diz.

Analistas comentam que a falta de liquidez no mercado talvez esteja inibindo a autoridade monetária, já que feriados locais na semana passada e no meio desta semana influenciaram em baixos negócios.