São Paulo – O mercado financeiro brasileiro passa por mais um dia de aversão ao risco, na contramão do que se observa nas bolsas internacionais, diante da preocupação crescente com o compromisso do governo Jair Bolsonaro com as contas públicas.
O episódio mais recente a acender um sinal de alerta entre os investidores foi a saída de membros da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, ontem, após ficar evidente que o Planalto estava patrocinando um afrouxamento no teto de gastos que abriria espaço para aumentar as despesas federais ainda este ano.
As alterações foram aprovadas na quinta-feira à noite por uma comissão especial da Câmara dos Deputados e estão dentro da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permitiria o parcelamento do pagamento de precatórios. O texto ainda precisa passar pelo plenário da Câmara e do Senado, mas os investidores se antecipam ao potencial efeito que a medida terá sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira que vem.
Até o início desta semana, prevalecia a aposta de que o grupo elevaria a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto porcentual (pp), mas a perspectiva de afrouxamento no controle de gastos mudou a situação e faz a maioria dos investidores esperar alta de 1,25 a 1,50 pp.
Relatório da Commcor destaca a “deserção” dos membros da equipe econômica como um fator agravante para a percepção fiscal do país. “A famosa frase ‘não há nada tão ruim que não possa piorar’ se faz pertinente no atual momento local, com investidores recebendo pedidos de demissão de secretários do Ministério da Economia em meio ao impasse com o Auxílio Brasil e seu consequente impacto na percepção fiscal (que já vinha de mau a pior)”.
“O suspense com possível saída de Paulo Guedes fica ainda maior, por mais que fontes tenham divulgado há pouco que Guedes teria decidido ficar no governo”, completou. A Commcor explica ainda o movimento para bancar o Auxílio Brasil: “Em bom português, o governo está fazendo malabarismos nas regras do jogo para conseguir bancar um movimento bastante populista”.
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton, a saída da equipe é “mais um componente dramático”. “O problema do Brasil é falta de plano. O que é o governo quer? Do jeito que está parece tudo improvisado”. Ele, entretanto, não acredita na saída de Paulo Guedes do governo.
“Até segunda ordem eu não acredito muito na saída do Guedes. É verdade que o cenário agora é mais sério, até temos mais motivos para suspeitar disso, mas já vimos isso várias vezes acontecendo. Aparentemente o Guedes quer contribuir com o governo Bolsonaro até o final, mas isso não significa que seja o mesmo Guedes de antes. Ele tem cada vez menos crédito com o mercado”, completa.
Veja como estava o mercado por volta das 13h30 (de Brasília):
IBOVESPA: 103.934 pontos (-3,52%)
DÓLAR À VISTA: R$ 5,7160 (+0,88%)
DÓLAR FUTURO (NOV): R$ 5.725, (+1,03%)
DI JAN 2022: 8,120% (+0,234 pp)
DI JAN 2023: 11,030% (+0,550 pp)
DI JAN 2025: 11,685% (+0,195 pp)