Bolsa cai forte, dólar avança quase 2% e juros sobem por temor ao cumprimento do fiscal

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São Paulo -A Bolsa fechou em queda de 1,38%, oscilou entre a mínima de 127.537,59 pontos e 129.453,81 pts em um pregão de estresse com o mercado esperando pela concretização do corte de gastos pelo governo.

O temor do mercado é que o contingenciamento não seja satisfatório. Com a cautela, o recuo das ações na composição do índice foi generalizado.

Mais cedo, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Fazenda divulgou, o Boletim Macrofiscal de julho com projeções para o Produto Interno Bruto (PIB), inflação e produção industrial.

A projeção para o crescimento do PIB de 2024 foi mantida em 2,5%, e para 2025 a estimativa foi reduzida para 2,6%. A previsão para a inflação medida pelo IPCA avançou de 3,70% para 3,90% em 2024, isso leva em consideração os impactos do câmbio mais depreciado e da calamidade no RS nos preços, além dos reajustes recentes anunciados para os preços da gasolina e GLP.

No Prisma Fiscal de julho, a projeção mediana para o déficit primário de 2024 aumentou pelo segundo mês consecutivo, interrompendo a trajetória de queda dos meses anteriores.

Em relação à indústria, a expectativa de crescimento em 2024 foi revisada para cima, de 2,4% para 2,6%. A projeção para a expansão dos serviços também subiu, passando de 2,7% para 2,8%.

O principal índice da B3 recuou 1,38%, aos 127.652,06 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto caiu 1,39%, aos 128.530 pontos. O volume financeiro foi de R$ 20,1 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Rodrigo Moliterno head de renda variável da Veedha Investimentos, disse que o mercado tem forte realização, após várias sessões em alta, impactado pelos fatos domésticos e externos.

“Depois de lua de mel, o mercado entra em realização, mesmo que o volume seja baixo. Aqui, o risco fiscal volta a aflorar em virtude do contingenciamento, corte de gastos que são necessários. A reunião do Lula com ministros para definir o início dos cortes. As ações mais afetadas são as varejistas-sensíveis a juros, em razão dos DIS abrindo. Os frigoríficos caem, BRF mais de 7% com surto da newcastle [doença] no RS [atingiu granja]. Lá, fora, o ruido se Biden continuar ou não [como candidato a reeleição], dados da economia um pouco melhores, o que neste momento é ruim e fez as treasuries ganhar força impactando nos mercados globais”.

Para Alexandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, na sessão de hoje não houve novidades, “mas incertezas internas se deram apenas pela espera do anúncio do contingenciamento. A preocupação do mercado é que o contingenciamento a ser anunciado pelo governo Lula na segunda-feira (22) talvez não seja suficiente. Valor abaixo de R$ 15 bilhões pode significar uma frustração e confirmação dos temores do mercado, que estima a necessidade de contingenciamento próximo de R$ 30 bilhões para se atingir a meta de déficit primário zero”.

Diego Faust, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que o estresse do mercado na sessão de hoje reflete, principalmente, o risco fiscal.

“O mercado está se protegendo por um lado e, por outro, passa o recado que se as coisas continuarem como o mês passado, está pronto para virar a chave. Vemos os DIs de longo prazo subindo acima das curtas, é a precificação do Risco Brasil longas acima das curtas. Na bolsa, existe uma aversão generalizada das ações, proteína [principalmente pelo foco detectado da doença de Newcastle no RS], bancos, empresas afetadas pelo dólar. Os papéis estão alinhados com a questão política do que pode vir na segunda-feira [relatório bimestral de receitas e despesas]. Com os DIs abrindo, construção civil e varejo sofrem”.

Faust também disse que os dados da economia americano corroboraram com o mau humor.

“Os pedidos de seguro-desemprego acima do esperado mostram desaceleração da economia, por um lado é bom, mas o Indice do Fed da Filadélfia veio muito acima das expectativas, é um contraponto. A eleição do Trump também tem sido colocada como um fator de inflação dentro da economia norte-americana”.

Mais cedo, nos Estados Unidos, os pedidos de seguro-desemprego semanal subiram para 243 mil, acima do esperado de 230 mil. O índice de atividade industrial do Fed da Filadélfia avançou para 13,9 mil pontos em julho contra expectativa de alta de 2,9 mil pts.

O dólar comercial fechou a R$ 5,5886 para venda, com valorização de 1,90%. Às 17h05min, o dólar futuro para agosto tinha alta de 1,75% a R$ 5.594,500. O mercado operou durante todo dia estressado, desconfiando do compromisso fiscal do governo e aguardando o relatório de receitas e despesas, que será divulgado na segunda-feira.

As atenções estão voltadas para a reunião que está ocorrendo neste momento com Lula e a equipe econômica, onde está sendo alinhado o contingenciamento, tão aguardado pelo mercado. No exterior, dados de mercado de trabalho aquecido nos Estados Unidos e as preocupações com a segurança de Donald Trump durante seu pronunciamento hoje na convenção republicana resultaram em aversão ao risco. O Dollar Index, que mede o desempenho da moeda americana em relação a uma cesta de moedas estrangeiras, tinha alta de 0,42% a 104,19 pontos.

Aqui, mais cedo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o orçamento de 2025 já tem os limites pré-estabelecidos e estamos colocando nos termos do arcabouço fiscal. Haddad fez a declaração ao sair da reunião no Palácio do Planalto.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse hoje, durante o programa “Bom Dia, Ministro”, que o Brasil precisa cortar gastos, mas que “cortaremos naquilo que está sobrando”. Segundo ela, o governo está visando a correção de fraudes, erros e irregularidades.

Tebet garantiu que que o PAC está preservado e que não há nenhuma sinalização de corte no Programa, principalmente em pontos com educação e saúde. A ministra disse ainda que o grande desafio de sua pasta é definir o orçamento para 2025. “Temos que equilibrar receitas e despesas. O Brasil não pode seguir devendo”.

“O governo está colocando em prova a necessidade de cortar gastos. Não adianta só o Haddad [Fernando Haddad, ministro da Fazenda] falar, enquanto o Lula não se convencer que é preciso reduzir custos, o mercado responde de forma negativa. É uma questão de postura do Lula”, questiona o sócio da Ethimos, Lucas Brigato.

O analista da Potenza Capital, Bruno Komura, disse que a pressão no câmbio se deve ao cenário doméstico. “O mercado está pessimista desde cedo com os investidores na expectativa de segunda-feira [divulgação do relatório bimestral de receitas e despesas] e se protegem comprando dólar e se diminui posicionamento em Bolsa. Hoje os três mercados se conversam [dólar, bolsa e juros futuros]. Hoje a reunião de Lula e as projeções da Fazenda podem trazer luz para segunda-feira. Vamos ver se o governo cumpre o que prometeu”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em firme alta por conta da expectativa dos investidores com a reunião do presidente Lula e os ministros da Junta de Execução Orçamentária (JEO) e do Boletim De Receitas e Despesas que será divulgado na segunda-feira (22).

Por volta das 16h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,690%, de 10,605% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,415%, de 11,180%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,675 %, de 11,440%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,820% de 11,865% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, com o Nasdaq voltando a registrar perdas após o pior dia desde 2022, enquanto o alargamento do rali do mercado de ações engata uma pausa.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,29%, 40.664,89 pontos
Nasdaq 100: -0,70%, 17.871,22 pontos
S&P 500: -0,78%, 5.544,49 pontos

Com Camila Brunelli, Dylan Della Pasqua e Darlan de Azevedo / Agência Safras News