Bolsa cai puxada por ações dos bancos; dólar fecha em queda

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São Paulo – O Ibovespa fechou em queda de 0,22%, aos 85.468,91 pontos, refletindo principalmente as perdas de ações do setor bancário, com investidores aproveitando para embolsar lucros depois das fortes altas de ontem. Mais cedo, o índice operava em alta e chegou a superar os 87 mil pontos na máxima do dia, refletindo a alta de Bolsas no exterior após a notícia de que uma nova vacina está sendo testada contra o coronavírus.

Para o operador de renda variável da Commcor Corretora, Ari Santos, houve uma realização natural de lucros depois que os bancos subiram muito no pregão anterior. Porém, ele lembra que esses papéis estão caindo mais do que o Ibovespa no acumulado ano, já que também há receio de que projetos que prejudicam o setor, com aumento de impostos, ainda possam ser votados no Senado.

Entre as ações, estão a do Banco do Brasil (BBAS3 -2,22%), que ontem chegaram a subir mais de 9% com declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre sua privatização. Os papéis do Bradesco (BBDC3 -3,86%; BBDC4 -3,98%) e do Itaú Unibanco (ITUB4 -3,79%) caíram ainda mais e fecharam entre as maiores quedas do índice.

Ainda entre as maiores perdas ficaram as ações da Lojas Renner (LREN3 -5,05%), do IRB Brasil (IRBR3 -5,00%) e do CVC (CVCB3 -4,39%).

Na contramão, as maiores altas do Ibovespa foram das ações do Magazine Luiza (MGLU3 7,21%), que divulgou seu balanço do primeiro trimestre do ano e teve recomendação de compra reiterada por casas como o BTG Pactual. Outros papéis de varejistas, como da B2W (BTOW3 9,40%) também ficaram entre as maiores altas na esteira da concorrente e com investidores avaliando o bom desempenho de vendas online das companhias.

No exterior, o dia foi de Bolsas em alta, com destaque para os índices norte-americanos, que tiveram bom desempenho na volta do feriado e após a empresa Novavax anunciar que espera resultados iniciais sobre segurança e resposta imunológica de sua nova vacina de combate ao covid-19 em julho. Porém, os índices perderam um pouco da força no fim do dia com receio de que os Estados Unidos apliquem sanções à China, em função do maior controle que Pequim deseja impor sobre Hong Kong.

A cena política local também segue sendo observada pelo mercado. Embora siga a sensação de alívio depois que o vídeo da reunião ministerial não foi “bombástico” como se esperava, o dia foi de operação da Polícia Federal (PF) na casa do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que acusou o presidente Jair Bolsonaro de interferência política na PF. A operação apura indícios de desvios de recursos destinados ao combate da pandemia, como na construção de hospitais de campanha.

Amanhã a agenda será mais vazia, com destaque apenas para o Livro Bege nos Estados Unidos. A tensão sino-americana também deve voltar ao foco diante dos sinais de sanções.

Para o operador da Commcor, a expectativa de reaberturas de economias, inclusive no Brasil, apesar de o número de casos e mortes ainda estarem elevados, também deve continuar mexendo com a Bolsa. “O fato de algumas economias lá fora estarem reabrindo acaba ajudando e há expectativa de que o Doria [João, governador de São Paulo] também confirme o cronograma de reabertura em São Paulo, mas mesmo assim o consumo pode seguir baixo”, disse.

O dólar comercial fechou em queda de 1,68% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3650 para venda, engatando a quinta queda seguida e no menor valor de fechamento no mês, acompanhando o otimismo que prevaleceu no exterior em meio notícias sobre o desenvolvimento de vacinas para o novo coronavírus, além da reabertura de importantes economias na Europa.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca que o recuo da moeda foi embalado por um cenário externo positivo, na esteira da divulgação de uma vacina experimental contra o novo coronavírus e pela reabertura das economias na Europa e nos Estados Unidos.

“O sentimento por parte dos investidores de procura pelo risco conduziu o dólar a trabalhar energicamente no modo perdedor frente aos seus pares e principalmente junto as divisas de países emergentes”, diz. Ele acrescenta que, apesar da forte queda, a “rainha volatilidade” voltou a mostrar força.

Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, o destaque fica para o Livro Bege, relatório com uma avaliação da situação econômica dos Estados Unidos.

“Não tem muito peso para fazer preço, até porque o indicador mais importante sai na quinta-feira [o Produto Interno Bruto dos Estados Unidos no primeiro trimestre]”, comenta a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. Analistas chamam a atenção, porém, para o acirramento das tensões entre Estados Unidos e China que podem levar os ativos a encerrarem o rali iniciado na semana passada.