Bolsa cai puxada por queda nos mercados norte-americanos

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São Paulo – O Ibovespa fechou em queda de 1,16%, aos 100.721,36 pontos, refletindo a forte correção vista nas Bolsas norte-americanas, com investidores embolsando lucros com os papéis de empresas de tecnologia depois de fortes altas seguidas. O dia foi de forte volatilidade, já que pela manhã o índice chegou a subir mais de 1% impulsionado pelas ações de bancos e pela apresentação da proposta do governo sobre a reforma administrativa.

“Está ocorrendo uma forte queda do setor de tecnologia norte-americano, que estava sendo o principal motivo de alta recentemente. Vimos ações como as da Apple, Google, entre outras levarem a recorde atrás de recorde por lá e quando começa uma onda de resgate a tendência é que seja forte, acaba contaminando por aqui”, disse o sócio da Speed Invest e especialista em investimentos, Carlos Eduardo Pinheiro Corrêa.

O setor de tecnologia norte-americano rompeu hoje uma sequência de dez alta e a Bolsa de tecnologia Nasdaq fechou em queda de mais de 5%, enquanto os índices Dow Jones e S&P 500 também tiveram perdas expressivas.

O diretor da Chess Capital, Vicente Matheus Zuffo, também destaca que a correção de empresas de tecnologia foi um movimento mundial e que ocorre uma rotação de setores, com investidores comprando papéis que ficaram para trás, como os de bancos. “As ações de bancos estão super bem e há um movimento global de melhora do setor financeiro em detrimento da tecnologia hoje. Me parece que há uma rotação setorial”, disse.

Entre as ações, as maiores quedas do Ibovespa foram de varejistas, como B2W (BTOW3 -7,57%), Magazine Luiza (MGLU3 -5,27%) e da Via Varejo (VVAR3 -6,50%), e da empresa de tecnologia Totvs (TOTS3 -5,66%), que vinham subindo impulsionadas pelas vendas online recentemente. Na contramão, evidenciando o movimento de troca de setores, as ações do Bradesco (BBDC3 3,82%; BBDC4 3,88%) ficaram entre as maiores altas, ao lado da Azul (AZUL 4 3,80%).

Corrêa ainda lembra que há cerca de algumas semanas o Ibovespa está rondando entre 99 mil e 102 mil pontos, e há possibilidade de que volte a testa o “piso” de 99 mil, suporte importante. No entanto, na máxima do dia de hoje o índice chegou a superar os 103 mil pontos e há fatores locais mais positivos, com um certo alívio em relação à preocupação fiscal em função da reforma administrativa.

Apresentada hoje pelo governo e entregue ao Congresso, a proposta de reforma valerá para novos funcionários públicos, para os quais a estabilidade de vários cargos será reduzida e criará novo sistema com cinco tipos diferentes de vínculos. A reforma também prevê a eliminação de benefícios previstos hoje, como a licença-prêmio, aumentos retroativos, férias superiores a 30 dias por ano, adicional pelo tempo de serviço, entre outros.

Amanhã, na agenda de indicadores o destaque é para os números de emprego dos Estados Unidos, conhecidos como payroll. Para o sócio da Speed Invest, se os números vieram positivos podem ajudar em uma recuperação dos mercados depois das quedas de hoje.

O dólar comercial fechou em queda de 1,25% no mercado à vista, cotado a R$ 5,2910 para venda, na terceira baixa seguida e no menor valor de fechamento desde 5 de agosto – quando encerrou a R$ 5,2990 – em sessão volátil e de otimismo em meio aos sinais de recuperação econômica do país e de andamento da agenda de reformas após a apresentação dos detalhes e entrega da proposta da reforma administrativa ao Congresso.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca que o real foi a moeda que exibiu o melhor desempenho em uma cesta das 34 divisas mais negociadas no mundo tendo como principal “catalizador” os sinais de melhora da economia brasileira após o resultado da produção industrial em julho, com alta de 8,0% ante expectativa de +5,6%.

“E principalmente pelo positivismo da entrega da reforma administrativa pelo governo ao Congresso, mas operando com uma amplitude e volatilidade costumeira”, acrescenta.

Amanhã, após engatar três quedas e exibir forte desvalorização ao longo da semana, analistas não descartam viés de correção, visto que na segunda-feira é feriado no mercado doméstico. Na agenda de indicadores, o destaque fica para o relatório de empregos (payroll) com o número de vagas de trabalho criadas ou perdidas e a taxa de desemprego nos Estados Unidos, em agosto.

Para a analista da Toro Investimentos, Paloma Brum, a expectativa é alta com o indicador por ser um “termômetro” de que forma a economia norte-americana está respondendo aos estímulos dados pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) para enfrentamento da pandemia do novo coronavírus e se recuperando. “Principalmente, após o resultado mais fraco da ADP [criação de vagas de trabalho no setor privado] ontem”, ressalta.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em queda, influenciadas pelas perdas aceleradas do dólar, que é cotado abaixo de R$ 5,30, nos menores níveis em um mês. Os investidores também reagiram aos dados mais robustos da produção industrial em julho e à apresentação dos detalhes da proposta de reforma administrativa.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,79%, de 2,83% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 3,96%, de 4,01% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 5,76%, de 5,82%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,72%, de 6,79%, na mesma comparação.

Os principais índices de ações norte-americano despencaram, no que foi a maior onda de vendas desde junho, depois que o setor de tecnologia – líder do mercado desde a recuperação que começou no final de março – sofreu sua maior queda em meses.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -2,78%, 28.292,73 pontos

Nasdaq: -4,96%, 11.458,10 pontos

S&P 500: -3,51%, 3.455,06 pontos