São Paulo, 14 de fevereiro de 2025 – O mercado financeiro brasileiro, que já vinha apresentando um bom desempenho nesta sexta, melhorou ainda mais de humor após a divulgação de pesquisa da Datafolha indicando uma forte queda no índice de aprovação do presidente Lula.
A aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) caiu para 24%. O número é o pior registrado pelo instituto de pesquisa em todos os mandatos de Lula. A reprovação de Lula atingiu 41%, um número também inédito para o presidente nas pesquisas do instituto. Outros 32% consideram o governo regular.
No último levantamento, feito em dezembro, 35% aprovavam o governo, 34% reprovavam e outros 29% consideravam o governo regular.
A primeira reação do mercado foi de otimismo, apostando que o atual presidente não se candidataria em 2026, o que poderia favorecer a eleição de um candidato mais alinhado ao mercado e comprometido com a política fiscal.
Mas em um segundo momento, há motivos de preocupação. A queda na popularidade pode levar o atual governo a adotar medidas populistas, comprometendo as contas públicas, com o objetivo de reverter a trajetória de recuo da popularidade.
O principal índice da B3 subiu 2,69%, aos 128.218,59 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril avançou 2,61%, aos 130.475 pontos. O giro financeiro foi de R$ 20,7 bilhões. Na semana, o índice subiu 2,89%. Em Nova York, os índices de ações fecharam mistos.
Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, avalia que há uma relação direta entre a queda de aprovação do presidente Lula com o desempenho forte do Ibovespa e o recuo do dólar na mínima dos últimos meses. “Desde dezembro, quando houve o anúncio do pacote de contenção de gastos — e que foi insuficiente para voltar a trazer equilíbrio das contas públicas e uma expectativa de que poderíamos começar a ter superávit primário em algum momento, e aí sim, ter uma expectativa de uma relação dívida/PIB voltando a cair, ou apenas deixando de subir, como é a atual –, desde então o mercado espera o anúncio de novas medidas. O Haddad vinha reforçando que eles estavam preparando novas medidas, porém, o presidente Lula vinha contradizendo isso. Então, a postura do atual presidente não é de compromisso fiscal ou de apoiar novas medidas que possam trazer corte de gastos ou equilíbrio das contas públicas e o cumprimento do arcabouço fiscal. (…) Historicamente, ambientes inflacionários afetam diretamente a popularidade de qualquer presidente.”
Na avaliação de Moreira, esse cenário inflacionário vem contribuindo para a queda do índice de aprovação de Lula e aumenta a probabilidade de uma mudança de governo nas eleições de 2026. “E o mercado vem precificando isso de maneira positiva, visto que o principal senso de urgência para o ajuste das contas públicas se dá agora em 2025. Por que no próximo ano, como temos eleições presidenciais, historicamente, o governo tende a ser mais expansionista do ponto de vista fiscal. E dado toda a conjuntura fiscal, o Brasil não tem como passar por um aumento dos gastos públicos.”
Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, avalia que a pesquisa Datafolha mostrando que a aprovação do Lula caiu bastante, de 35% para 24%, chama muito a atenção porque ele nunca teve uma avaliação tão ruim. “A reprovação do governo foi recorde. Então isso trouxe um otimismo maior. A bolsa, que estava subindo ao longo do dia em torno de 1,80%, disparou para uma alta de mais de 2,70%. Os juros futuros continuaram cedendo ainda mais, então, realmente, veio uma onda de otimismo com essa possibilidade maior de eventualmente ele não ser reeleito nas próximas eleições.”
O analista observa que, em função de uma expectativa de menor pressão sobre os juros, o dólar teve forte queda, beneficiando as ações cíclicas, que dependem de juros e foram o grande destaque do pregão. Além disso, Petrobras, Vale e bancos também tiveram forte valorização e influeciaram na alta da Bolsa. “Sexta-feira animada de forma geral e bem positiva para ativos de risco. De uma forma geral, os ativos de risco aqui performaram bem até porque os juros futuros caíram. As ações estão subindo. Então, foi um dia bem positivo para as ações. (…) A semana começou com muitas preocupações e termina de uma forma muito mais positiva”, observa.
Em relação às tarifas de Trump, Bolzan avalia que, devido à indefinição sobre o assunto, há possibilidade de conversas. “Existia uma preocupação muito grande em relação às tarifas e o que vimos é que isso não aconteceu. Tivemos o dólar num cenário de queda em relação a moedas emergentes, não foi só em relação ao real. Essa melhora no câmbio não foi devido aos nossos trabalhos aqui no Brasil. Ainda continuamos com o risco fiscal como pano de fundo, existe preocupação bastante grande em como o governo vai tratar as contas nos próximos meses. Vamos passar por muita oscilação ainda, mas acredito que esse é um momento bem oportuno para o investidor dolarizar parte do patrimônio”, analisa.
Ele menciona que os dados de vendas no varejo nos EUA, vieram abaixo da expectativa de mercado. O consenso era de uma desaceleração em torno de 0,20% e esse dado veio mostrando desaceleração mais forte de 0,90%. “Na minha opinião, talvez o Fed não tenha tanto trabalho para conseguir fazer com que a inflação ceda por lá.”
O analista avalia que a grande preocupação do momento é em relação a outras medidas que o governo está trabalhando, como a isenção do imposto de renda até R$ 5 mil e o consignado privado, pois elas podem ter um impacto na economia no sentido de acelerar ainda mais. “E o que a gente precisa nesse momento, por incrível que pareça, é segurar um pouco a economia para combater a inflação. Corre como um pano de fundo, além de toda essa questão da guerra comercial, as possíveis medidas que passem pelo Congresso. Com isso, o mercado acompanha de perto falas de Haddad e Lula nesse sentido.”
O dólar comercial fechou em queda de 1,21%, cotado a R$ 5,6967. A moeda foi diretamente impactada pelo intenso fluxo estrangeiro e, ao final da sessão, a pesquisa Datafolha acelerou ainda mais este movimento. Na semana, a divisa estadunidense recuou 1,64%.
O Datafolha apontou que a aprovação do presidente Lula caiu a 24%, enquanto a reprovação foi a 41%. É o pior desempenho do petista, na pesquisa, nos seus três seus mandatos.
O economista-chefe e sócio da Lev Asset, Jason Vieira, classifica a queda do dólar como resiliente, e que o carry trade tende a seguir ajudando a divisa brasileira por mais uma semana.
Vieira explica, contudo, que neste momento é difícil definir com precisão o suporte do real, o que só deve ocorrer a partir do dia 21, que é quando se encerra o ciclo de dólar iniciado em dezembro.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em queda. O movimento está diretamente ligado à queda do dólar, sinais de desaceleração da economia brasileira e melhora do humor com o cenário doméstico.
Por volta das 16h58 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,780% de 14,835% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 14,765%, de 14,930%, o DI para janeiro de 2028 ia a 14,555%, de 14,830%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 14,500% de 14,800% na mesma comparação. O dólar opera em baixa de 1,19%, cotado a R$ 5,6982 para venda.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão desta sexta-feira em campo misto, enquanto investidores analisavam as mais recentes atualizações sobre a política tarifária do presidente Donald Trump e novos dados econômicos do país.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,37%, 44.546,08 pontos
Nasdaq 100: +0,41%, 20.026,8 pontos
S&P 500: 0,00%, 6.114,63 pontos
Confira abaixo a variação dos índices na semana:
Dow Jones: +0,55%
Nasdaq 100: +2,58%
S&P 500: +1,47%
Cynara Escobar, Paulo Holland e Larissa Bernardes / Safras News
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