São Paulo – O Ibovespa operou todo o dia no campo negativo, chegando a cair mais de 1,00% com os investidores repercutindo a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que sinalizou que pode elevar a taxa de juros básica (Selic) acima dos 0,75 ponto porcentual (pp) e os principais papéis que compõem o índice caíram. Mas, perto do fechamento, a Bolsa desacelerou a queda após o discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano), Jerome Powell. Com isso, fechou em baixa de 0,38%, aos 128.767,45 pontos.
O discurso de Powell “não trouxe surpresa e tranquilizou o mercado”. O presidente do Fed disse que “se a inflação persistir elevada, o Fed tem ferramentas para agir”.
Para a analista Stefany Oliveira, da Toro Investimentos,”o drive que dita o movimento de queda é a repercussão da ata do Copom que mostra uma preocupação inflacionária por parte do Banco Central, com isso é possível uma a postura mais hawkish e um aumento de juros mais agressivo”.
A analista da Toro Investimentos observa que poucos ativos estão no movimento comprador, principalmente siderurgia e mineração, que tiveram expressiva queda na semana passada. “Esse movimento não é suficiente para sustentar a alta do Ibovespa”.
Segundo Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, comenta que o impacto negativo na Bolsa foi o comunicado do Banco Central sinalizando que pode ter um aumento de 1,00 para a próxima reunião e “as empresas como varejistas sentem com a alta de juros e caem”.
As ações das Lojas Americanas (LAME4) e Magazine Luíza (MGLU3) baixaram 1,53% e 1,41%, nessa ordem. Lojas Renner (LREN3) e B2W (BTOW3), que desvalorizavam 1,05% e 0,93%, respectivamente.
O dólar comercial fechou em queda de 1,11% no mercado à vista, cotado a R$ 4,9660 para venda, abaixo de R$ 5,00 pela primeira vez desde 10 de junho de 2020. A sinalização do Copom de que uma elevação de 1,0 ponto percentual (pp) foi discutida na reunião da semana passada, conforme divulgado hoje na ata do encontro, animou o mercado doméstico. Somado a isso, o presidente do Fed, Jerome Powell, deu hoje na Câmara dos Deputados norte-americana as primeiras declarações após a decisão de política monetária e foram vistas como “dovish” (suave).
“O Powell fez os apontamentos do que o Fed avalia e o discurso dele segue na linha de inflação transitória. Ele continua com uma postura “dovish”, o que analistas já esperavam. A política monetária nos Estados Unidos não será alterada no curto prazo e sim, no médio prazo”, avalia a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
A redução na percepção de risco do cenário doméstico e a privatização da Eletrobras, segundo a economista, corroboraram para a queda da moeda. A ata do Copom divulgada hoje, no qual sinalizou que o Banco Central está com a “porta aberta” para uma alta de 1,0 pp da taxa Selic, acima da magnitude de 0,75 pp aplicada nas três últimas reuniões, ajudou a sustentar as perdas mais intensas na sessão, abaixo de R$ 5,00, em meio à entrada de fluxo estrangeiro com a possibilidade de a taxa básica de juros encerrar o ano acima de 6%, pelo menos.
“Isso se deve à expectativa de inflação mais evidente levando o BC a elevar os juros de forma mais consistente até o fim do ano. A expectativa era de Selic em alta de 6,00% ao fim de 2021, agora passa para 6,50%. E quanto mais o nosso juro sobe, mais o real fica atrativo. Há perspectivas de que a moeda caia mais”, avalia o assessor de investimentos da Zahl, Flávio de Oliveira, acrescentando que problemas internos, como as eleições de 2022, podem limitar uma queda mais acentuada.
Analistas avaliaram a ata como “mais dura” (“hawkish”) do que o comunicado com a decisão de política monetária na semana passada, quando o Copom elevou a Selic a 4,25%. Para o economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos, a principal novidade do documento foi a informação de que o Comitê já havia discutido a hipótese de alta de 1,0 pp para esta reunião de junho. “O que fornece maior materialidade a essa alternativa”, avalia.
Campos acrescenta que, ainda que existam condicionantes para o Banco Central adotar a estratégia de um ajuste monetário “mais tempestivo”, é preciso reconhecer que os riscos aumentaram diante das informações trazidas pela ata. “Desta forma, a persistência de uma inflação corrente mais elevada e a continuidade da alta das expectativas de inflação para 2022 seriam fatores capazes de chancelar uma elevação de 1,0 pp na Selic em agosto”, ressalta.
Amanhã, o destaque na agenda de indicadores fica para a leitura preliminar de junho dos índices dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da atividade industrial e de serviços dos Estados Unidos e na zona do euro. Abdelmalack, da Veedha, diz que os resultados podem pesar nos ativos já que o mercado está de olhos nesses números para entender a condução da política monetária nas regiões.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta com os investidores ajustando-se à ata da mais recente reunião do Copom ocorrida na semana passada, quando a taxa básica de juro foi elevada a 4,25% ao ano. Operadores e analistas consideraram que a ata veio ainda mais dura do que o comunicado divulgado junto com a decisão de juro da semana passada, especialmente pela indicação de que a alta na taxa Selic só não foi maior por falta de sinalização ao mercado.
Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 5,735%, de 5,610% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 7,270%, de 7,115%; o DI para janeiro de 2025 ia a 8,23%, de 8,19% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,67%, de 8,64%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia em alta, com o Nasdaq alcançando nova máxima no fechamento, depois que o presidente do Fed sinalizou que o aperto monetário no país não é iminente.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +0,20%, 33.945,58 pontos
Nasdaq Composto: +0,79%, 14.253,30 pontos
S&P 500: +0,51%, 4.246,44 pontos