São Paulo – Apesar de balanços trimestrais positivos e da defesa do teto de gastos pelo presidente Jair Bolsonaro, o Ibovespa acelerou perdas ao longo do pregão e fechou em queda pelo terceiro dia seguido, com baixa de 1,62%, aos 100.460,60 pontos. Investidores seguem atentos ao noticiário sobre a questão fiscal e parte do mercado mostra ceticismo sobre o compromisso fiscal e com o andamento de reformas.
O índice ainda foi pressionado por ações de peso, como as da Petrobras, enquanto o cenário externo também não ajudou em função do impasse sobre o pacote de estímulos econômicos nos Estados Unidos. O volume total negociado foi de R$ 33,2 bilhões.
“Tivemos muitos balanços hoje, alguns positivos, mas me parece que o fluxo comprador está um pouco cansado e não me espantaria se o Ibovespa cair um pouco. Muita coisa já está precificada e precisaríamos de mais novidades positivas para continuar subindo”, disse o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino.
O analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, lembra que, com exceção de ontem, alguns pregões têm mostrado a mesma dinâmica, com o Ibovespa piorando no final do dia e destaca que o mercado ainda está preocupado com teto de gastos em meio a dúvidas sobre a manutenção da recuperação da economia. “A pergunta é: como fazer a economia andar?”, questiona.
Depois do dia tenso ontem, com a saída de dois secretários especiais do Ministério da Economia e preocupações o risco fiscal, Bolsonaro se reuniu com o restante da equipe e com os presidentes da Câmara e do Senado para fazer um pronunciamento e reiterar o compromisso com o teto de gastos e com reformas.
No entanto, investidores querem ver como essas questões ficarão na prática. Uma reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo” afirma, por exemplo, que o governo prepara uma medida provisória com crédito de R$ 5 bilhões para gastos com obras de infraestrutura.
Entre as ações, papéis com grande participação no índice, como as da Petrobras (PETR3 -2,99%; PETR4 -2,76%), fecharam com fortes perdas, em um dia ainda de queda dos preços do petróleo. Os papéis da Vale (VALE3 -1,85%) e do Itaú Unibanco (ITUB4 -2,53%) também pesaram negativamente.
Já as maiores perdas do índice foram da BRF (BRFS3 -7,57%), com investidores digerindo o balanço trimestral da companhia e perspectivas para os próximos trimestres. Ao lado da BRF, ficaram as ações da BRMalls (BRML3 -6,89%) e da Eletrobras (ELET3 -6,74%; ELET6 -5,65%), com a companhia admitindo dificuldades para a sua privatização.
No exterior, as Bolsas norte-americanas fecharam mistas com a ausência de avanços nas negociações entre democratas e republicanos sobre o pacote de estímulos para recuperar a economia da crise causada pelo coronavírus.
Amanhã, investidores ficarão atentos a uma série de indicadores, a começar pelos dados de produção industrial, vendas no varejo e investimentos chineses. Já na Europa, serão divulgados a segunda leitura do PIB da zona do euro e, nos Estados Unidos, há uma série de números, com destaque para vendas no varejo, produção industrial, custos de mão de obra, entre outros. Já no Brasil, o IBC-Br, índice de atividade do Banco Central, pode dar mais sinais de como está se recuperando a economia doméstica.
O dólar comercial encerrou o dia de hoje em queda de 1,45%, cotado a R$ 5,3690 para venda, em dia de ajuste técnico e otimismo dos investidores após o encontro de ontem de Jair Bolsonaro, com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, respectivamente, para tratar do limite de gastos do governo.
“Desde ontem há um movimento com maior intensidade de zeragem de posição doada (aposta na queda), que também se reflete na ‘zerada’ do hedge (defesa) no câmbio”, resume o operador da Renascença Corretora, Luís Felipe Laudísio.
Sobre o encontro político, “ontem, o presidente Bolsonaro se reuniu com o ministro Paulo Guedes e os presidentes da Câmara e Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre para alinharem expectativas e discursos sobre o respeito ao limite de gastos públicos e houve um consenso sobre o assunto. Isso é crucial para a manutenção de boas expectativas dos investidores domésticos e internacionais”, explicaram Régis Chinchila, Sandra Peres e Marco Harbich, analistas da Terra Investimentos.
Na agenda de amanhã, o Banco Central (BC) divulga o Indice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), um termômetro para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. O IBC-Br deve manter o ritmo de recuperação e subir 5,05% em junho em relação a maio, conforme a mediana das projeções coletadas pelo Termômetro CMA. Já na comparação com junho de 2019, o indicador deve recuar 7,10%.
Em base mensal, as projeções de dez instituições financeiras variam entre altas de 2,50% e +6,70%, com a média em +5,02%. Em termos anuais, as previsões apontadas por nove do total de ‘casas’ consultadas vão de queda de 9,10% a -5,50% (média em -7,00%).
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta, anulando o alívio vindo da defesa do presidente Jair Bolsonaro ao chamado “teto de gastos”, após o clima de apreensão gerado pela “debandada” na equipe econômica do ministro Paulo Guedes. A continuidade do movimento de recolocação de prêmios refletiu também o desmonte de posição entre os investidores, que passaram a demandar mais prêmio de risco.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,81%, de 2,77% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,00%, de 3,95% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 estava em 5,82%, de 5,71%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,85%, de 6,71%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano fecharam o dia sem uma direção comum em meio aos dados positivos de emprego e às incertezas que rondam um novo pacote de estímulos.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: -0,29%, 27.896,72 pontos
Nasdaq Composto: +0,27%, 11.042,50 pontos
S&P 500: -0,20%, 3.367,14373,43 pontos