São Paulo – O pregão de hoje apresentou muita volatilidade. Desde a abertura, o Ibovespa acompanhou a movimentação das bolsas norte-americanas, que apontaram queda na maior parte do dia. As perdas foram mais acentuadas no período da tarde, puxadas pelas ações de empresas de tecnologia. O Ibovespa fechou 1,47% aos 114.835,43 pontos.
Segundo o Luiz Henrique Wickert, analista sênior da sim;paul, todo esse movimento lá fora que reflete aqui deve-se ao temor dos investidores de que existe alta da inflação nos Estados Unidos. “É muito cedo afirmar isso, mas o mercado está temeroso”, concluiu.
Mesmo depois do Federal Reserve (Fed- banco central norte-americano) ter sinalizado na reunião de ontem que a taxa de juros no país se manteve entre zero e 2,25%, as tresauries (títulos da dívida do Tesouro dos Estados Unidos) com vencimento em 10 anos apontaram alta de 1,75% e isso preocupa todo o mercado local e lá fora.
O analista acredita que amanhã será um dia de recuperação, após uma jornada de muita oscilação.
O dólar comercial fechou em queda de 0,34% no mercado à vista, cotado a R$ 5,5670 para venda, em sessão volátil e de forte amplitude com investidores digerindo a decisão de política monetária do Fed, no qual refletiu em avanço do rendimento das taxas futuras de juros dos títulos do governo norte-americano, com o vencimento de 10 acima de 1,70% em toda a sessão. Aqui, investidores reagiram à decisão do Banco Central (BC) de subir a taxa Selic em 0,75 ponto percentual (pp), indo a 2,75%, acima do esperado.
A moeda norte-americana ganhou força no exterior apoiada no avanço das treasuries, o que limitou uma queda mais intensa ante o real, contrariando apostas de que a taxa de câmbio poderia permanecer abaixo de R$ 5,50. “Após registrar desvalorização próxima de 2% na primeira hora de negócios, o dólar aqui perdeu força impulsionado pela demanda de importadores”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes.
Ele acrescenta que, apesar disso, o dólar operou descolado do exterior reagindo ao “choque” na taxa Selic e à mudança de postura do BC na condução da política monetária ao sair de um tom “dovish” (suave), no qual manteve a taxa no menor piso histórico, a 2,00%, desde meados do ano passado, para “hawkish” (duro).
“Teve como pano de fundo o recrudescimento da inflação, alimentada, basicamente, pela alta dos preços dos alimentos e dos combustíveis”, diz Gomes. No comunicado, a autoridade monetária indicou que deverá promover uma nova alta de 0,75 pp na próxima reunião do Copom, em maio. “O tom [do documento] sugere que a autoridade pode ter em mente um ajuste forte, embora curto, da Selic. O sucesso dessa estratégia dependerá dos dados”, reforça a equipe econômica do Itaú.
O chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, destaca que o investidor estrangeiro “não veio de imediato” para o mercado local já que o “risco país está muito alto e a pandemia de covid-19 está descontrolada” no país. “Isso acaba não atraindo o gringo. Com isso, esse bom humor é local e pontual. Amanhã ou segunda-feira, a gente pode ver um câmbio mais pressionado de novo”, avalia.
Amanhã, em meio à agenda de indicadores esvaziada, analistas apostam que o dólar ainda deverá reagir às decisões dos bancos centrais e com investidores locais atentos ao cenário fiscal e ao avanço da pandemia no país.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta robusta, especialmente nos vencimentos mais curtos, depois de o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) ter elevado sua taxa básica de juro, a Selic, em 75 pontos-base, a 2,75% ao ano na reunião encerrada ontem à noite.
Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou o dia com taxa de 4,575%, de 4,250% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 6,160%, de 5,945%; o DI para janeiro de 2025 ia a 7,37%, de 7,39% ontem; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,86%, de 7,88%, na mesma comparação.
Mais uma vez as ações de gigantes da tecnologia e de outras empresas que alto crescimento foram as vilãs das perdas em Wall Street, que viu o Nasdaq encerrar o dia com perda superior a 3% e o S&P em sua pior performance diária em três semanas em meio a mais uma onda de vendas de títulos do Tesouro. Nesse ambiente, os principais índices de ações norte-americanos fecharam perto das mínimas da sessão.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: -0,46%, 32.862,30 pontos
Nasdaq Composto: -3,02%, 13.116,20 pontos
S&P 500: -1,47%, 3.915,46 pontos