São Paulo – A Bolsa fechou em alta de 1,58%, aos 114.064,36 pontos, acompanhando o bom humor do mercado externo com a repercussão das decisões, na véspera, do Comitê e Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) e do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano). A autoridade monetária brasileira subiu os juros (Selic) em 6,25% ao ano (aa) e sinalizou que deve adotar outro ajuste de igual magnitude para o próximo encontro em outubro. O caso da Evergrande, gigante do setor imobiliário, ficou no radar dos investidores.
As ações dos bancos subiram em bloco e as empresas ligadas a comodities também tiveram alta, com exceção da Vale (VALE3), que fechou no zero a zero. A Embraer (EMBR3) foi o destaque de alta na sessão de hoje com ganho de mais de 12% devido à parceria com a Bristow Group.
Rodrigo Natali, estrategista-chefe da Inversa o mercado reflete o dia seguinte ao Copom. “A Selic veio dentro das expectativas do mercado e a autoridade monetária reiterou-se que esse é o ritmo até o final do ano, com a taxa de 8,25%, mas com uma linguagem mais hawisk [favorável ao aperto monetário para conter a inflação]”. A autoridade monetária também utilizou a palavra “contracionista”, levando os investidores a acreditarem em mais altas para o ano que vem. “A taxa de 8,25% torna-se um piso informal para esse movimento”.
Embora a alta de mais de 1% na sessão de hoje, o estrategista-chefe da Inversa disse que a Bolsa deveria ter uma performance melhor com “os ventos favoráveis vindo de fora”. Natali enxerga um dia “meio estranho em que o mercado não está pleno porque talvez as pessoas estejam sentindo o peso dos juros [sobem no longo prazo] e saída de capital da Bolsa com riscos menores”.
Leonardo de Santana, analista da Top Gain, afirmou que a Bolsa mostra um dia de ânimo após das decisões de política monetária aqui e nos Estados Unidos e maior tranquilidade com a China. “O mercado local já trabalha com a expectativa de aumento da mesma magnitude na taxa Selic para as próximas reuniões e acredito que deva fechar o ano com os juros em 8,25% ao ano.”
O analista da Top Gain ressaltou que aguarda pelos próximos passos em relação aos precatórios. “O mercado fica de olho na parte do risco fiscal. A negociação do início da semana para adiar o parcelamento das dívidas para 2022 e 2023 seria uma saída para ficar dentro da lei orçamentária, mas não necessariamente pagar de fato”.
O dólar fechou em R$ 5,3120, com alta de 0,16%. A moeda norte-americana oscilou durante a sessão, mas sempre próxima à estabilidade. Este movimento é um reflexo da tensão política que envolve a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, mesmo com o alívio fiscal gerado pelo possível para os precatórios.
Na visão do gestor de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, “mesmo com a bolsa em alta, o dólar não dá refresco. O dólar está se acomodando em um patamar preocupante, o preço dele está muito alto”. O gestor acredita que a moeda norte-americana tenha se descolado da bolsa.
Nagem não enxerga com otimismo a aparente solução para os precatórios: “Foi um certo alívio, mas não creio que irá resolver o problema fiscal”. Ele ainda acredita que o principal problema é o político, com ruídos como a CPI da Covid, deixando o “cenário muito ruim”.
A participação de Bolsonaro na assembleia da ONU contribui para este escopo: “A participação dele foi muito mal vista. Isso afasta o investidor estrangeiro que vai, no mínimo, pensar duas vezes antes de investir no Brasil”, analisa Nagem.
De acordo com o head de análise macroeconômica da GreenBay, Flávio Serrano, “o discurso do (presidente do Federal Reserve – Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell foi mais hawkish (mais propenso à remoção de estímulos) do que o comunicado em si. O Powell deixou o tapering (remoção de estímulos) em aberto, mas ele deve começar ainda em 2021”.
Serrano acredita que, nesta quinta-feira, os principais fatores que impactam no câmbio são internos: “Talvez haja uma revisão nos aspectos político e fiscal caso a PEC dos precatórios seja aprovada”, pontua. Ele também entende que, de acordo com os fundamentos, o dólar estaria na casa dos R$ 4,70, mas os entraves domésticos não permitem que isso aconteça.
De acordo com o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, “o dólar está caindo por um ambiente de menor aversão ao risco, como as notícias sobre a Evergrande”.
Rosa acredita que o Fed “foi hawkish, mas nem tanto”. O economista acredita que a instituição está propensa a adiar o início do tapering caso a economia dos Estados Unidos não se mostre pronta.
Já o Comitê de Política Monetária (Copom) não apresentou nenhuma novidade, e aumentou em 1 ponto percentual a Selic (taxa básica de juros): “Isso mostrou que os juros devem subir nas próximas reuniões. Acredito que já na primeira reunião do comitê, em 2022, chegue a 9%”, pontua Rosa.
Se por um lado a costura de um acordo para solucionar os precatórios, é bem-vinda, por outro ainda pouco se sabe sobre isso: “Ainda existem dúvidas não apenas sobre os precatórios, mas também sobre a reforma do imposto de renda. O ambiente político, porém, está mais tranquilo”, avalia o economista da SulAmérica.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) de longo prazo fecharam alta, reagindo à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a Selic (taxa básica de juros) em 1 ponto porcentual (pp), para 6,25% ao ano, e sinalizar a expectativa de que ela “avance no território contracionista” – o que sugere um aperto monetário mais intenso que o anteriormente previsto.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 7,095%, de 7,130% no ajuste anterior. A queda, neste contrato de curto prazo, ocorre porque o comunicado do Banco Central veio menos incisivo do que uma parte do mercado esperava.
O DI para janeiro de 2023 finalizou a sessão em 8,910%, de 8,820%; o DI para janeiro de 2025 fechou a 9,950%, de 9,800% antes; e o DI para janeiro de 2027 em 10,350%, de 10,200%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o contrato futuro do dólar com vencimento em outubro estava em alta de 0,22%, para R$ 5.311.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos encerraram em alta com os investidores impulsionados pela decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de ontem.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos:
Dow Jones: +1,48%, 34.764,82 pontos
Nasdaq Composto: +1,04%, 15.052,2 pontos
S&P 500: +1,21%, 4.448,98 pontos