Bolsa e dólar fecham em queda diante de correção e cautela

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São Paulo – A Bolsa fechou em queda de 0,77%, aos 119.739,96 pontos, em um movimento de correção técnica, após a forte alta da sexta-feira motivada pelo discurso positivo do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano).  As ações dos bancos também refletiram negativamente no pregão de hoje. Os investidores mantiveram cautela com o cenário político e fiscal e a liquidez foi baixa.

Para Viviane Vieira, operadora de renda variável da B.Side Investimentos, a Bolsa está em queda devido a “uma certa correção e agora vemos volatilidade e risco”.

Na visão da operadora de renda variável da B.Side Investimentos, o mercado enfrenta um cenário de volatilidade e risco, “só não sabe lidar com incertezas porque não é possível precificar”. Ela acredita que as incertezas foram amenizadas após a fala do presidente do Fed, em Jackson Hole, e do Lira [Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados] defendendo a responsabilidade fiscal, na semana passada.

Viviane ressaltou que a Bolsa deve ter um movimento de alta daqui pra frente. “O mercado tem uma visão positiva até o final do ano e deve bater 130 mil, 140 mil pontos”. Ela lembrou que no ano que vem tem eleições e o presidente Jair Bolsonaro pretende aumentar o Bolsa Família para obter mais votos para sua reeleição. “Isso é um ponto de alerta para o mercado porque poderia gerar preocupação com o rompimento do teto de gastos”.

Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, afirmou que após os ganhos observados na sexta-feira com o presidente do Federal Reserve sinalizando que pode reduzir a compra de ativos até o final do ano, a Bolsa “está corrigindo o movimento, mas acredita que pode reverter a direção”.

Zuffo comentou que a situação política-institucional e fiscal gera apreensão no investidor e citou que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) estipulou, na sexta-feira, limite para o pagamento de precatórios para 2002, reduzindo de R$ 89 bilhões para cerca de R$ 39,9 bilhões e o Bolsa Família poderia ser pago via crédito extraordinário, ou seja, fora do teto de gastos. “Até o mercado ter uma visibilidade maior de como os gastos vão ocorrer no ano que vem, fica essa incerteza”. Atrelado a isso, o mercado fica atento à manifestação marcada para o dia 7 de setembro.

Por aqui, os investidores seguem acompanhando a crise hídrica podendo impactar fortemente para a aceleração da inflação e impedir a recuperação da atividade econômica. O Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2022 (PLOA), que o governo tem de entregar até amanhã ao Congresso, também está no radar do mercado.

Scott Hodgson, gestor da Galapagos, afirmou que esta semana o Brasil vai ficar atento a vários dados dos Estados Unidos. “Na sexta-feira será divulgado o payroll [dados de relatório de trabalho], e se o número vier forte, pode sinalizar que o Fed pode continuar com os planos de “tapering” no final do ano ou no começo de 2022 e o mercado vai acompanhar os dados de covid nos suprimentos da cadeia global”.

O dólar comercial fechou em R$ 5,1890, com queda de 0,15%. A moeda norte-americana foi afetada pelos números abaixo do esperado do Indice de Vendas Pendentes de Imóveis Residenciais dos Estados Unidos, que caíram 1,8% em julho ante junho, enquanto a expectativa era de +0,5%.

Segundo o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno, “os dados americanos, abaixo do esperado, favoreceram os emergentes”.

Rostagno também destaca que esta é uma semana importante no exterior, com a divulgação do payroll (índice que mede o desempenho do mercado de trabalho nos Estados Unidos) na próxima sexta.

Rostagno pontua que, a depender dos resultados, o mercado irá apostar quando irá começar o tapering (remoção de estímulos) na economia norte-americana. “O mercado está operando em uma banda estreita de oscilação”, analisa o estrategista.

De acordo com o CEO da Top Gain, Alison Correia, “o posicionamento do Jerome Powell foi muito importante para o mercado, mas esta semana é carregada de informações, será agitada”.

Correia destaca o cenário doméstico: “Amanhã é o limite para a entrega da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para o governo. Além disso, o Paulo Guedes (ministro da Economia) não deixou claro como irá rolar os precatórios”, pontua.

Por mais que na última semana o dólar tenha caído frente ao real, isso não é algo duradouro: “Eu acho que o dólar tende a subir, e que deve chegar em R$ 6 até o final do ano, devido a todo o contexto interno, como a crise energética e os precatórios”, prevê Correia. Ele ainda diz que este cenário repele os investimentos estrangeiros no país: “Somos os últimos da fila”.

Para o diretor superintende de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, “internamente o dólar comercial deve abrir de estável a leve viés de alta, mas a semana promete fortes emoções, com a divulgação do payroll de agosto na sexta-feira e aqui com o crescimento da tensão pelo 7 de setembro”.

A manutenção dos estímulos, na visão de Rugik, trouxe um viés positivo ao mercado. “No mercado internacional de câmbio o dólar opera na linha d’água frente a seus pares e trabalha levemente valorizado diante das divisas emergentes e ligadas às commodities”, complementa.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em leve queda depois de passarem praticamente todo o pregão acompanhando as oscilações do dólar em relação ao real e variando dentro de margens bastante estreitas, com os investidores se posicionando para uma semana de agenda econômica carregada tanto no Brasil quanto no exterior enquanto acompanham com atenção o tumultuado cenário político local.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 6,740%, de 6,755% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,395%, de 8,45%; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,33%, de 9,40% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 9,74%, de 9,77%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano fecharam em alta, com o S&P 500 e o Nasdaq renovando recordes graças à forte performance do setor de tecnologia. A exceção foi o Dow Jones, que terminou o dia em queda após oscilar a sessão toda entre perdas e ganhos.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,16%, 35.399,84 pontos

Nasdaq Composto: +0,90%, 15.265,90 pontos

S&P 500: +0,43%, 4.528,79 pontos