Bolsa e dólar fecham perto da estabilidade, com ligeiro viés de queda de olho no cenário externo

794

Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – O Ibovespa interrompeu uma sequência de quatro altas seguidas e fechou em leve queda de 0,14%, aos 103.031,50 pontos, refletindo a cautela vista no exterior à espera da decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e as quedas de ações de varejistas e de bancos. O volume total negociado foi de R$ 17,7 bilhões.

No cenário externo, os índices norte-americanos fecharam mistos depois de caírem na maior parte do dia, oscilações que foram acompanhadas de perto pelo mercado brasileiro, que também ensaiou uma melhora durante à tarde.

Mais cedo, as ações do setor de tecnologia chegaram a pesar em Wall Street, mas depois os índices reduziram perdas com notícias de que a China estaria interessada em voltar a comprar mais produtos agrícolas dos Estados Unidos. Investidores, no entanto, seguem sem grande apetite ao risco enquanto esperam por decisões de bancos centrais, como a do BCE na próxima quinta-feira.

“Estamos vivendo um momento um pouco estranho, o mercado está meio dividido entre a confiança e a cautela. Não vejo investidores e fundos querendo vender ou sair, mas ao mesmo tempo não estou vendo dinheiro novo vindo. Acredito que o mercado vai andar de lado, para subir precisar ter volume”, disse o economista da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo. A avaliação é que para voltar a ficar mais confiante também será preciso, além de volume, novos fatos, como a confirmação de quedas de juros e estímulos na economia chinesa, que afastem o temor de uma desaceleração mais forte da economia global.

Entre as ações, as de varejistas pesaram, com as do Magazine Luiza (MGLU3 -5,50%), B2W (BTOW3 -4,87%), Via Varejo (VVAR3 -3,71%) e Lojas Americanas (LAME4 -2,98%) mostrando as maiores quedas do Ibovespa. A notícia de que a Amazon irá lançar no Brasil o seu programa Prime, que inclui frete grátis e assinatura de seu serviço de streaming, afetou o setor, com receio de maior concorrência.

As ações de bancos também pesaram para a queda do índice, como as do Itaú Unibanco (ITUB4 -1,94%) e do Bradesco (BBDC4 -1,76%), depois de mostrarem fortes altas nos últimos três pregões.

Na contramão, entre as maiores altas ficaram as ações do setor de educação, Kroton (KROT3 2,80%) e Yduqs (YDUQ3 3,41%), e de siderúrgicas, como da Gerdau (GGBR4 2,67%) e CSN (CSNA3 2,69%), que acompanharam a alta dos preços do minério de ferro.

Amanhã, com poucos indicadores na agenda, investidores devem continuar a esperar pela decisão do BCE na quinta-feira, além de seguirem acompanhando as negociações entre China e Estados Unidos. Na cena doméstica, o diretor de investimento da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo, destaca que o mercado deve “ficar de olho na agenda de Guedes [ministro da Economia, Paulo]”, como na questão da volta da CPMF, que pode encontrar resistência. Além disso, seguirá atento ao cronograma de votação da reforma da Previdência no Senado.

O dólar comercial fechou com ligeira queda de 0,04% no mercado à vista, cotado a R$ 4,0970 para venda, em pregão marcado pela volatilidade com a moeda operando sem rumo único em boa parte dos negócios em linha com o exterior em meio às incertezas com a guerra comercial entre Estados Unidos e China, com o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) e com o mercado se preparando para a sequência de decisões de políticas monetárias dos principais bancos centrais do mundo. Aqui, a reforma da Previdência segue no radar do mercado e o adiamento da votação do texto no Senado para a próxima semana causou incômodo.

Para o analista de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, investidores “buscaram posições defensivas”, o que trouxe fortes oscilações ao dólar hoje. “Foi um dia de agenda esvaziada, tanto aqui quanto no exterior”, reforça. Ele reforça, porém, que quanto às notícias, o foco segue concentrado no desfecho do Brexit, em que o Reino Unido tem até 31 de outubro para sair da União Europeia.

O futuro das taxas básicas de juros entra no preço, diz o analista. Na quinta-feira, tem a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) em que o mercado aguarda o anúncio de um pacote de estímulos na zona do euro, além de corte de 0,1% na taxa de depósitos. Para o operador de câmbio de uma corretora local, após a reunião do BCE e do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), na semana que vem, as incertezas do mercado tendem a diminuir.

A moeda estrangeira caminha para completar um mês acima do patamar de R$ 4,00. Segundo esse operador, para que o dólar caia abaixo deste nível é preciso que “alguns caminhos sejam trilhados”, como uma postura mais firme dos bancos centrais. “Ou seja, afrouxamento monetário e novos estímulos que possam ser capazes de melhorar o desempenho das economias. Além de Estados Unidos e China rumarem a um acordo [da guerra comercial]”, avalia.

Amanhã, na agenda de indicadores, o destaque fica para o índice de preços do produtor (PPI, na sigla em inglês) que pode sinalizar os passos do Fed na semana que vem, diz o analista da Toro Investimentos, Matheus Amaral. “Além da expectativa para o BCE”, acrescenta.