Bolsa e dólar mostram recuperação apesar de coronavírus

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Por Danielle Fonseca e Flávya Pereira

São Paulo – As medidas tomadas pela China para proteger a sua economia e os indicadores de atividade acima do esperado nos Estados Unidos fizeram o Ibovespa tentar uma recuperação, fechando em alta de 0,76%, aos 114.629,21 pontos, depois de cair quase 4% na semana passada em função do coronavírus. O volume total negociado foi de R$ 21,5 bilhões.

“Essa recuperação hoje está muito ligada ao posicionamento do governo chinês em suprir o mercado, fazendo uma injeção importante de recursos”, disse o sócio-analista da Eleven Financial Research, Raphael Figueredo.

Apesar de a Bolsa de Xangai ter fechado em baixa de 7% na volta do feriado do Ano Novo chinês, o Banco do Povo da China (Pboc,o banco central chinês) reduziu as taxas de juros de recompra reversa e injetou US$ 173,0 bilhões para dar liquidez no sistema bancário, em uma tentativa de fornecer apoio a uma economia que sofre com o surto de coronavírus.

Para o gestor de portfólio da Infinity Asset, Fernando Siqueira, havia o receio de que essa reabertura do mercado chinês pudesse ter sido ainda mais nervosa, o que não se confirmou.

Além das medidas chinesas, os analistas destacam o noticiário um pouco menos negativo sobre o coronavírus, a atividade industrial mais forte nos Estados Unidos e o fato de o primeiro dia do mês ter ajustes de carteiras, todos fatores que colaboraram para a alta de hoje. Nos Estados Unidos, o atividade industrial medida pelo índice do Instituto de Gerência e Oferta (ISM, na sigla em inglês) subiu para 50,9 pontos em janeiro, de 47,8 pontos (revisado) em dezembro. Analistas previam alta para 48,5 pontos.

Entre as ações, as maiores altas do Ibovespa ficaram com as ações da Braskem (BRKM5 6,02%), da Qualicorp (QUAL3 5,69%) e da Totvs (TOTS3 5,05%). As ações de frigoríficos, com destaque para as da BRF (BRFS3 3,33%), também seguiram entre as maiores altas refletindo um novo surto de gripe aviária na China, que levou o governo a abater cerca de 18 mil frangos e deve elevar a demanda chinesa por proteínas.

Na contramão, as maiores baixas foram do IRB Brasil (IRBR3 -9,05%), da Eletrobras (ELET6 -1,56%) e da Ambev (ABEV3 -1,45%). As ações do IRB refletiram carta ao cotistas da gestora Squadra, que questionou os dados contábeis da companhia. O IRB negou que seus dados não sejam confiáveis e disse que a Squadra tem interesse na queda dos papéis, já que possui posição vendida.

Na agenda de amanhã, investidores devem ficar atentos à produção industrial do Brasil e da China. A semana também ainda vai contar com uma série de indicadores, balanços corporativos e com a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

“No mesmo lugar o Ibovespa não deve ficar”, disse o analista da Eleven, afirmando que os eventos são relevantes e podem trazer alguma volatilidade, junto com o coronavírus. “A volatilidade deve permanecer, já que ainda há incertezas em relação ao vírus e seu impacto na economia chinesa, mas não diria que vai acelerar ou ser como na semana passada”, completou.

Já o dólar comercial fechou em queda de 0,86% no mercado à vista, cotado a R$ 4,2500 para venda, interrompendo a sequência de três altas seguidas em sessão de correção após renovar máximas histórias na sexta-feira, acima de R$ 4,28. Além de acompanhar o desempenho mais positivo das principais moedas de países emergentes.

“O ajuste respondeu a um movimento de realização de ganhos recentes, com a desmontagem parcial de compras e fluxo comercial, levando o real a ser a moeda que mais valorizou ante o dólar. Uma certa correção ao exagero de sexta-feira”, comenta o gerente de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek.

As moedas emergentes também buscaram recuperação após a queda nos últimos dias e com a volta do mercado chinês do feriado prolongado.

“Foi uma leitura positiva dos estímulos anunciados pela China, minimizando os efeitos da doença, apoiando uma reação nos ativos de risco”,diz Esquelbek.

Amanhã, na véspera da decisão de política monetária do Banco Central (BC), a agenda local deve ter peso com os números de dezembro da produção industrial.

“É o primeiro dado do último mês de 2019. As expectativas quanto a saúde da economia local em 2019 começam a se moldar com ele”, avalia o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti, ressaltando que o indicador ficará no radar do mercado doméstico. Analistas preveem queda de 0,50%.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, acrescenta que a tendência é que a moeda siga se recuperando, mas com o mercado atento ao coronavírus que deverá manter a volatilidade dos mercados em meio às incertezas com os impactos da doença na atividade chinesa.