São Paulo – O Ibovespa fechou em queda em um pregão no qual a alta dos juros dos títulos da dívida dos Estados Unidos (Treasuries) no mercado secundário afastou os investidores das ações nas principais bolsas de valores do mundo.
Analistas de mercado dão como certa a aprovação de um pacote de estímulo de US$ 1,9 trilhão à economia dos Estados Unidos, bem como uma nova rodada de auxílio emergencial no Brasil. “O que antes justificava a alta agora é o motivo de queda”, observa em tom jocoso um experiente operador de renda variável.
Apesar de os sinais de um novo ciclo de expansão das commodities darem continuidade ao rali de algumas classes de ativos de risco, as dúvidas dos investidores em relação aos impactos econômicos de mais estímulos inibiram o fôlego dos mercados de ações pelo mundo. Segundo Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, a expectativa era de que isto detivesse um eventual avanço do Ibovespa hoje.
As ações da Petrobras e da Vale, que no início seguraram um pouco o índice, perderam força com o passar das horas e o Ibovespa acompanhou o recuo em Wall Street. Com isso, a bolsa brasileira fechou em queda de 0,96%, aos 119.198,97 pontos. O indicador futuro do Ibovespa, com vencimento em abril, também recuou mais de 1%, para 119.290 pontos.
Analistas consideram que a recente escalada dos juros norte-americanos sinaliza a expectativa dos investidores de que os EUA estão finalmente vencendo a pandemia, com o avanço da vacinação abrindo o caminho para uma retomada robusta da atividade econômica. O que agora incomoda os investidores é que a inflação aumente em um ritmo mais forte do que o esperado.
Por aqui, os agentes do mercado financeiro levam em consideração que o governo não terá como se furtar de uma nova rodada de auxílio emergencial, uma vez que o avanço da doença diante do lento ritmo da vacinação inibe a recuperação econômica. A questão é se a retomada do auxílio emergencial terá alguma contrapartida fiscal ou se colocará em risco o teto de gastos.
Entretanto, nenhum tema da agenda econômica está na pauta desta quinta-feira. A Câmara dos Deputados adiou as votações previstas para hoje para discutir a prisão do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ). Ele foi detido depois de proferir ofensas e críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF) e de pedir a destituição dos ministros da Corte.
O dólar comercial fechou em alta de 0,55% no mercado à vista, cotado a R$ 5,4430 para venda, no maior valor de fechamento em duas semanas, acompanhando a desvalorização das moedas de países emergentes em meio à busca por ativos de renda fixa nos Estados Unidos. Aqui, o movimento de cautela prevaleceu com investidores atentos à política local, à espera de novidades em relação ao auxílio emergencial.
O dreitor da Correparti, Ricardo Gomes, destaca a “sensibilidade” do real e das divisas emergentes pares como o peso mexicano, a lira turca e o rublo rubro ante o dólar em meio à valorização dos títulos de dívida do governo norte-americano, as treasuries, no qual o vencimento de 10 anos opera ao redor de 1,30% desde o início da semana.
“Os níveis mais elevados das taxas de longo prazo colocaram uma pressão no real, já que o aumento de atratividade dos ativos de renda fixa está induzindo uma fuga de capitais em direção aos Estados Unidos”, avalia o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz.
Gomes reforça que a cautela local com a política corroborou para a alta da moeda, que chegou a operar acima de R$ 5,45. “A crise fiscal pela qual o país atravessa, potencializada pelas consequências da pandemia [do novo coronavírus] ajudou. Os desdobramentos em torno da prisão do deputado federal Daniel Silveira [PSL-RJ] continuam no radar dos investidores”, diz.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, descartou que a prisão do parlamentar afetará as discussões em torno das pautas econômicas no Congresso, reforçando que vacinas, auxílio emergencial e a PEC Emergencial continuam sendo “prioridades” na Câmara e no Senado. O presidente da Casa, Rodrigo Pacheco, afirmou hoje que a PEC Emergencial deverá entrar em votação na próxima semana.
Amanhã, o destaque na agenda de indicadores são as prévias de fevereiro dos índices dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade industrial e de serviços da zona do euro, Estados Unidos e Reino Unido, que devem trazer uma leitura sobre a velocidade da recuperação econômica nas regiões. Ortiz, da Guide, aposta em recuo do dólar reverberando os comentários “mais positivos” dos líderes do Congresso.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão com leves oscilações, com um ligeiro viés negativo em alguns vértices. Os investidores estão à espera de novidades sobre a nova rodada do auxílio emergencial, mas a tensão política desde a prisão do deputado bolsonarista Daniel Silveira rouba a cena em Brasília, elevando as incertezas no cenário doméstico e deixando a agenda do governo em segundo plano.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,400%, de 3,415% no ajuste da véspera; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 5,06%, repetindo o ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,63%, também no mesmo nível de ontem; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,27%, de 7,30%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano fecharam em baixa, com as empresas de tecnologia pesando sobre a performance do dia e em meio à cautela dos investidores.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: -0,38%, 31.493,34 pontos
Nasdaq Composto: -0,72%, 13.865,40 pontos
S&P 500: -0,44%, 3.913,97 pontos