São Paulo – A decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) de manter a taxa de juros dos Estados Unidos inalterada e afirmar que continuará a usar todas as ferramentas possíveis para a apoiar a economia, além de balanços mais fortes do que o esperado, fizeram o Ibovespa fechar em alta de 1,43%, aos 105.605,17 pontos. O índice não encerrava acima dos 105 mil pontos desde o dia 4 de março (107.224,22 pontos). O volume total negociado foi de R$ 27,9 bilhões.
Para o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, o Fed veio dentro das expectativas do mercado, que já esperava sinalizações mais “dovish”. “As Bolsas sobem refletindo a confirmação de que o Fed segue vigilante e atuante na crise e, que irá, por exemplo, preservar o crédito para promover a recuperação”, disse.
A analista da Toro Investimentos, Paloma Brum, destaca que os índices norte-americanos também aceleraram alta com a decisão do Fed e falas do Powell, o que refletiu por aqui. “O otimismo nos mercados de ações reflete a manutenção de estímulo de política monetária por parte do Banco Central da maior economia do mundo, o que traz uma expectativa de que a recuperação econômica continuará a ser sustentada”, afirmou.
As sinalizações do Fed ganham importância em meio a uma desaceleração da recuperação vista nos últimos indicadores norte-americanos e em meio a discussões no Congresso em torno do pacote de ajuda econômica de US$ 1 trilhão que pode ser implementado pelo governo. Powell reconheceu essa desaceleração e afirmou que a retomada está totalmente ligado ao controle da covid-19, mas disse ser cedo para avaliar o ritmo da recuperação.
Entre as ações, vários papéis refletiram balanços e expectativas de resultados, caso das ações da CSN (CSNA3 5,69%), que ficaram entre as maiores altas do Ibovespa após dados acima do esperado pelo mercado no segundo trimestre. Além da CSN, os papéis da Vale (VALE3 4,32%) ficaram entre as maiores altas, refletindo a forte alta dos preços do minério de ferro e expectativas sobre o balanço que será divulgado hoje após o fechamento do mercado.
Os papéis do Santander (SANB11 3,51%) são outros, já que embora o resultado do trimestre tenha sido considerado dentro do esperado, analistas ainda viram pontos positivos e esperam que, em geral, os balanços de bancos venham melhores. Também tiveram altas expressivas os papéis ligados ao consumo como Natura (NTCO3 6,73%) e Lojas Renner (LREN3 3,86%).
Na contramão, as maiores quedas foram das ações da Cielo (CIEL3 -3,51%), que refletiram resultados financeiros mais fracos que o previsto, da Minerva (BEEF3 -4,40%) e da Gol (GOLL4 -3,30%).
Na agenda de indicadores de amanhã, o destaque é a leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) do segundo trimestre dos Estados Unidos, além dos pedidos de seguro-desemprego do país. A Alemanha também divulgará seu PIB do trimestre, enquanto na eurozona será publicada a taxa de desemprego.
“Acompanharemos o fluxo de dados econômicos a serem divulgados na maior economia do mundo (a começar pelo PIB amanhã) e a evolução da pandemia no país – ponto reforçado diversas vezes por Powell durante a entrevista”, disse o economista da Guide Investimentos, Victor Beyrutti Gulglielmi.
O dólar comercial fechou em alta de 0,21% no mercado à vista, cotado a R$ 5,1730 para venda, em cautela reagindo ao comunicado de política monetária do Fed autoridade monetária, Jerome Powell, menos otimista quanto ao desfecho da pandemia do novo coronavírus e, consequentemente, quanto aos números da atividade econômica.
Para a equipe econômica da Commcor, o comunicado se assemelhou ao da reunião de junho, tendo como destaque a relevância dada pelo comitê aos próximos capítulos da pandemia do novo coronavírus, os quais serão determinantes para o ritmo da atividade econômica norte-americana.
A analista da Toro Investimentos, Paloma Brum, avalia a postura do banco central dos Estados Unidos como “dovish”, de acordo com a expectativa do mercado.
“Com foco no estímulo à recuperação da atividade econômica. O Fed demonstrou que seguirá essa linha de conduta [de manutenção dos juros] no curto prazo, uma vez que o vírus impõe riscos consideráveis. Além de sinalizar que fará o que estiver ao alcance para ajudar a economia do país”, destaca.
Brum acrescenta que a direção altista da moeda reagiu à ênfase da fala de Powell sobre os riscos consideráveis da pandemia que ainda permanecem sobre a economia. O presidente da autoridade monetária fez alguns comentários que reforçaram a preocupação com o avanço do coronavírus, a disposição do Fed em “fazer tudo ao alcance”, a garantia de recuperação firme e limitação aos danos da pandemia.
Os Estados Unidos seguirão no foco do mercado amanhã em meio aos números dos pedidos de seguro-desemprego na semana encerrada no sábado e à leitura preliminar do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, no segundo trimestre, no qual a previsão é de queda de 34,7%. Também sai a prévia do PIB da Alemanha, no mesmo período.
“O mercado já está precificando uma recessão técnica nos Estados Unidos. Se o dado vier pior do que as projeções de contração, certamente, o mercado pode azedar. Se vier melhor, tem que ser um número bem abaixo do esperado para a moeda reagir de forma mais positiva”, ressalta a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
As taxas dos contratos futuros de juros (DIs) passaram da queda para estabilidade nos vencimentos mais curtos e para alta nos vencimentos mais longos. Segundo analistas de mercado, o fato do Fed ter mantido seu discurso dentro menos otimista levou o dólar a alta e os contratos se ajustaram a esse avanço da divisa.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2021 tinha taxa de 1,92%, de 1,93% no ajuste do último pregão; o DI para janeiro de 2022 estava em 2,74%, de 2,74% do ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 3,80%, de 3,80%; o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 5,43%, de 5,36% na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano fecham o dia em alta, apoiados nos ganhos do setor de tecnologia, depois que o Fed manteve a taxa de juros próxima de zero e reafirmou seu compromisso em usar todas as suas ferramentas para continuar apoiando a economia.