São Paulo – Após chegar a subir mais de 1% mais cedo, o Ibovespa reduziu levemente os ganhos na etapa final do pregão e fechou em alta de 0,88%, aos 101.353,54 pontos. Balanços trimestrais melhores do que o esperado pelo mercado impulsionaram o índice, apesar de incertezas sobre as declarações do presidente Jair Bolsonaro em torno do teto de gastos e do cenário externo mais negativo. O volume total negociado foi de R$ 28,2 bilhões.
Na semana, marcada por volatilidade em meio a preocupações fiscais e pela debandada da equipe econômica – com a saída de mais dois secretários especiais do Ministério da Economia -, o índice recuou 1,38%, na segunda semana seguida de perdas.
Para o sócio e head da área de produtos da Monte Bravo Investimentos, Rodrigo Franchini, alguns resultados trimestrais foram surpreendentes e o fato de o presidente ter voltado a defender o teto de gastos hoje, ajudaram na alta de do índice hoje.
Mas também não há razão para muito otimismo. “Mesmo que o governo venha a público de novo desmentir a história sobre flexibilizar o teto de gastos, o mercado já está olhando de maneira mais cautelosa. Sem falar na possibilidade de o Guedes [Paulo, ministro da Economia] perder força, sendo que já perdeu parte da sua equipe nesta semana”, disse.
Bolsonaro admitiu ontem à noite, em live nas suas redes sociais, que a discussão sobre furar o teto existe e pediu patriotismo ao mercado. Porém, hoje, voltou a afirmar que tem compromisso fiscal e acusou a imprensa de mentir, mantendo um discurso dúbio. Também foi divulgada hoje uma pesquisa do Datafolha que mostrou que a popularidade do presidente cresceu, o que traz temores de que recorra ao aumento de gastos e políticas populistas para manter uma avaliação positiva do governo, já visando a sua reeleição.
Entre as ações, as maiores altas do Ibovespa foram de empresas que divulgaram balanços trimestrais, caso da Suzano (SUZB3 5,91%), Natura (NTCO3 8,18%), Hering (HGTX3 10,26%) e JBS (JBSS3 5,19%). Além disso, as ações do setor financeiro, com grande participação no índice, também mantiveram ganhos, caso do Itaú Unibanco (ITUB4 0,93%).
Na contramão, as maiores perdas foram de redes varejistas que também divulgavam seus balanços trimestrais, com investidores digerindo os dados e em dúvida de como será o desempenho do setor daqui para frente, caso da B2W (BTOW3 -6,88%) e das Lojas Americanas (LAME4 -3,00%).
No cenário externo, as Bolsas norte-americanas fecharam mistas em meio a incertezas sobre o pacote de estímulos esperado para ajudar a economia do país, com ainda um impasse entre republicanos e democratas. Já em relação aos indicadores, como pedidos de seguro-desemprego ontem e vendas no varejo hoje, a visão é que a economia segue se recuperando, mas sem muita força. Na Europa, por sua vez, as Bolsas fecharam em queda mais expressiva em meio a aumento de casos de covid-19. O Reino Unido impôs quarentena de 14 dias a todos viajantes oriundos da França, Holanda e Malta.
Na semana que vem, a agenda de indicadores no exterior e no Brasil começa sem dados relevantes, com o destaque da semana devendo ficar com a ata do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), na quarta-feira. A segunda-feira, porém, é dia de vencimento de opções sobre ações, o que pode trazer volatilidade, assim como o noticiário em torno da questão fiscal, que continuará a ser monitorado de perto pelo mercado.
Para Franchini, é preciso aguardar “os próximos capítulos” sobre o tema, mas o Ibovespa pode se manter na faixa que vem sendo negociado, em torno de 100 mil a 105 mil pontos. “O índice só cairia abaixo de 100 mil pontos, caso essa conversa sobre flexibilizar o teto de gastos evolua, realmente ocorra”, disse.
O gestor da Rio Verde Investimentos, Eduardo Cavalheiro, também acredita na manutenção do Ibovespa em torno desses patamares no curto prazo. “Depois de subir por alguns meses, o Ibovespa pode ficar em torno desse número. Para continuar a subir, precisa de uma melhora de fundamentos”, afirmou, embora destaque que os juros baixos seguem atraindo compradores de Bolsa.
A sessão foi de pouca emoção para o dólar comercial. Sem novidades, ficamos no mais do mesmo onde prevaleceu a cautela diante da preocupação fiscal do Brasil, após live realizada ontem em que o presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que há discussões a respeito da possibilidade de o governo gastar mais do que o permitido pela regra. Isso fez com que o dólar comercial fechasse o dia em alta de 1,15%, sendo negociado a R$ 5,4310 para venda. Na semana o avanço foi de 0,35%.
Outro ponto que o investidor vem acompanhando e que ainda não teve novidades é a discussão em torno do impasse na aprovação do pacote de estímulo nos Estados Unidos, onde republicanos e democratas não chegam a um acordo final. “Esta é ano de eleição nos Estados Unidos e ninguém quer dar o braço a torcer”, explicou um analista de um grande banco.
O presidente Jair Bolsonaro reconheceu que há discussões internas no Planalto a respeito da possibilidade de o governo gastar mais do que o permitido pela regra de limite de gastos, embora até agora não haja nada concreto neste sentido.
“A ideia de furar teto existe, o pessoal debate. Qual é o problema? Na pandemia, já furamos o teto em mais ou menos R$ 700 bilhões. Dá para furar mais R$ 20 bilhões? Se for para vírus, não tem problema nenhum”, disse ele durante transmissão em vídeo feita ontem à noite em suas redes sociais.
“Esse ano é muito claro que os países vão estourar o teto da dívida. São muitos benefícios acontecendo ao mesmo tempo. Estão dando muito dinheiro para tentar conter a crise caudada pela pandemia. A preocupação maior é em 2021, quando a maioria dos países vão conseguir fazer a lição de casa e conter esses gastos, enquanto o Brasil seguirá gastando”, afirmou um operador de câmbio de uma grande corretora.
“Espantosa e surpreendentemente, depois de vinte quatro horas de ter convocado a imprensa a fim de defender o teto de gastos, o presidente da República, Jair Bolsonaro, questionou, em uma live feita no dia de ontem, qual o problema em furar o mesmo teto de gastos. A existência da ideia de descumprir o comprometimento fiscal coloca o mercado doméstico em cautela. Como se não bastasse, o Senado também já rompeu o “pacto”, culminando em mais um fator que adentra a equação de precaução fiscal”, explicou, em relatório, Pedro Molizani, Trader Mesa de Câmbio Travelex Bank.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão com leves oscilações, sem um viés único, rondando os níveis dos ajustes de ontem. A crescente preocupação com a questão fiscal impediu uma tentativa de realização na curva a termo, após as altas recentes, ao mesmo tempo em que a colocação de prêmios também perdeu força. Essa indefinição deixou em segundo plano os dados sobre a atividade doméstica.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,80%, de 2,81% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,01%, de 4,00% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 5,81%, de 5,82%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,83%, de 6,85%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia mistos e, mais uma vez, o S&P 500 fracassou em superar o recorde alcançado em fevereiro. A incerteza sobre um acordo de estímulos adicional ditou o ritmo das negociações. Na semana, no entanto, os índices consolidaram ganhos.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +0,12%, 27.931,02 pontos
Nasdaq Composto: -0,21%, 11.019,30 pontos
S&P 500: -0,01 %, 3.372,85 pontos