São Paulo – Após um dia de forte volatilidade, o Ibovespa voltou a acelerar ganhos no fim do pregão seguindo o movimento das Bolsas norte-americanas, e subiu pelo segundo dia seguido, com alta de 2,35%, aos 106.625,41 pontos. A expectativa de que bancos centrais mundiais ajam de forma coordenada para minimizar impactos negativos do novo coronavírus na economia e a possível criação de uma vacina de forma mais rápida ajudaram o índice a subir.
Na máxima do dia, o índice chegou aos 107.220,02 pontos, chegando a avançar quase 3%, já a mínima foi de 103.779,26 pontos perto da abertura, com o Ibovespa chegando a operar em queda. O volume total negociado hoje foi de R$ 32,4 bilhões.
“A notícia de que os ministros do G7 irão conversar por telefone ajudou. O mercado está precificando um movimento de ação coordenada por parte de bancos centrais mundiais”, disse o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo.
Os ministros das Finanças do G-7 (grupo composto por Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá) manterão uma conversa por telefone nesta semana para coordenar sua resposta ao surto. Enquanto isso, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial afirmaram, por meio de comunicado, que colocaram seus instrumentos de financiamento e seu corpo técnico à disposição de países que precisarem de ajuda para combater a disseminação do vírus.
Na semana passada, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) já havia sinalizado que pode agir, o que faz investidores precificarem uma queda de juros. Além disso, hoje, o banco central do Japão também deu indicações de estímulos.
Com isso, o dia foi de alívio nas principais Bolsas no exterior, com destaque para a aceleração dos índices nos Estados Unidos no fim do dia, com o Dow Jones subindo 5,09%. Segundo um operador de renda variável, a afirmação do presidente norte-americano, Donald Trump, de que o governo está discutindo como pode acelerar a criação de uma vacina contra o vírus também ajudou no movimento.
Entre as ações, diversos papéis mostraram recuperação, caso das ações da Vale (VALE3 4,82%) e da CSN (CSAN3 10,01%), que ficaram entre as maiores altas do índice e refletiram a forte valorização dos preços do minério de ferro. Já a maior alta foi das ações da Hypera (HYPE3 19,27%), que atingiram sua máxima histórica reagindo o acordo com a Takeda Pharmaceutical International para aquisição de 18 medicamentos na América Latina pelo preço de US$ 825 milhões.
Na contramão, as maiores quedas foram da CVC (CVCB3 -10,61%), do IRB Brasil (IRBR3 -7,66%) e da Yduqs (YDUQ3 -3,41%). Os papéis da CVC reagiram a possíveis erros contábeis detectados pela empresa.
Apesar do otimismo visto com a possível ação de bancos centrais, alguns analistas afirmam que embora elas possam trazer alívio no curto prazo, há dúvidas se evitará uma recessão em algumas economias. Além disso, a previsão é que a volatilidade continue nos mercados. “A volatilidade está grande e vai seguir assim. Parte do mercado ainda acredita que o coronavírus vai ser mais complicado e ele vai continuar sendo o grande determinador dos movimentos”, disse o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira.
Bandeira ainda lembra que, além do coronavírus, entrarão no radar de investidores as eleições presidenciais norte-americanas, com uma série de prévias previstas para ocorrer amanhã, apontando os possíveis candidatos.
O dólar comercial fechou em alta de 0,13% no mercado à vista, cotado a R$ 4,4900 para venda, renovando a máxima histórica de fechamento pelo oitavo pregão seguido e engatou a nona alta seguida. Em sessão volátil, depois de oscilar próximo à estabilidade sem rumo único na segunda parte dos negócios, a moeda acelerou os ganhos na reta final dos negócios.
O gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, destaca que as sinalizações de estímulos de autoridades monetárias como o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) e o Banco do Japão (BoJ), na tentativa de minimizar os possíveis efeitos negativos do coronavírus, animaram os mercados.
“Aqui, saída de investidores estrangeiros com o enfraquecimento das moedas [de países] emergentes, como o peso chileno e mexicano levaram o dólar a atingir novamente o patamar de R$ 4,50”, comenta o gerente da Correparti.
A leitura de que o Banco Central (BC) brasileiro pode seguir a tendência dos bancos centrais e cortar a taxa básica de juros (Selic) a 4,00% na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) entre os dias 17 e 18, sustentou o dólar em alta.
“Se a Selic cair mais [hoje em 4,25% ao ano], o dólar vai a R$ 5,00. Quanto menor os juros, mais alto o dólar perante a nossa moeda. E não vai adiantar o Fed cortar juros. Agora, se o banco central dos Estados Unidos cortar e a Selic seguir no atual nível, aí poderemos ver um respiro da moeda”, avalia o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz.
Amanhã, com a agenda de indicadores menos forte, a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, ressalta que os mercados deverão ficar “vulneráveis” ao noticiário relacionado ao coronavírus, que atinge até o momento, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 61 países e acumula mortes na Ásia, Estados Unidos, Europa e Oriente Médio.