Bolsa encerra em alta, com atenção a indicadores e Vale; dólar sobe

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São Paulo – O principal índice da B3 subiu 0,57%, aos 105.069,69 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro teve alta de 0,84%, aos 105.630 pontos. O giro financeiro foi de R$ 26,281 bilhões. Na semana, o Ibovespa registrou elevação de 2,78%. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

A Bolsa manteve a tendência de alta apresentada ontem, após a aprovação da PEC dos precatórios no plenário do Senado e divulgação de dados fracos do do mercado de trabalho americano (Payroll), que favorecem a manutenção do capital estrangeiro no Brasil, mas foi impactada pela queda da Vale (-2,20%), que tem forte peso no índice.

O mercado também digeriu os resultados da produção industrial de outubro, divulgados nesta manhã, que vieram abaixo do esperado pelo mercado e mostraram queda de 0,6% frente setembro, no quinto resultado negativo consecutivo, acumulando nesse período perda de 3,7%. Na comparação com outubro de 2020, na série sem ajuste sazonal, a queda foi de 7,8%.

Para José Costa, economista-chefe da Codepe Corretora, o movimento de hoje reflete a aprovação da PEC, ontem no Senado, e o forte peso das ações da Vale e da Petrobras no Ibovespa. A ação da petrolífera vem ganhando desde que a companhia divulgou seu plano de investimentos quinquenal, com forte projeção de pagamento de dividendos atrelada ao preço do barril de petróleo.”A medida que for diminuindo a divida em dólar, a Petrobras pode pagar dividendo extra. Se tudo der certo nos cinco anos, eles podem distribuir de US$ 10 bilhões a US$12 bilhões por ano, um yield de 13%, 14%. O petroleo tá caindo, ela tá subindo, todo mundo começou a comprar. Então, a Petrobras está fazendo a diferença”, avalia.

Já a Vale, após subir na semana, mesmo com o minério de ferro e seus pares caindo lá fora, hoje ajustou esse movimento e fechou em queda de 2,72%. “O mercado achou um patamar e vai trabalhar em cima dele, vai ficar em 102 a 108 mil pontos. Quando a bolsa cai e esse ano caiu bem. No começo do ano, todo mundo saiu da renda fixa e veio para a Bolsa, com a expectativa de ganhar muito. E a inflação não está sendo provilégio nosso.”

Para os próximos dias, Costa afirma que a atenção dos investidores deve se voltar, principalmente, ao juro americano, com vistas a um possível aceleração da redução de compras de ativos (tapering) na próxima reunião de política monetária. “É a pá de cal, é o grande número que pode fazer o mercado sofrer se não olharmos com cuidado.” Na sua visão, “está se preparando um terreno”, que começou quando o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell disse em tirar o tapering. “Se aumentar para 30%, significa que a grana acaba em abril. E aí ele terá que dar dois aumentos de juros, o que impacta na Nasdaq. As ações vão ficar caras. Nos Estado Unidos, para subir juros, tem um processo e, subindo, o dinheiro vai ficar caro, muita coisa será desmontada no mundo, então, esse mês será crucial para avaliar quando o FED vai retirar o tapering. Estou atento ao movimento do juro americano.”

Para Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA, “ainda acho que não dá para falar em rali de fim de ano, mas a sequência do melhor pregão do ano e a continuidade nesta sexta-feira já dá um respiro para o investidor, tão machucado nestes últimos cinco meses.

O avanço da resolução à bagunça fiscal – ainda que ruim, mas que dá números para os economistas trabalharem – foi o trigger que permitiu o início de uma recuperação nos mercados locais.”

Em relação aos indicadores, Nishimura destaca que o dia foi de importantes divulgações de indicadores econômicos no exterior, com destaque, para o Payroll, relatório de empregos norte-americano, que mostrou geração bem abaixo do esperado, 210 mil novas vagas em novembro, contra consenso de 550 mil e 531 mil em outubro. “Grande parte dos executivos das maiores empresas têm comentado que o cenário segue desafiador em termos de salários cada vez mais competitivos para contratar. Por outro lado, a taxa de desemprego caiu de 4,6% para 4,2%. Tais dados sugerem que o mercado de trabalho segue apertado, embora haja um progresso pior no retorno da folha de pagamento ao nível anterior à pandemia.”

O dólar comercial fechou em R$ 6,6770, com alta de 0,31%. A valorização da moeda norte-americana é reflexo do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês), que foi de 58,7 em outubro para 58 pontos no mês posterior. O resultado, contudo, sugere aquecimento econômico.

Segundo o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, “o câmbio pegou pressão pela PMI, mas o movimento às sextas-feiras costuma ter menos volatilidade pela proximidade com o final de semana”.

Nagem também acredita que hoje o dólar não sofre influência dos temas domésticos: “Os precatórios deram uma animada no mercado, a questão interna hoje não preocupa”, pontua.

O payroll (folha de pagamentos), referente a novembro, anunciou a criação de 210 mil vagas (expectativa de 538 mil vagas), queda da taxa de desemprego para 4,2% (expectativa de 4,5%) e elevação da média salarial por hora em 0,3%, indo para US$ 31,03.

Para o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otavio Leal, “do conjunto de dados, o mais relevante foi o de salários, que com alta da inflação nos Estados Unidos diminui o poder de compra”.

Leal acredita que mesmo com o número de postos criados ter sido abaixo das expectativas, existe um ponto a ser observado: “A taxa de desemprego, antes da pandemia, estava em 3,5%, e os resultados de hoje apontam que os Estados Unidos estão muitos próximos a isso, ao pleno emprego”, analisa.

Quanto à reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que ocorre no próximo dia 15, Leal não acredita que os resultados de hoje serão significativos: “Não serão os dados do payroll que farão o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mudar sua política”, destaca.

De acordo com boletim da Ajax Capital, “as atenções se voltam aos dados de payroll. Por aqui, incertezas com relação a proposta de fatiamento de Arthur Lira (DEM-MG), pode pressionar ativos de risco, após pregão de forte alta na última sessão”.

“Existe expectativa de continuidade da recuperação do mercado de trabalho, com maior volume de contratações, menor da taxa de desemprego e crescimento dos salários por hora trabalhada”, analisa a Ajax.

As taxas longas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda após aprovação da PEC dos Precatórios, nesta quinta-feira (2), e com um payroll norte-americano abaixo das expectativas.

O DI para janeiro de 2022 tinha taxa de 8,900% de 8,854% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 11,310%, de 11,580%, o DI para janeiro de 2025 ia a 10,890%, de 11,260% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,960% de 11,270%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar com vencimento para janeiro operava em alta, cotado a R$ 5,67 para venda.

Os principais índices de mercados de ações norte-americano fecharam a sessão em queda, com o Nasdaq caindo perto da casa de 2%, após a divulgação do relatório de empregos nos Estados Unidos ter desapontado o mercado e do aumento da circulação da variante Ômicron em diversos países.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,17%, 34.580,08 pontos

Nasdaq Composto: -1,92%, 15.085,5 pontos

S&P 500: -0,84%, 4.538,43 pontos

Veja o acumulado dos índices na semana:

Dow Jones: -0,92%

Nasdaq Composto: -2,62%

S&P 500: -1,23%