Bolsa encerra em alta, seguindo o exterior e alta das commodities, com tarifas no radar

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São Paulo, 10 de fevereiro de 2025 – O índice Ibovespa fechou em alta, seguindo os mercados internacionais e a alta das commodities. O mercado está em compasso de espera de um decreto dos Estados Unidos que irá confirmar a imposição de tarifas de 25% às importações de aço e alumínio, prometidas pelo presidente Donald Trump neste domingo (9). Mas, até o fechamento, o anúncio não foi oficializado.

Em comentário sobre o anúncio feito por Trump, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que vai aguardar a concretização do anúncio para anunciar alguma possível medida de retaliação. O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, preferiu ressaltar a longevidade da relação comercial entre o Brasil e os Estados Unidos e mostrou disposição ao diálogo, além de reforçar o posicionamento de que o governo prefere aguardar para se posicionar em relação a uma possível retaliação à taxação do aço e do alumínio pelo presidente Donald Trump. Ele também lembrou que essa questão da taxação já aconteceu antes e reiterou que, na gestão anterior de Trump na presidência do país, houve cotas.

O presidente Luís Inácio Lula da Silva já declarou que deve retaliar os EUA em casos de taxação aos embarques dos produtos brasileiros ao país do hemisfério Norte.

O principal índice da B3 subiu 0,76%, aos 125.571,81 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro avançou 0,61%, aos 125.690 pontos. O volume financeiro foi de R$ 13 bilhões. Em Nova York, os índices de ações fecharam em alta.

Os destaques positivos ficaram com as ações da Automob (AMOB3) e Cogna (COGN3), que subiram, respectivamente, 16,00% e 5,92%. Os papéis da Vamos (VAMO3), Gerdau (GGBR4) e a Gerdau Metalúrgica (GOAU4) fecharam com valorizações de 5,41%, 5,20% e 4,81%. As ações da Gerdau e da Gerdau Metalúrgica se valorizaram com a avaliação de que podem se beneficiar das tarifas de Trump já que possuem operações nos Estados Unidos.

Os destaques negativos ficaram com as ações da Americanas (AMER3 -3,18%), Azul (AZUL4 -3,17%), Embraer (EMBR4 -2,13%), BTG PACTUAL (BPAC11 -1,77%) e RD Saúde (RADL3 -1,73%).

As ações de maior peso no índice, da Vale (VALE3) e as da Petrobras (PETR3; PETR4), avançaram 1,03%, 0,83% e 0,68%, respectivamente. As petrolíferas Petroreconcavo (+2,86%) e Prio (+0,95%) também fecharam em alta. Brava caiu 0,04).

Também avançaram Usiminas (+2,14%), CSN Mineração (+1,12%) e CSN (+1,45%).

Os ativos do setor financeiro, que também tem participação relevante no Ibovespa, fecharam majoritariamente em alta, com exceções de BTG Pactual (BPAC11), que fecharam em queda após o balanço apresentado na manhã de hoje, e Santander, que recuou 0,98%.

Alison Correia, analista de investimentos da Top Gain, acredita que o movimento desta segunda-feira é uma correção ao mau humor que tomou conta no pregão no final do pregão de sexta-feira (7), motivado pela divulgação dos dados do “payroll” nos Estados Unidos, e uma entrevista do ministro do Desenvolvimento, Wellington Dias, de que o governo avaliava aumentar o valor pago no programa de transferência de renda Bolsa Família aos beneficiários, que foi negada depois pela Casa Civil.

“Como isso foi corrigido logo depois, a gente viu que hoje, apesar das falas do Trump em que ele diz que vai taxar o aço e o alumínio em 25%, sabendo que o Brasil é o terceiro maior exportador para os Estados Unidos, o mercado por aqui não acabou entrando nesse mau humor. No decorrer do dia, a gente vê mais uma correção pelo tombo de sexta do que um mau humor pelas falas do Trump. Acho que é esperar para ver o que vai acontecer”, opina.

O analista reitera a avaliação de que a taxação ao aço pelos Estados Unidos pode beneficiar a Gerdau e que essa medida, se confirmada, vai gerar escassez e uma “corrida” pelo aço.

Para Rodolpho Damasco, sócio e head do Private Offshore da Nomos Investimento, a decisão do ex-presidente Donald Trump de reintroduzir tarifas de 25% sobre o aço e 10% sobre o alumínio importados pelos EUA reacende um problema que o Brasil já enfrentou em seu primeiro governo. “Em 2018, essas mesmas tarifas foram aplicadas sob a justificativa de segurança nacional, e o Brasil conseguiu negociar um sistema de cotas que permitiu continuar exportando sem a aplicação das taxas, mas com restrições de volume. Agora, o desafio se repete, e o impacto sobre a economia brasileira pode ser significativo”, lembra o analista.

Damasco ressalta que o Brasil é um dos principais fornecedores de aço para os Estados Unidos e avalia que essa barreira comercial pode prejudicar diretamente empresas como CSN, Usiminas e Vale, que dependem do mercado americano para escoar parte de sua produção. Já a Gerdau, por ter operações nos EUA, pode sofrer menos, pois pode atender à demanda local sem depender das exportações. “No entanto, para as empresas que não possuem essa estrutura, a necessidade de buscar novos mercados e lidar com um possível excesso de oferta interna pode pressionar margens e impactar a geração de empregos no setor”, comenta.

“Além disso, há um efeito em cadeia na economia. Se as exportações caírem, a produção pode desacelerar, afetando fornecedores, transportadoras e outros segmentos ligados à siderurgia e à mineração. Também há o risco de que essa medida gere tensões comerciais globais e represálias de outros países, dificultando ainda mais o cenário para o Brasil”, acrescenta o head do Private Offshore da Nomos.

Para Damasco, o governo brasileiro precisa agir rapidamente, como fez no passado, buscando um novo acordo que minimize os impactos dessas tarifas. “A experiência de 2018 mostrou que negociações podem resultar em condições menos desfavoráveis. Além disso, é essencial que a indústria nacional continue investindo em competitividade e diversificação de mercados para reduzir sua dependência dos Estados Unidos e evitar ser refém de medidas protecionistas que podem mudar a qualquer momento”, opina.

O dólar fechou em queda de 0,12%, cotado a R$ 5,7844. Em dia de agenda esvaziada, o mercado refletiu a indefinição sobre uma eventual sobretaxação do aço nos Estados Unidos.

Para o analista da Potenza Capital Bruno Komura, “estamos vendo o mercado aguardando o anuncio oficial das tarifas. Enquanto o mercado está reagindo aliviado. O fluxo parece continuar a favor do Brasil que é visto como barato pelos estrangeiros. No curto prazo podemos ter continuidade do movimento de baixa (em torno dos 5,80), mas não acho que seja sustentável. Conforme a gente tenha implementação dos planos do Trump e a deterioração do nosso fiscal teremos correção do câmbio indo em direção aos R$ 6,00. Um tema que tem chamado cada vez mais a atenção é o eleitoral. Talvez o mercado adiante a discussão e assim teremos uma eleição de 20 meses”.

Segundo o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, a divisa estadunidense mostra volatilidade devido ao noticiário, mas o mercado também mostra cautela com os indicadores que serão divulgados nesta semana, tanto aqui quanto nos Estados Unidos.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) frecharam em queda. Na falta de um driver específico, o mercado agiu com cautela, à espera das inflações do Brasil e Estados Unidos, que serão divulgadas nesta semana.

Por volta das 17h56 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,985% de 15,040% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 15,160%, de 15,195%, o DI para janeiro de 2028 ia a 14,985%, de 15,020%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 14,885% de 14,920% na mesma comparação. O dólar fechou em queda de 0,12%, cotado a R$ 5,7844 para venda.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o pregão em alta, com grandes empresas de tecnologia liderando o desempenho positivo, enquanto os investidores deixaram de lado a mais recente ameaça tarifária do presidente Donald Trump.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,38%, 44.470,41 pontos
Nasdaq 100: +0,98%, 19.714,3 pontos
S&P 500: +0,67%, 6.066,44 pontos

Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Safras News

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