Bolsa encerra em forte baixa, após balde de água fria do Fed nas expectativas; dólar sobe de 1,12%,

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São Paulo – A Bolsa brasileira encerrou o pregão desta quinta-feira em forte queda, atingindo os 116 mil pontos, seguindo as baixas dos mercados no exterior, com investidores rebaixando suas expectativas após as sinalizações mais duras (‘hawkish’) dadas pelo banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), na sessão da véspera. O movimento negativo também refletiu nas commodities, impactando pesos pesados do Ibovespa, como Vale e Petrobras.

O petróleo mostra ajustes após altas recentes e ajuste de rota dos investidores diante do cenário de aperto na oferta compensado pelo sinal de ao menos mais uma alta de juros do Fed. A queda do minério de ferro também refletiu a cautela do mercado em relação às políticas do governo chinês e aos desafios de demanda de longo prazo no país.

Amanhã (sexta-feira, 22) os investidores ficam atentos à divulgação do PMI dos Estados Unidos. “Após a divulgação de dados econômicos e após o discurso dos dirigentes do Fed a respeito de como o banco central vai se posicionar em relação aos juros ou qualquer dado sobre a economia norte-americana, é super importante para amparar as próximas decisões da autoridade monetária”, comenta Stefany Oliveira, analista de trade da Toro Investimentos.

O principal índice da B3 fechou caiu 2,14%, aos 116.145,05 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuou 2,22%, aos 116.890 pontos. O giro financeiro foi de R$ 21,4 bilhões. Em Nova York, as bolsas encerraram os negócios em forte queda.

Os únicos papéis a encerrar o pregão com ganho foram Natura (NTCO3, +1,94%), Suzano (SUZB3, + 1,85%), CSN Mineração (CMIN3, +1,53%), Sabesp (SBSP3, +1,20%), Vibra (VBBR3, +0,67%), Klabin (KLBN11, +0,58%) e Fleury (FLRY3, +0,20%). CPFL (CPFE3) e Copel (CPLE6) fecharam estáveis.

As piores baixas foram de Grupo Soma (SOMA3, -6,98%), Magazine Luiza (MGLU3, -6,74%), Locaweb (LWSA3, -5,83%), Arezzo (ARZZ3, -5,78%) e CVC (CVCB3, -5,41%).

Papéis de peso como Vale (VALE3, -2,61%), Petrobras (PETR3; PETR4, -1,44% e -1,60%), B3 (B3SA3, -3,80%), Bradesco (BBDC3; BBDC4, -4,13% e -3,71%), Itaú Unibanco (ITUB4, -2,42%) e demais bancos, Ambev (ABEV3, -1,63%), Bradespar (BRAP4, -3,03%), Itaúsa (ITSA4, – 1,91%), levando o Ibovespa abaixo.

A analista de trade da Toro Investimentos destaca que o setor de varejo sofreu bastante no pregão de hoje, com perdas em diversos segmentos. “Eu atribuo esse movimento à curva de juros. Hoje, o DI apresentou movimento de alta, especialmente nas vértices mais longas, que reflete o movimento de juros no resto do mundo, principalmente olhando para Estados Unidos, uma vez que a expectativa é de que posicionamento do banco central norte-americano seja mas ‘hawkish’, de aumento de juros para controlar a inflação. Isso acaba refletindo na expectativa de juros aqui e as empresas de crescimento sofrem um pouco mais”, comenta Stefany Oliveira,

Os ativos com correlação ao dólar, como Suzano, estão entre as poucas ações de operam em alta, pois, devido à forte atividade exportadora das companhias, elas se beneficiam com a valorização da moeda.

A Vale, que hoje representa 14,77% da carteira teórica do Ibovespa, representa um movimento importante de queda do índice para o pregão de hoje, influenciado pela queda do minério de ferro. A baixa da commodity reflete o pessimismo do mercado diante da expectativa de maior austeridade do Fed anunciada na mensagem da última quarta-feira, além de cautela dos players à espera de mais informações do governo chinês em relação a uma possível aceleração de implementação de políticas de incentivo e em prol da recuperação da economia. “Por um lado, temos os Estados Unidos preocupado com a inflação, por outro, temos o mercado com o pé no freio, aguardando sinalizações mais concretas em relação ao incentivo da economia chinesa.”

A forte queda da Petrobras, por sua vez, acompanha a queda das cotações de petróleo Brent e WTI, o que também impacta a Bolsa diante do peso das ações (11,7%) no Ibovespa.

Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, reforça que a forte queda da Bolsa foi muito influenciado pelos fatores externos. “Ontem, apesar do Fed não ter aumentado a taxa de juros nos Estados Unidos, durante o pronunciamento mais hawkish de Jerome Powell, ficou claro que nas próximas reuniões poderão haver novos aumentos de juros, uma vez que diversos indicadores ainda demonstram que a economia norte-americana está bastante aquecida e, com isso, a inflação continua alta para os patamares locais.

Com isso, os treasuries americanos operam em forte alta. “Hoje pela manhã, os treasuries de 10 anos nos EUA atingiram a cotação máxima desde 2007. Mesmo com a decisão do Banco Central de reduzir a Selic em mais 50bps na noite de ontem, os DIs futuros no Brasil operam em alta também acompanhando o cenário externo. A redução de juros aqui já era esperada pelo mercado. Com isso, o discurso ‘hawkish’ do Fed de ontem acabou ganhando protagonismo nas cotações dos juros futuros de hoje aqui no Brasil.”

Na sua avaliação, a queda de quase todos os papeis do Ibovespa é motivada pelo discurso duro do Fed de ontem, após manter a taxa de juros local, e as maiores baixas entre as empresas de setores que, historicamente, são mais sensíveis às variações de taxas de juros como varejo, consumo e construção civil.

Entre as maiores e raras altas no Ibovespa, Cardozo destaca que a CSN Mineração foi impulsionada por relatório da Morgan Stanley, que elevou a recomendação para compra, com preço-alvo em R$5,50, e de Sabesp, após o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, ter apresentado ao governo estadual algumas condições para apoiar a privatização da companhia. “Recentemente, a Sabesp recebeu autorização para contratar bancos coordenadores de uma futura oferta pública de ações”, lembra o analista da Matriz, que também vê a valorização da Suzano relacionada ao reajuste nos preços para a fibra de eucalipto anunciado pela empresa ontem, válido a partir de outubro.

O dólar comercial fechou em alta de 1,12%, cotado a R$ 4,9346. A moeda refletiu, ao longo de toda a sessão, a tensão com os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que pode não apenas subir as taxas mantê-las em patamar elevado por um período mais prolongado que o projetado inicialmente.

Segundo o sócio da Pronto! Invest Vanei Nagem, o cenário doméstico permanece favorável, atraente para o investidor, e hoje o dólar está alinhado ao movimento global.

Para o economista-chefe da Nova Futura, Nicolas Borsoi, “o que está pegando é a alta dos juros longos, o mercado está reprecificando isso. O recado que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) está passando é que irá manter os juros altos por muito tempo”.

Borsoi pontua que o Fed não está convicto sobre o cenário de juros a longo prazo, e que existe divergência entre os diretores da instituição sobre a taxa de equilíbrio, de que esta é maior do que supunham inicialmente.

Sublinhando que o cenário global é muito difícil, Borsoi acredita que o Comitê de Política Monetária (Copom) encontra-se em uma encruzilhada, e que o fiscal incerto faz com que o investidor peça um prêmio mais alto para aportar o dinheiro no Brasil.

Já no cenário doméstico, o Copom veio em linha com a expectativa do mercado, cortando em 0,5 ponto percentual (pp) a Selic (taxa básica de juros), que foi a 12,75%.

Para a economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli, “embora o Fed tenha mantido a taxa, trouxe um discurso mais duro, sinalizando que poderá subir novamente os juros caso a inflação permaneça elevada e a economia mais forte. Isso fez o dólar subir no final do dia e pode fazer pressão no curto prazo”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta, assim como operaram em todo este pregão pós – Superquarta, já que o mercado considerou ambas as decisões sobre política monetária de ontem com tom hawkish (mais severo).

Por volta das 16h35 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,260% de 12,260 % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,560% de 10,530%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,270%, de 10,235%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,525 % de 10,480% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 4,9305 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, aprofundando as perdas na semana, em meio ao plano do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de manter as taxas de juros em níveis mais altos por mais tempo.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,08%, 34.070,42 pontos
Nasdaq 100: -1,82%, 13.224,0 pontos
S&P 500: -1,64%, 4.330,00 pontos

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA.