Bolsa encerra em queda seguindo a aversão ao risco global; dólar sobe

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São Paulo – A Bolsa fechou queda nesta sexta-feira pelo sexto dia consecutivo, com perdas menos acentuadas que as bolsas de Nova York, mas seguindo a tendência global de aversão ao risco em meio aos crescentes temores de que os bancos centrais aumentem os juros acima do projetado após adivulgação de dados de inflação acima do esperado.

A divulgação de dados de inflação nos Estados Unidos reforçou a expectativa dos analistas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) poderá ser mais duro nas próximas reuniões, que já era sentido na véspera em relação à Europa. E para piorar, novos lockdowns anunciados pela China para o controle da Covid-19, que aumentam as dúvidas sobre o crescimento da economia.

O principal índice da B3 encerrou a sessão em queda de 1,50%, aos 105.481,23 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em junho recuou 1,87%, aos 105.670 pontos. O volume financeiro do mercado foi de aproximadamente R$ 23,8 bilhões. Na semana, o Ibovespa caiu 0,98%. Em Nova York, os índices caíram quase 3%.

Os destaques negativos foram Americanas (-10,62%), Banco Inter (BIDI11, -6,87%), Azul (-6,61%),Eletrobras (ELET6, -6,58%), Positivo (–6,38%). Os papéis da Petrobras (PETR3; PETR4) caíram 0,90% e 1,46% após União finalmente indicar nomes para o conselho e a empresa sinalizar que vai manter sua política de preços, mas nenhum reajuste foi anunciado até o momento.

Os destaques de alta foram CSN Mineração (+3,5%) e Qualicorp (+7,2%), enquanto outros nove papéis, incluindo ações de peso no índice como Vale, JBS e CSN fecharam estáveis.

Para Débora Nogueira, economista-chefe da Tenax Capital, sobre os dados doíndice de confiança do consumidor dos Estados Unidos, medido pela Universidade de Michigan e pela Thomson Reuters, a pesquisa mostrou que a expectativa de inflação longa, de 5 a 10 anos, subiu de 3% para 3,2% e o Fed estava se apoiando na expectativa de que a inflação longa estava bem ancorada. “Esse avanço não é normal, mostra grande volatilidade para esse indicador. Esperamos que na próxima reunião o Fed entregue 50 pontos, com um discurso duro, e em setembro, deve ter outra alta no ritmo de 50 pontos”, comentou.

Para Milena Araujo, especialista em renda variável da Nexgen Capital, a queda da Bolsa nesta sexta-feira reflete os dados de inflação nos Estados Unidos que vieram acima da expectativa e retiram o apetite a risco dos investidores devido ao medo de que o banco central norte-americano tenha que subir ainda mais os juros além do que está previsto e que isso gere uma recessão e impacte as economias globalmente.

Em relação à queda da ação da Eletrobras (ELET3; ELET6), de 4,94% e 6,90%, a R$ 40,94 e R$ 39,60, o especialista em Renda Variável da Nexgen Capital, Heitor Martins, explica que a queda de hoje mostra o mercado tentando se ajustar à precificação da oferta, em R$ 42, após a ação fechar em R$ 43 no pregão de ontem, além de acompanhar o fluxo negativo do mercado após a divulgação de dados de inflação bem acima da estimativa nos EUA.

No entanto, três ações na Justiça questionam a oferta. Nesta semana, as associações dos empregados da Eletrobras de Furnas e o senador Randolfe Rodrigues questionam procedimentos que permitiram a privatização da empresa.

Para Enrico Cozzolino, chefe de estratégias de curto prazo da Levante Ideias de Investimento, o movimento desta sexta-feira deve permanecer negativo, com os investidores digerindo os dados que mostram a continuidade da inflação nos Estados Unidos e às vésperas da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) no Brasil. “Agora as expectativas em relação à inflação mostram que ela não é tão transitória, com Powell, Lagarde e Yellen errando as expectativas e o mercado está precificando a elevação dos juros”, destaca.

Na visão de Cozzolino, talvez os juros dos EUA devam subir ainda mais e, com isso, gerar uma quebra de sistemas. “A questão historica da inversão da curva de juros traz um cenário de bastante incerteza.”

Em relação às sua alocações de curto prazo, o analista disse que está muito posicionado em commodities e energia e que vê isso como tendência, com o setor de energia conseguindo repassar preços. “O que tínhamos na Bolsa eram as commodities, especialmente Petrobras e Vale, que têm peso relevante na Bolsa e hoje caem, assim como o varejo e indústria, que já estavam ruins. Apesar do cenário negativo de hoje, o Ibovespa tem uma característica de ter performance melhor por causa do peso desses setores, mas a China e sua politica de covid trazem dúvidas em relação ao seu crescimento.”

Por fim, o chefe da Levante também acredita que a questão local, que inclui os planos de redução do impostos de itens essenciais aumenta a percepção negativa. “Tudo isso tem um custo para o governo e traz uma percepção de risco maior. Isso é histórico, sempre é falado aqui, e é mundial, vários países estão fazendo isso. Então no curto prazo é uma percepção negativa, mas o mercado não coloca no preço por que acaba não sendo factível, é mais um apoio ao cenário de eleição. Não vejo impacto pro Ibovespa”, opina.

O dólar comercial fechou em alta de 1,44%, cotado a R$ 4,9890. A moeda norte-americana, que chegou a passar dos R$ 5,00, foi impactada pela alta de 1,0% da inflação do Estados Unidos em maio, o que reforça a pressão para o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) ser mais agressivo no aumento dos juros. Na semana, a moeda teve valorização de 4,42%.

Segundo o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, além da inflação, o índice de confiança do consumidor medido pela Universidade de Michigan também chama a atenção”. O indicador apontou 50,2 pontos em junho, uma queda expressiva na comparação com maio (59,1 pontos). A projeção dos analistas era de 58,1 pontos.

Rostagno entende que o banco central norte-americano demorou para subir os juros e que talvez os juros tenham de ser muito acima do neutro. O estrategista também observa que o tombo do real só não é maior devido à capitalização da Eletrobras, aliviando a queda da moeda brasileira.

Segundo a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, “a leitura de hoje colocou por água abaixo a ideia de que os Estados Unidos estariam próximos ao pico da inflação. Isso abre a hipótese de uma alta de 0,75% nos juros, na reunião de julho do Fed”.

Abdelmalack ressalta que o efeito desta inflação no câmbio só não é maior devido à privatização da Eletrobras, que devir contribuir com o fluxo estrangeiro.

Para o economista-chefe da Infitity Asset, Jason Vieira, “o resultado foi péssimo, mas não me surpreendi. Os elementos estão todos desenhados para que a alta continue”.

Vieira explica, em termos comparativos, que a inflação brasileira caminha para o seu ápice, situação não observada nos Estados Unidos: “Enquanto não fizerem, com seriedade, a diminuição do balance sheet (balanço) e, principalmente, diminuir o dinheiro injetado na economia, nada vai mudar. O mesmo para a Europa”, alerta.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta após o índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos subir 1,0% em maio na comparação com o mês anterior, já descontados os fatores sazonais, segundo dados do Departamento de Trabalho do país. Analistas previam alta de 0,7%.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,370% de 13,380% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,990%, de 12,995%, o DI para janeiro de 2025 ia a 12,495%, de 12,490% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,490% de 12,470%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta, cotado a R$ 4,9780 para venda.

Os principais índices de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, com a Nasdaq recuando 3,52%, depois da divulgação dos dados de inflação para maio mostrarem a maior alta para o índice desde 1981 e virem acima do estimado pelo mercado.

Com a queda das ações, Wall Street encerra mais uma semana com perdas. A Dow Jones caiu 4,58%, sua décima semana de baixa nos últimos 11 anos. O S&P 500 e a Nasdaq caíram 5,06% e 5,60%, respectivamente, completando sua nona semana de perdas. O S&P registrou sua pior semana desde janeiro.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o
fechamento:

Dow Jones: -2,73%, 31.392,79 pontos
Nasdaq 100: -3,52%, 11.340,0 pontos
S&P 500: -2,91%, 3.900,86 pontos