Bolsa encerra primeiro pregão do mês em queda e com baixa liquidez, sem China e pressionada pelas Treasuries; dólar sobe

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São Paulo – O ambiente de aversão a risco se consolidou no primeiro pregão do mês de outubro, com a perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) irá manter os juros elevados por mais tempo. Os rendimentos (yield) das Treasuries nos Estados Unidos voltaram a subir e refletiram nas commodities metálicas e nas curvas de juros DI locais. O petróleo também subia, mas fechou em queda, em movimento de correção. Os maiores pesos do índice Ibovespa, Petrobras, Vale e bancos fecharam em queda, levando a bolsa para baixo.

Nem mesmo o adiamento do ‘shutdown’, faltando poucas horas para acabar o prazo no sábado, com a extensão, por 45 dias, do financiamento do governo pelo presidente Joe Biden, foi suficiente para manter o movimento positivo dos índices norte-americanos visto no início da manhã de hoje, que operam alta influenciados pela resolução temporária da paralisação dos serviços públicos do governo dos Estados Unidos.

A atividade industrial dos Estados Unidos medida pelo índice do Instituto de Gerência e Oferta (ISM, na sigla em inglês) subiu para 49,0 pontos em setembro, de 47,6 pontos em agosto. Analistas previam alta para 47,7 pontos.

Os mercados da China, Hong Kong e Coreia do Sul ficaram fechados, por conta do feriado da Semana Dourada, que vai até sexta-feira (6), o que deixou as commodities, especialmente o minério de ferro, operando sem referência, mas registrou queda em Singapura. O volume financeiro também mostrou uma baixa liquidez.

Esse cenário também refletiu nas curvas de juros DI, nos vértices curtos e longos, com ganho de prêmio refletindo a aversão a risco, como visto na semana passada. Com isso, as ações ligadas à economia doméstica e influenciadas por juros acabaram sendo mais penalizadas.

No Brasil, hoje, o presidente do Banco Central, Roberto Campos, disse, em palestra na manhã de hoje, colocou em dúvida se as reformas feitas no passado causaram crescimento estrutural e defendeu a condução da política monetária pelo BC.

Outro destaque foi a divulgação dos dados dos dados de emprego, que mostraram a criação de 220.884 empregos formais em agosto, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados pelo Ministério do Trabalho. Em julho, o Brasil havia criado 142.702 postos formais.

Também saiu a balança comercial brasileira, que registrou superávit de US$ 8,904 bilhões em setembro, resultado de exportações de US$ 28,431 bilhões e importações de US$ 19,527 bilhões. A corrente de comércio ficou em US$ 47,958 bilhões. Os dados foram divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. No acumulado do ano, o superávit é de US$ 71,309 bilhões.

O principal índice da B3 fechou em queda de 1,29%, aos 115.056,86 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuou 1,35%, aos 115.660 pontos. O giro financeiro foi de R$ 11,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

Na sessão de hoje, as maiores quedas foram, principalmente, de empresas sensíveis às taxas, acompanhando a abertura dos DIs: Vamos (-8,20%), MRV ON (-6,27%), Azul PN (-5,80%), IRB Brasil ON (-5,47%) e Magazine Luiza ON (-5,18%). “A queda da Vamos pode indicar investidores pessimistas com o próximo resultado de setembro”, segundo analista.

Entre as poucas altas, os destaques foram Fleury ON (+3,30%), BB Seguridade ON (+2,08%), BRF ON (+2,06%), Minerva ON (+1,60%) e Telefônica Brasil ON (+1,25%).

João Vítor Freitas, analista da Toro Investimentos, comenta que a sessão começou mais negativa, refletindo um sentimento crescente de aversão a risco que começou na semana passada, diante da expectativa do mercado de que a virada na política de juros altos do Fed só ocorra no final de 2024. “Os mercados se recuperaram um pouco no final da semana passada, mas hoje vimos uma retomada desse movimento”, avalia. “Com os mercados da China fechados, as commodities, especialmente o minério de ferro, operaram sem referência e a Vale foi a pior contribuição negativa (-160 pontos) no Ibovespa nesta segunda-feira. Com as ações da Petrobras, a perda é de 230 pontos. Os frigoríficos se beneficiam da alta dólar”, acrescenta.

Diante desse quadro, os dados dos Estados Unidos devem continuar fazendo preço na Bolsa. “O PMI divulgado hoje nos Estados Unidos mais forte que o esperado. A semana também terá muitas declarações de dirigentes do Fed que podem balançar os mercados ao longo semana, para tentar extrair qual será a política monetária daqui para a frente, se haverá outra alta dos juros ou não.”

No noticiário local, o analista destaca o dado de balança comercial “um pouco mais forte”. “Já o boletim Focus não trouxe grandes mudanças, apenas pequenos ajustes nas expectativas de IPCA e de câmbio, refletindo um câmbio mais forte, também devido aos juros altos, o que acaba servindo de parâmetro para até onde os países emergentes podem ir com as suas política monetárias. Enquanto o Fed persistir na política de juros altos, isso acaba limitando um pouco até onde o BC poderia adotar uma política mais ‘dovish'”, opina. “O Caged também veio forte, com destaque em serviços.”

A baixa da Petrobras foi influenciada pelo petróleo, que vinha de uma alta expressiva e hoje teve uma leve correção, com o Brent caindo 1,6%. “Isso ofuscou a notícia que a companhia obteve uma licença ambiental do Ibama para explorar petróleo na margem equatorial, na bacia Potiguar”, conclui o analista da Toro.

Na última sexta-feira (29/9), a Petrobras recebeu autorização do Ibama para para perfurar poços com a finalidade de pesquisa da capacidade de produção na Margem Equatorial, no segmento da Bacia Potiguar. Hoje, a empresa também disse que seguirá a determinação da sua política de governança em relação a possíveis recompras de refinarias já vendidas, em resposta a falas do ministro de Minas da Energia, Alexandre Silveira, sobre o assunto. Ele defendeu que unidades vendidas à iniciativa privada no passado recente podem ser recompradas ou ter seu controle retomado em parcerias.

Para a Genial Investimentos, o fato de Jerome Powell não ter comentado sobre a política monetária em sua fala durante a manhã sem abordar o tema da dinâmica do mercado de juros ou a economia nos Estados Unidos, o O ISM de manufatura que mostrou que a economia norte-americana continua resiliente, já que veio (49) acima do esperado (47,9, de 46,6) e uma fala da dirigente Michelle Bowman sugerindo novos aumentos de juros, levou à subida dos juros americanos no início da tarde, que contaminou todos os ativos de risco, com queda nas commodities metálicas. “Juros altos refletem em baixo crescimento econômico e menor demanda por commodities”, explica Roberto Motta, estrategista macro da Genial Investimentos.

“O mundo inteiro está contaminado pelos juros americanos. Como quebrar essa dinâmica? O comportamento dos juros é o que vai influenciar na alocação de investimentos”, analisa Motta. “Mesmo com notícias positivas de inflação na Zona do Euro e no Brasil, o mercado ainda não se enquadrou aos stop globais. Se o relatório de abertura de postos de trabalho (Jolts) e o payroll não apontarem para baixo, não sei o que vai parar os juros americanos.”

O dólar comercial fechou em alta de 0,78%, cotado a R$ 5,0661. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o temor de que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) siga com sua política contracionista e desencadeie uma desaceleração global.

Para o sócio da Pronto! Invest Vanei Nagem, o real tem performance similar ao seus pares emergentes, prejudicados pelo pessimismo global.

“Tudo dá a entender que os juros nos Estados Unidos subam ou permaneçam altos por mais tempo. Isso preocupa, já que pode gerar um desaceleração global. O sentimento é de aversão ao risco”, avalia Nagem.

De acordo com a Ajax Research, “lá fora, o acordo provisório no Congresso para evitar o fechamento parcial do governo tem impacto modesto nas bolsas internacionais, enquanto dados de índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da China impactam positivamente os preços das commodities. Por aqui, ativos devem acompanhar exterior”.

Na China, o PMI de manufatura de setembro subiu para 50,2 pontos (consenso de 50,1 pontos) e o PMI de Serviços foi a 51,7 pontos (consenso de 51,6 pontos).

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em alta o primeiro pregão da semana, acompanhando o exterior e refletindo dados do PMI industrial dos Estados Unidos que subiu para 49,8 pontos em setembro, quando analistas esperavam 48,9 pontos, mostrando uma economia robusta. Mais tarde, foi divulgado que o Brasil criou 220.884 empregos formais em agosto, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o que impulsionou a alta dos DI.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,252% de 12,240 % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 11,015 % de 10,840%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,825%, de 10,580%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,045% de 10,810% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em alta , cotado a R$ 5,0713
para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam mistos na sessão, mesmo depois de os parlamentares dos Estados Unidos terem conseguido chegar a um acordo de curto prazo que evitou uma paralisação do governo. Na contramão de Dow Jones e S&P, o Nasdaq, com foco em tecnologia, registrou seu quarto dia consecutivo de ganhos.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,22%, 33.433,35 pontos
Nasdaq 100: +0,67%, 13.307,8 pontos
S&P 500: -0,00%, 4.288,39 pontos

Com Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Agência CMA.