Bolsa fecha em alta com commodities e adiamento da PEC da Transição; mas encerra semana no negativo; dólar cai

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São Paulo – A Bolsa fechou em alta, após o susto da véspera, sustentada pela valorização das commodities no mercado internacional com a alta do petróleo e a reabertura da China, a possibilidade de que o novo governo eleito escolha nomes pró-mercado para o manejo da Economia e adiamento da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição.

No entanto, os ruídos políticos seguem no radar. A discussão sobre o texto da PEC da Transição será retomada na próxima quarta-feira (16). Apesar de encerar valorizado, o Ibovespa acumula perda de 5,0% em uma semana muito turbulenta.

As commodities brilharam na sessão de hoje e a ação de maior peso no Ibovespa, a Vale (VALE3), subiu 10,39%. CSN (CSNA3) avançou 16,80% e Usiminas (USIM5) registrou ganho de 10,57%.

O principal índice da B3 subiu 2,25%, aos 112.253,49 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro avançou 2,16%, aos 113.350 pontos. O giro financeiro foi de R$ 47,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam no positivo.

Alison Correia, CEO da Top Gain, comentou que o alívio no mercado veio com a notícia de que “pessoas próximas ao presidente eleito Lula vão procurar nomes técnicos com viés mais liberal para tocar as pautas econômicas, além de um contexto favorável externo com alta do petróleo e commodities metálicas e o adiamento da PEC da transição-pode ser que eles [parlamentares] estejam reavaliando tanto o tamanho do orçamento ou se ele ficará fora do teto de gastos”.

João Beck, economista e sócio da BRA, comentou que a alta de hoje é uma correção frágil da queda da véspera. “Os ativos que puxam o Ibovespa são bastante ligados a commodities e os do mercado interno estão sofrendo; o mercado está suscetível a ruídos políticos tanto do presidente eleito quanto da omissão do presidente no cargo”.

Segundo Acilio Marinello, coordenador do MBA em Digital Baking da Trevisan Escola de Negócios, o desempenho das Americanas (AMER3) veio ruim e Magazine Luiza (MGLU3) ficou pior que o consenso do mercado. “A perspectiva de alta de inflação-ontem o IPCA registrou elevação de 0,59% em outubro- piora ainda mais as projeções para elas no futuro, talvez a política mais austera do BC se prolongue”. Os papéis de Americanas (AMER3) caíram 3,40% e Magazine Luiza (MGLU3) perderam 13,06%.

O coordenador do MBA em Digital Banking da Trevisan Escola de Negócios disse que a abertura na China mexe com as commodities. “Esse é o principal gatilho para refletir nas commodities e acaba reverberando nas nossas empresas que são provedoras dessas commodities, impactando diretamente na nossa Bolsa”.

Marinello explicou que o país é um grande consumidor e grande provedor de produtos manufaturados. “Se aumenta a expectativa de retomada de produção dentro da China, logo é necessário mais insumos e a demanda por commodities aumenta”.

Em relação ao cenário local, Marinello disse que as falas de ontem de Lula foram desastrosas para o mercado e “a expectativa é de que o presidente eleito acomode as promessas de campanha dentro de uma política austera; a grande informação que falta para acalmar o mercado é quem vai compor essa equipe econômica, mas ele já disse que não fala disso antes de retornar da Cop 27, então será mais uma semana de instabilidade por questões políticas”.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, disse que os investidores vão ficar de olho no novo governo eleito e “seguir acompanhando a PEC de transição pois querem tirar de dentro do teto [de gastos] os auxílios e as atenções se voltam para isso; hoje tem resultados corporativos e o mercado deve digeri-los, lembrando que temos um feriado pela frente [na próxima terça, dia 15].

Moliterno também comentou que as commodities melhoraram com as medidas de flexibilização na China. “Era uma grande expectativa dos mercados e isso pode refletir aqui, principalmente, nas empresas de commodities”.

O dólar comercial fechou em queda de 1,31%, cotado a R$ 5,3250. Apesar do temor de descontrole fiscal, a sinalização de reabertura da economia chinesa e uma leve correção favoreceram a moeda brasileira. Na semana, o dólar teve valorização de 5,42%.

De acordo com o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “o mercado lá fora continua favorável para a valorização do real, mas as sinalizações do (senador) Marcelo Castro (MDB-PI) e da (presidente do PT) Gleisi Hoffmann de R$ 175 bilhões de waiver, falando que tirar o Bolsa Família do teto é consenso, afetou o real, que ficou atrás dos pares latinos nesta semana”.

“O principal para o Brasil foi a China, e isso sempre ajuda o real. Também tem um certo de movimentação de correção, mas o ambiente é de cautela com a questão fiscal”, aponta o economista da Guide Investimentos Rafael Pacheco.

Para a economista do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, “a formação ministerial do presidente eleito foi o principal motivo de aversão ao risco por aqui. Além disso, a escolha de líderes inclinados a uma maior flexibilidade das regras fiscais do país é o que traz tanta aversão ao risco. A volatilidade deve continuar”.

Quartaroli explica, porém, que os mercados lá fora abriram com maior apetite ao risco, apoiados na flexibilização das regras de combate ao Covid na China.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta, com preocupações fiscais no radar. O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,728% de 13,716% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 13,920%, de 13,630%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,305%, de 13,050% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,200% de 12,980%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,3400 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, estendendo o rali da sessão anterior após o relatório de inflação de outubro mostrar desaceleração, o que inflou Wall Street aos maiores ganhos desde o início de 2020.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,10%, 33.747,86 pontos
Nasdaq 100: +1,88%, 11.323,3 pontos
S&P 500: +0,92%, 3.992,93 pontos

Com Paulo Holland / Pedro do Val de Carvalho Gil / Darlan Azevedo / Agência CMA.