Bolsa fecha em alta com inflação nos EUA e cenário interno positivo; dólar sobe

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São Paulo -A Bolsa fechou em alta pelo novo pregão seguido, descolando do exterior, puxada pela inflação ao consumidor mais fraca nos Estados Unidos (CPI, sigla em inglês) -caiu 0,1% no mês de junho e a previsão era de leve aceleração-, o que aumenta a possibilidade de o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) cortar juros.

Somado a isso, o avanço da reforma tributária foi positivo, as ações de consumo tiveram um bom desempenho com o dado de vendas no varejo-subiu 1,2% em maio ante previsão de +0,20%, e a valorização da Petrobras ajudaram o Indice.

Apesar de se manter em alta tímida ao longo do pregão, o Ibovespa acentuou o ganho mais perto do fechamento

As ações de Magazine Luiza (MGLU3) e Lojas Renner (LREN3) subiram respectivamente 1,78% e 3,08%. Carrefour (CRB3) avançou 3,17%, enquanto Asai (ASAI3) caiu 0,44%. A Petrobras (PETR3 e PETR4) registrou alta de 0,83% e 0,68%, nessa ordem. Na ponta negativa, Vale (VALE3) caiu 0,25%.

O principal índice da B3 subia 0,84%, aos 128.293,61 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto avançava 0,92%, aos 129.355 pontos. O giro financeiro era de R$ 13,2 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

Christian Iarussi, especialista em mercado de capitais e sócio da The Hill Capital, disse que um conjunto de fatores contribui na sessão de hoje para a bolsa subir.

“O CPI americano veio negativo contra expectativa de alta, o que aumenta a expectativa de que o Fed venha a cortar juros esse ano. A economia [dos EUA] vem em um soft landing, isso acaba trazendo uma realocação por parte de países emergentes e um fluxo positivo para o Brasil. Aqui tivemos um crescimento de 1,2% nas vendas no varejo, dado acima da expectativa, e impulsionou todo o mercado local das varejistas. Outro ponto é a aprovação da regulamentação da Reforma Tributária pela Câmara [Câmara dos Deputados, 1º projeto], o que trouxe bastante otimismo, principalmente quando a gente olha a questão fiscal”.

Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que treasuries caindo, correção nas bolsas americanas e com CPI melhor podem ajudar a Bolsa se manter em alta.

“O mercado de ações tem correlação com as treasuries e elas cederam bastante- de 5 anos [queda de 3%] e de 10 anos [queda de 2,5%], o que ajuda aqui. o S&P acabou de renovar máximas então seria saudável uma correção lá fora. Se a inflação americana está mais fraca, emprego mais fraco [como visto] nas últimas leituras, é positivo pra nós, é um sinal de força; diminui o prêmio do mercado americano e pode tornar mais competitivo outros mercados de maior risco como Brasil, que está barato. A gente tem espaço pra voltar no nível de preço de janeiro [130 mil pontos]. Se vier corte [nos EUA], tem tranquilidade pra cortar aqui também. À tarde pode entrar mais fluxo pra bolsa. O dado de vendas no varejo [divulgado hoje] avançando impacta positivamente as ações de consumo [Lojas Renner, Magazine Luiza, Carrefour e CVC] e isso pode ser um ciclo benéfico pra elas”.

Para Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, o mercado tem tudo para ser positivo, após o CPI de junho e fortalecer o corte de juros em setembro, mas pode ter uma correção.

“O número saiu muito bom para os mercados tanto o cheio, o núcleo [variação de 3,3% em relação a maio], mas principalmente o mensal- esperávamos +0,10% e veio deflação de 0,10%, principalmente porque o payroll sinalizou queda na temperatura do mercado de trabalho. Além disso, o PCE foi nessa linha e ficou mais claro nos comentários de Powell no Congresso, esta semana, que está percebendo queda na inflação. Com esse cenário, fica mais consolidado o corte na reunião de setembro e porque não em dezembro, apesar que ainda tem mais indicadores para acompanhar. O tom do mercado hoje deveria ser altista”.

O sócio e head de renda variável da Vértiq Invest comentou que o Nasdaq e S&P “vem renovando máximas nas últimas 5 ou 6 sessões, faz sentido imaginar que tivéssemos uma correção depois que a informação confirmou as expectativas”.

Farto também ressaltou que os pedidos de desemprego semanal vieram um pouco acima do esperado-caíram para 222 mil ante os 238 mil na semana anterior (dado revisado), mas “nesse contexto acho positivo porque tem um cenário de soft landing-inflação mais controlada e não está perdendo tanto o ritmo de atividade no mercado de trabalho. É o melhor panorama, e isso deve repercutir ao longo da semana”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,52%, cotado a R$ 5,4413. A moeda refletiu, especialmente no período da tarde, a preocupação com o fiscal doméstico. Nem mesmo a inflação dos Estados Unidos, referente a junho, foi suficiente o enfraquecimento do real.

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de junho, nos Estados Unidos, recuou 0,1% ante projeções de +0,2%

Segundo o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, “apesar do CPI mais modesto e abaixo das expectativas, o dólar ganha força nesta tarde. O cenário fiscal indefinido ainda causa um pouco de aversão do investidor estrangeiro”.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, o CPI foi “muito bom”, mas combustíveis e educação fizeram com que o resultado pareça melhor do que é.

Ainda assim, Borsoi entende que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve cortar duas vezes os juros, em setembro e dezembro.

“É uma boa notícia para o mercado de moedas, com a queda dos juros nos Estados Unidos a curto prazo. Sentimos dificuldade com um mercado muito comprador nos R$ 5,40, que virou um ponto de defesa. São mais questões técnicas, não fundamento”, contextualiza Borsoi.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) abriram mistas, mas fecham em queda, seguindo os Treasuries (títulos do Tesouro estadunidense) que despencaram após divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, da sigla em inglês) caiu 0,1% em junho ante maio, abaixo das expectativas de alta de 0,2%.

Por volta das 16h35 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 10,550%, de 10,525% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 11,080% de 11,085%, o DI para janeiro de 2027 ia a 11,295%, de 11,325%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 11,480% de 11,530% na mesma comparação.

Os principais índices de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, à medida que os investidores fugiram do setor de tecnologia após um importante relatório de inflação mostrar que os preços ao consumidor caíram inesperadamente em uma base mensal pela primeira vez desde 2020.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,11% ,39.765,05 pontos
Nasdaq 100: -1,95%, 18.283,41 pontos
S&P 500: -0,88%, 5.584,46 pontos

Com Paulo Holland, e Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News