Bolsa fecha em alta, impulsionada por Vale e Petrobras, em busca de recuperação

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São Paulo – A Bolsa encerrou o último pregão do mês em alta, acelerando os ganhos nos últimos minutos, impulsionada por Vale (VALE3 +1,34%) e Petrobras (PETR3 +0,98% PETR4 +0,34%), limitada pela forte influência do mercado norte-americano, com a saída de investidores estrangeiros para os títulos do Tesouro americano. Com a perspectiva de juros altos por mais tempo, o investimento fica mais atrativo que a bolsa.

O principal índice da B3 encerrou em alta de 0,72%, aos 116.565,17 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro avançou 0,63%, aos 117.315 pontos. O giro financeiro foi de R$ 15,9 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam mistas. Na semana, o índice avançou 0,48% enquanto, no mês, recuou -0,01%.

Na sessão de hoje, os investidores seguiram atentos aos dados da última leitura do índice de preços das despesas de consumo pessoal (PCE), que subiu 3,5% em agosto, na comparação anual, em linha com as expectativas. A leitura do PCE é a métrica de inflação preferida do Federal Reserve (Fed), o banco central norte-americano. O indicador veio dentro do esperado e impulsionou os mercados internacionais no início da manhã e o Ibovespa acompanhou. O movimento positivo também foi visto na Europa e na Ásia.

Na semana que vem, o mercado deve continuar em busca de pistas sobre a economia americana, de olho nas commodities e no rendimento (yield) das Treasuries. Na China, começou hoje o Festival do Meio Outono e o Dia Nacional, que vai até a próxima sexta-feira (6 de outubro) e é o feriado público mais longo do ano.

Para Helder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos, o resultado da inflação na Zona do Euro abaixo do esperado (+4,5%, ante 4,8%) trouxe um otimismo de que os apertos monetários começam a fazer efeito e impulsionaram as bolsas da Europa. O PCE também dentro do esperado também acalmou os investidores e a Bolsa chegou a subir 1% no início do pregão, seguindo os índices norte-americanos.

Marco Prado, CIO da BullSide Capital, destaca que “os juros dos Estados Unidos subiram ao maior patamar de 2007, trazendo um certo grau de risco para a Bolsa brasileira, que fechou a semana praticamente no zero a zero. Já a Ásia, que trazia preocupações por conta da construtora Evergrande, mostrou uma reação por que o Banco do Povo Chinês e banco central japonês disseram que irão socorrer a economia, o que trouxe tranquilidade para o continente asiático. Agora, no Brasil, seguiremos aguardando as tão esperadas reformas tributárias e o arcabouço fiscal.”

Vinícius Steniski, analista do TC, comenta que as ações sofrem influência da volatilidade dos juros futuros, que operavam majoritariamente em leve queda ou estáveis, em algumas curvas. “Na ponta das maiores altas, temos ações que dependem dos juros, em movimento de recuperação dos últimos dias, quando os juros estavam subindo, muito influenciados pela alta dos juros americanos durante essa semana. Na outra ponta, as que mais caem são algumas elétricas, empresas de seguros e as ligadas ao petróleo, como a Prio, por exemplo, que reflete a volatilidade do petróleo no dia de hoje.”

“O minério de ferro também operou positivo, favorecendo as siderúrgicas e mineradoras, exceto a Gerdau, que ainda perde, após anúncios feitos pelo CEO da empresa, que desanimaram os investidores”, acrescenta.

Para Bruno Komura, analista da Potenza, a bolsa brasileira segue acompanhando NY e, no pregão de hoje, o otimismo com os dados de inflação da Europa e depois com o PCE nos Estados Unidos abaixo do esperado. “As principais notícias foram do exterior, as locais ainda não impactam. A inflação dos EUA abaixo das expectativas dá mais convicção de que o Fed não vá subir mais juros, mas que irá manter os juros altos por um período mais longo. Tem casas de análise que acham que o ciclo de cortes vai ficar para o segundo trimestre de 2024”, comenta.

Outro fator que está impactando as bolsas dos Estados Unidos e reflete aqui é o risco de shutdown. “O shutdown também está impactando e deve gerar volatilidade até que isso resolva. O mercado brasileiro deve continuar acompanhando. As notícias locais ajudam, mas os EUA influenciam mais. Precisamos ver as pautas econômicas sendo destravadas, por isso ainda não movimenta tanto a bolsa, não está fazendo preço”, explica.

Um dos fatores que explica a influência dos EUA na bolsa brasileira é a fuga dos recursos para os títulos do tesouro americano, que ficam mais atrativos no cenário de juros altos. “Quando as Treasuries pagam mais de 5% em dólar, elas atraem muito recurso e os investidores saem da Bolsa”, avalia Komura. “Na semana que vem, o mercado vai acompanhar os dados do payroll (dados de emprego) e CPI (inflação ao consumidor).”

O dólar comercial fechou em queda de 0,25%, cotado a R$ 5,0267. A moeda chegou a operar abaixo dos R$ 5,00, mas o constante temor com o descontrole inflacionário global fez com que a divisa ganhasse força no período da tarde. Na semana, o dólar teve valorização de 1,92%, enquanto no mês e trimestre a queda foi de 1,55% e 4,99%, respectivamente.

Segundo o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, a luta global contra a inflação vem exigindo mais esforços que o previsto inicialmente, o que reforça o cenário de cautela global e beneficia a moeda estadunidense.

Brigato acredita que a reunião entre o presidente Lula, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e o ministro da Economia, Fernando Haddad, foi um sinal positivo para o mercado, com a espera pela melhora do diálogo entre governo e BC.

O executivo da Ethimos, porém, pontua que enquanto “o fantasma lá de fora” não desaparecer, a situação não irá se alterar, referindo-se aos próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, observa que o mês foi marcado pela abertura das curvas de juros nos Estados Unidos, e alerta: “O cenário deve permanecer assim por um bom tempo”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecham em queda, acompanhando o bom humor global. Mais cedo, foram divulgados dados de inflação da zona do euro e dos Estados Unidos, o que já deixou o dia bem encaminhado.

Por volta das 16h35 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 12,245% de 12,280 % no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,855% de 10,895%, o DI para janeiro de 2026 ia a 10,615%, de 10,675%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 10,835% de 10,885% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em baixa, cotado a R$ 0266 para a venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo misto, encerrando setembro com quedas expressivas enquanto Wall Street digeria uma nova leitura da medida de inflação preferida pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que pode influenciar as expectativas de taxa de juros.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,47%, 33.507,50 pontos
Nasdaq 100: +0,14%, 13.219,3 pontos
S&P 500: -0,27%, 4.288,05 pontos

Confira abaixo a variação dos índices na semana:

Dow Jones: -1,34%
Nasdaq 100: +0,06%
S&P 500: -0,74%

Confira abaixo a variação dos índices no mês:

Dow Jones: -3,50%
Nasdaq 100: -5,81%
S&P 500: -4,87%

Confira abaixo a variação dos índices no trimestre:

Dow Jones: -2,62%
Nasdaq 100: -4,12%
S&P 500: -3,75%

Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA.