São Paulo- A Bolsa fechou em alta pelo terceiro dia consecutivo, em movimento oposto aos índices norte-americanos, com os investidores digerindo a inflação ao consumidor nos Estados Unidos que apontou desaceleração em março-subiu 0,1%-e pode sinalizar que o fim do ciclo de alta por lá esteja mais próximo de acontecer. Ontem, aqui também a inflação oficial do País mostrou ritmo menor de alta, que animou os agentes financeiros.
O setor financeiro fechou de forma mista, mas as ações do Banco do Brasil (BBAS3) subiram 6,96%, uma das maiores altas do índice. Na contramão, Carrefour Brasil (CRFB3) caiu 3,59% com a análise da Genial Investimentos indicando tendência de redução de preço após o resultado do IPCA. Vale (VALE3) perdeu 2,13% refletindo a queda do minério e atrelado a menor produção de aço na China, o que acaba impactando na receita futura da mineradora. E na cotação.
O principal índice da B3 avançou 0,76%, aos 106.889,71 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril subiu 0,93%, aos 107.685 pontos. O giro financeiro foi de 59,8 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.
Marianna Costa, economista-chefe do TC, disse que os destaques no campo internacional como a inflação ao consumidor nos Estados Unidos abaixo do esperado e o documento da última reunião do Fomc “sustentaram o bom humor no Brasil, na contramão do exterior, os setores ligados a serviços têm performance melhor na sessão de hoje; a composição do número [da inflação norte-americana] se mostrou benéfica, a ata do Fed mostrou um banco central um pouco mais preocupado com a desaceleração da atividade econômica, mas ainda atento à inflação de serviços por lá, ainda há uma pressão da alta de juros na reunião de maio, há probabilidade de elevação [dos juros] de 0,25pp”.
Idean Alves, sócio e chefe de mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, disse que o Ibovespa sobe “após a inflação ao consumidor dos EUA desacelerar além do esperado, o que indica que o fim do ciclo de alta de juros pode estar próximo e de que a inflação está mais perto de ser controlada; acredito que a próxima alta deve ser de 0,25 pp e a último do ciclo”.
O sócio e chefe de mesa de operações da Ação Brasil Investimentos disse que a ata veio em linha com o esperado. “No documento, o comitê afirma que o Fed continua preocupado com a inflação e, por isso, sinalizou que novas altas devem ser necessárias para que a inflação venha a convergir para a meta de forma saudável, e com pouso suave, por isso entendem que é importante manter o patamar de juros atual por mais tempo e se necessário aumentar, provavelmente em mais 0,25pp.”
Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, disse que diante da conjuntura geral da última semana com payroll e os dados de seguro-desemprego nos Estados Unidos, o CPI de hoje só “veio ratificar e uma tendência de redução inflacionária e tira pressão do Fed de continuar com o movimento de subida de juros, não vejo redução; após a forte alta de ontem, hoje é normal ter um dia de ajuste com o pessoal reposicionando suas carteiras. O interessante é que voltou o fluxo de estrangeiros em Bolsa e tirou a pressão de dólar. Vemos que ainda tem gás em Brasil e em alguns papéis, principalmente em commodities, mas sempre acompanhando a volatilidade desses ativos”.
Velloni disse que o Ibovespa ainda gera uma tendência de subida definida por conta do fiscal.
Ontem, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou que a nova regra fiscal será encaminhada ao Congresso só na próxima semana, no retorno do ministro da Fazenda, Fernando Haddad da China.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, disse que a inflação nos Estados Unidos dá sinais de arrefecimentos, mas “o núcleo-aumentou 0,4% e no acumulado em 12 meses está em 5,6%-mostra que a batalha do banco central norte americano continua; o pior parece ter passado, mas é preciso espera a evolução do cenário inflacionário a fim de termos certeza que ela está convergindo para a meta de longo prazo. Os recentes episódios no sistema financeiro parecem, de certa forma, controlados e diante de uma inflação ainda em processo de desaceleração, a nossa expectativa é de 0,25 pp para a reunião do Fomc”.
Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, disse que a Bolsa é beneficiada por um conjunto de fatores. “O novo arcabouço fiscal apresentado e sofrendo ajustes positivos nos últimos dias, a surpresa de ontem do IPCA [desacelerou em março para 0,71% ante fevereiro] e hoje um número ‘OK’ do CPI nos EUA ajudam o Indice, as curvas de juros cederam; com esses números positivos, a expectativa é de que os DIs não subam novamente e os investidores voltem a buscar risco; é só o início de um movimento mais positivo do Ibovespa”.
O dólar comercial fechou em queda de 1,31%, cotado a R$ 4,9410. A moeda refletiu, ao longo da sessão, o aparente controle da inflação no Brasil e Estados Unidos, além do promissor cenário doméstico fiscal.
Segundo o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o mercado estava muito descolado, principalmente a moeda. Caminhamos, desde a semana, com vetores macro favoráveis para o real”.
Borsoi entende que tanto o IGP-M, que caiu 0,90% no primeiro decêndio de abril, quanto o IPCA (alta de 0,71% em março), mostram que existe espaço para o corte da Selic (taxa básica de juros) ainda em 2023.
“Lá fora, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) mostrou que está mais preocupado com a situação dos bancos do que com a inflação. Cria-se a impressão que ele (o Fed) conseguiu domar o processo inflacionário sem que os Estados Unidos entrassem em recessão”, avalia.
Borsoi, que ainda explicou que a China está gerando uma demanda forte de commodities, e classificou o atual cenário como uma “Janela de Ouro”.
De acordo com a economista-chefe da Veedha Investimentos Camila Abdelmalack, “temos um movimento importante dos juros, por conta de uma desaceleração do IPCA. A taxa de câmbio também está mais favorável”.
Existe retirada de prêmio da curva de juros devido ao arcabouço fiscal, e caminhamos para um cenário que não é ruim como se previa, avalia Abdelamalck.
A economista pontua que a desaceleração da inflação dos Estados Unidos é animadora, e o mercado precifica um início de cortes nos juros ainda em 2023, mas que a inflação de Serviços ainda é preocupante (+7,3%), o que sugere que a economia segue aquecida.
Para o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, “com o CPI vindo favorável, o mercado deve continuar aproveitando o bom-humor para hoje. Dólar já se rendeu aos R$ 5,00 e pelo menos até agora e tudo indica que o otimismo deve continuar”. A inflação dos Estados Unidos subiu 0,1% em março ante projeções de +0,2%.
Brigato entende que o aparente controle da inflação nos Estados Unidos deve ser mais um ingrediente que vai pressionar o Banco Central (BC) a iniciar o corte na Selic.
As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em queda puxadas pela primeira prévia do IGP- M de abril negativa e pelo índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês) que refletem deflação na economia norte- americana, apesar da atividade ainda estar aquecida.
O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,135% de 13,150% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 11,810% de 11,805%, o DI para janeiro de 2026 ia a 11,620 %, de 11,635%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,760% de 11,710% na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em campo negativo, com o pessimismo ganhando força em Wall Street após a divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em que os membros do banco central projetam uma recessão a partir do final deste ano.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos futuros de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,11%, 33.646,50 pontos
Nasdaq 100: -0,85%, 11.929,0 pontos
S&P 500: -0,41%, 4.091,95 pontos
Com Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência CMA