Bolsa fecha em alta pelo 6º dia seguido, oposto a NY, à espera da inflação nos EUA; dólar sobe

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São Paulo- A Bolsa fechou pelo sexto dia seguido em alta e se sustentou acima dos 108 mil pontos em sentido contrário aos índices em Nova York. Mas, o Ibovespa passou boa parte do pregão em movimento de realização de lucros e com os investidores na expectativa para a divulgação amanhã (9) da inflação norte-americana (CPI, sigla em inglês) que pode contribuir para direcionar os próximos passos do Federal Reserve (Fed, banco central norte-americano) em relação aos juros.

As ações do Itaú (ITUB4) ficaram entre as maiores altas do índice refletindo o resultado positivo do banco e impulsionou o setor. Outras blue chips, como Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3 e PETR4) também subiram. A estatal apresentou movimento oposto à cotação do petróleo, que caiu, devido ao forte dividendo que a companhia vai pagar aos acionistas.

O destaque negativo ficou para as ações da CVC (CVCB3), que caíram 10,95%, após uma casa de análises cortar o preço-alvo da empresa pela metade. Hoje, após o fechamento do mercado será divulgado o balanço da companhia. Também sairá o resultado da Copel (CPLE6).

O principal índice da B3 subiu 0,22%, aos 108.651,05 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em agosto perdeu 0,06%, aos 109.210 pontos. O giro financeiro foi de R$ 26,8 bilhões. A máxima no interdiário atingiu 109.331,29 pontos. Em Nova York, os índices fecharam em queda.

Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, disse a Bolsa chegou a operar no negativo em um dia de realização, após uma sequência de cinco altas, mas passou a subir perto do fechamento. “O tom é mais cauteloso por conta da divulgação do CPI [inflação] nos Estados Unidos amanhã onde o mercado vai ter uma noção do aperto monetário pelo Fed”.

Moliterno também chama atenção para o IPCA que saiu hoje mais cedo-caiu 0,68% em julho. “Apesar da deflação, o índice é muito embasado na redução do ICMS e se excluísse [o imposto] teríamos uma inflação elevada na casa nos 0,70%; isso também justifica a realização do setor de consumo, que teve altas fortes nos últimos dias com expectativa de alívio na inflação”.

Felipe Moura, analista da Finacap, disse que a Bolsa está com uma realização de lucros leve, após as altas recentes. “Com o cenário macroeconômico mais calmo após o IPCA negativo, o mercado volta a olhar para o mais importante em investimento de ações, o resultado das empresas, que é o catalisador para poder corrigir os níveis de valuation depreciados”.

E acrescentou que cerca de 56% a 60% das empresas listadas no índice soltaram resultados forte e acima do esperado.

Em relação à inflação, disse que “existe a probabilidade de chegar abaixo dos dois ditos nas próximas leituras”. O IPCA acumula alta de 10,07% em 12 meses.

O analista da Finacap disse que o mercado está em modo “cautela esperando a leitura de inflação nos Estados Unidos [sai amanhã]”.

Mais cedo, um analista de uma grande gestora que não quis se identificar disse que a Bolsa está perdendo força porque “o mercado lá fora está ruim com medo da inflação e, por aqui, os balanços corporativos estão vindo bem e os bancos sobem refletindo o resultado do Itaú. Petrobras se mantém firme graças aos dividendos e perspectiva de investidores aumentarem mais posição na estatal”.

A fonte comentou que a Vale está fraca com a preocupação com crescimento da China. Ele salientou que analistas de gráficos do Itaú acreditam que “o mercado vai testar 110 mil pontos e o investidor pessoa física está voltando timidamente para a renda variável”.

Mais cedo, Rafael Passos, analista da Ajax Capital, disse que a ata chancela a manutenção da Selic em 13,75%. “O movimento mais forte que a gente teve em relação à política monetária ainda não mexeu forte nos números de atividade e provavelmente a gente vai ter algum impacto-alguma desaceleração da atividade- nesse segundo semestre de 2022.

Passos disse que outro ponto de destaque foi o Banco Central observando a inflação para o 1T24 e “inclusive abre espaço para o mercado trabalhar mais forte com queda de juros no final do primeiro semestre de 2023 ou começo do segundo semestre de 2023 e, em paralelo, os dados do IPCA reforçam esse call de desaceleração que a gente tem visto por conta dos cortes no preço da gasolina e energia. No núcleo também se vê uma desaceleração importante e é o que dá folego pra ver as taxas de juros fechando e impactando positivamente a Bolsa”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,31%, cotado a R$ 5,1290. A moeda foi impactada diretamente pela expectativa da divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), que ocorre amanhã às 9h30, e deve indicar os próximos passos do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Segundo o sócio fundador da Pronto! Invest, Vanei Nagem, “o mercado hoje está morno, após dias consecutivos de entrada de fluxo estrangeiro. A expectativa é para a inflação nos Estados Unidos”.

De acordo com o analista da Ouro Preto Investimentos, Bruno Komura, “o mercado deve ficar mais volátil nas próximas semanas, com a aproximação das eleições, além da diminuição da distância entre os dois candidatos”, referindo-se aos presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva e o atual chefe do executivo, Jair Bolsonaro.

Komura entende que o índice de preços ao consumidor da China, que será divulgado hoje à noite, é menos preocupante que o norte-americano, que caso venha acima das projeções deve reforçar as expectativas de um Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) mais hawkish (austero, propenso ao aumento dos juros) em setembro. As estimativas são de +0,2 em julho ante junho e de 8,7% no acumulado de 12 meses.

Para a economista e estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli, “os mercados lá fora amanheceram com tom de cautela, à espera dos dados de inflação que estão para sair nos Estados Unidos e na China. O mercado ainda tem dúvidas sobre os próximos passos do banco-central americano por conta da inflação por lá”.

As taxas curtas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em leve queda, após o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, registar queda de 0,68% em julho. Segundo o IBGE, foi a menor taxa registrada desde o início da série histórica, iniciada em janeiro de 1980.

O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,720% de 13,745% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 12,960%, de 12,920%, o DI para janeiro de 2025 ia a 11,910%, de 11,855% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 11,755% de 11,660%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em queda com os investidores receosos com a leitura dos dados de inflação previstos para amanhã em meio a uma série de balanços corporativos decepcionantes durante o pregão.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,18%, 32.774,41 pontos
Nasdaq Composto: -1,19%, 12.493,9 pontos
S&P 500: -0,42%, 4.122,47 pontos

 

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Darlan de Azevedo / Agência CMA