São Paulo -A Bolsa fechou em leve queda, oposto a Wall Street, com a percepção do mercado de piora do quadro fiscal, após entrevista do presidente Lula a uma rádio do nordeste. A Vale (VALE3), ação de maior peso da carteira teórica do Ibovespa, ajudou a segurar o índice. Na semana, as perdas acumuladas foram de 1,36%.
Mais cedo, o presidente Lula disse que quem recebe até R$ 5 mil deve ser isento de Imposto de Renda (IR).
A ação da Vale (VALE3) subiu 1,43%. Lojas Renner (LREN3) avançou 3,37%, após o banco JP Morgan elevar a recomendação da companhia de neutra para compra.
Na ponta negativa, Gerdau (GGBR4) caiu 3,75% refletindo a decisão da siderúrgica Nucor de cortar o preço de US$120/ tonelada da maioria dos produtos, o que impacta na companhia brasileira. Apesar disso, o Itaú BBA mantém recomendação de compra para a ação.
O principal índice da B3 caiu 0,27%, aos 129.992,29 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em outubro recuava 0,31%, aos 130.080 pontos. O giro financeiro foi de R$ 17,45bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.
Fabio Louzada, economista, planejador financeiro e fundador da Eu me banco, disse que a queda do Ibovespa está relacionada ao aumento do temor com a questão fiscal
“As falas do Lula sobre a ampliação da faixa de isenção do imposto de renda para [quem ganha até] R$ 5 mil reais e que quem deve pagar imposto é quem vive de especulação e renda geraram mal-estar no mercado. Haddad já havia comentado que a taxação de milionários é uma alternativa para compensar a isenção de IR. Na contramão, a Vale ajuda a segurar um pouco com a alta do minério de ferro”.
Pedro Caldeira, sócio da One Investimentos, disse que a queda da Bolsa tem relação com a abertura na curva de juros.
“O fiscal não demonstra melhora e isso é observado nas curvas longas que estão subindo. Hoje o Lula, em entrevista, disse que teria de ter isenção de IR pra quem ganha até R$ 5 mil, o mercado esperava ao contrário, o que pesa e, consequentemente, o preço das ações se deterioram. O exterior também influencia com a indefinição do conflito no Oriente. Se houver ataque direto às bases de petróleo do Irã, a commodity chega a US$95 [o barril], o que preocupa porque os Estados Unidos começaram a cortar juros. Se travar esse ciclo impacta a inflação lá e aqui, e [o Copom] tem que acelerar a alta de juros”.
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 0,52%, cotado a R$ 5,6139. A moeda refletiu, ao longo do dia, os constantes temores fiscais domésticos. Na semana, a divisa estadunidense teve valorização de 2,91%.
Para a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, o governo foca as atenções em aumentar tributos e receita, deixando de lado o corte de gastos: “É a grande questão que os agentes esperam. Isso está pressionando a taxa de juros, imprimindo viés de aversão ao risco”.
Segundo o analista da Potenza Capital Bruno Komura, vemos um fluxo de saída. A expectativa de receber dinheiro com o corte do Fed e o aumento da Selic está caindo. Vemos um movimento de aversão ao risco com o Brasil”.
Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta, já que o mercado segue preocupado com a questão fiscal doméstica.
Por volta das 16h30 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,142% de 11,118% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 12,625%, de 12,555%, o DI para janeiro de 2027 ia a 12,810%, de 12,660%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 12,825% de 12,650% na mesma comparação.
No exterior, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão desta sexta-feira em alta. O S&P 500 e o Dow Jones Industrial Average alcançaram novas máximas, enquanto grandes bancos relataram resultados melhores do que o esperado, marcando um forte começo para a temporada de lucros do terceiro trimestre.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: +0,97%, 42.863,86 pontos
Nasdaq 100: +0,33%, 18.343 pontos
S&P 500: +0,60%, 5.815,03 pontos
Paulo Holland, Camila Brunelli e Larissa Bernardes / Agência Safras News