Bolsa fecha em forte alta com Petrobras e Vale, acompanhando o bom humor externo

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São Paulo, 22 de novembro de 2024 – O Ibovespa fechou em forte alta nesta sexta-feira, retomando o patamar de 129 mil pontos, impulsionada pelo avanço das ações de maior peso, Petrobras e Vale. Dados econômicos positivos nos Estados Unidos também contribuíram para o sentimento positivo nos mercados e favoreceram a Bolsa brasileira. Os investidores seguem à espera da divulgação do corte de gastos pelo governo federal, que deve ser feito na segunda (25) ou terça-feira (26) da semana que vem.

As ações ordinárias PETR3 e preferenciais PETR4 da petrolífera subiram 5,23% e 3,98% após o aguardado anúncio de dividendos extraordinários de R$ 20 bilhões (cerca de US$ 3,5 bilhões) aos acionistas e detalhamento do plano de investimentos da estatal. A ação VALE3 subiu 0,97%.

A divulgação do relatório de receitas e despesas, que ocorreria às 17h30, foi adiada pelos ministérios do Planejamento e da Fazenda e será anunciada após o fechamento do mercado, deixando os investidores novamente em compasso de espera de uma atualização do quadro fiscal do País.

O que se sabe até o momento é que a equipe econômica fará um bloqueio de pouco mais de R$ 5 bilhões no Orçamento. Até o momento, R$ 13 bilhões já foram bloqueados no orçamento. Com o novo corte, o número vai para R$ 18 bilhões.

Para alcançar o centro da meta fiscal de zerar o déficit primário seria necessário um esforço adicional de R$ 42,3 bilhões no último bimestre. Para alcançar o limite da margem de tolerância previsto no arcabouço, R$ 13,6 bilhões. As projeções fazem parte do Relatório de Acompanhamento Fiscal, do Instituto Fiscal Independente do Senado, divulgadas na quinta-feira (21).

O principal índice da B3 subiu 1,73%, aos 129.125,51 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro avançou 2,02%, aos 130.295 pontos. O giro financeiro foi de R$ 16,7 bilhões. Na semana, o índice cresceu 1,04%. Em Nova York, as bolsas fecharam no campo positivo.

Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital, avalia que a alta do Ibovespa se deve, principalmente, a fatores internos, especialmente o bom desempenho das ações da Petrobras. “A estatal anunciou um dividendo extraordinário de R$ 20 bilhões, o que aumentou seu valor de mercado em R$ 30 bilhões, alcançando o maior nível desde maio. Na minha visão, esse movimento gerou otimismo no mercado, aliviando parcialmente as preocupações recentes com o cenário fiscal. A alta das ações da Petrobras é significativa, dado seu peso no índice. Além disso, o desempenho de outras ações, como as do setor metálico, também contribui positivamente”, comenta.

No entanto, ele avalia que fatores externos também tiveram impacto moderado. “O avanço das bolsas nos Estados Unidos, impulsionado por dados econômicos positivos no setor de serviços, colaborou para melhorar o humor global e beneficiar o Ibovespa. Observo que outro ponto relevante foi a migração para terreno positivo das cotações do petróleo, após um compromisso renovado entre a Opep e a Rússia para estabilizar os mercados de energia. Embora o ambiente interno tenha sido o principal catalisador, o cenário externo contribuiu como um pano de fundo favorável, criando um alinhamento entre os fatores locais, Petrobras e outras blue chips e globais bolsas estrangeiras e preços do petróleo”, contextualiza.

Iarussi destaca que as maiores altas do Ibovespa são impulsionadas pelo bom desempenho das ações da Petrobras, citando as ações da Cosan (6,%) e Raízen (5,%), impulsionadas pela alta do petróleo e pela expectativa de parcerias com a Petrobras no setor de etanol. “Esses movimentos refletiram uma valorização no setor energético, especialmente devido à busca por novas oportunidades de investimento e a alta nos preços do petróleo”, avalia o sócio da The Hill Capital.

Em relação ao desempenho semanal, o analista destaca que, no Brasil, a semana foi marcada por um ritmo mais calmo devido ao feriado, com o mercado esperando ansiosamente pelas definições sobre o pacote de cortes fiscais do Governo Federal. “Esse cenário de incertezas fiscais pesou negativamente sobre as expectativas para o país, especialmente com o prazo para a aprovação do projeto apertando. Em meio a essa indecisão, as receitas federais de outubro superaram as previsões, com uma arrecadação extra de R$ 4,4 bilhões, impulsionada pela alta do dólar e pela massa salarial elevada. No entanto, a falta de clareza quanto ao futuro fiscal fez o real se desvalorizar frente a outras moedas”, explica.

Para a próxima semana, ele aponta que a expectativa é de que a volatilidade continue, com o mercado aguardando novas movimentações tanto no cenário interno quanto externo. “A definição sobre o pacote fiscal será crucial para as perspectivas econômicas do Brasil, e os investidores estarão atentos a qualquer sinal de avanço nas negociações. Já no exterior, o foco estará nos próximos passos do governo de Trump e nas políticas monetárias dos principais bancos centrais”, conclui.

Em novembro, o déficit mensal do capital externo totaliza R$ 1,5 bilhão. No acumulado do ano, o saldo está negativo em R$ 32,2 bilhões, segundo dados da B3 divulgados na quinta-feira (21). A consultoria Elos Ayta aponta que até esta data (21/11), o Ibovespa acumulou uma queda de 21,28% em dólares em 2024 – o pior desempenho desde 2015, quando o índice despencou 41,03% na moeda americana. A explicação para esse cenário desafiador passa, inevitavelmente, pela valorização do dólar. A relação histórica é clara: quando o dólar sobe, o Ibovespa em dólares tende a cair. Neste ano, o dólar Ptax subiu 20,16%, tornando qualquer investimento no Brasil bem menos atraente para o capital estrangeiro. Os dados são de uma análise da consultoria Elos Ayta.

“A relação entre o desempenho do Ibovespa e a valorização do dólar não é uma novidade, mas em 2024 ela voltou a mostrar sua força. Enquanto o real continuar perdendo valor, o investidor estrangeiro continuará cauteloso. E, como sabemos, o humor desse investidor tem um peso enorme na nossa bolsa”, avalia a consultoria. “O ano de 2024 tem sido uma verdadeira montanha-russa para o mercado brasileiro, e o saldo, até agora, não é nada animador”, opina Einar Rivero, CEO da Elos Ayta.

A análise destaca os dois lados da valorização do dólar. “Se, por um lado, ela impulsiona as exportações brasileiras, por outro, mina o retorno dos investimentos internacionais no país. Em reais, o Ibovespa já não vive um bom momento, com queda de 5,41% no ano. Mas, quando a performance é convertida para dólares, o resultado é ainda mais desastroso. O investidor estrangeiro, que já vê o Brasil como um mercado volátil, agora enxerga um risco ainda maior”, diz o relatório.

O dólar comercial fechou em alta de 0,01%, cotado a R$ 5,8122. A moeda refletiu, ao longo da sessão, as indefinições sobre o pacote fiscal, que deve ser anunciado até a próxima terça-feira (26). Na semana, a divisa estadunidense teve valorização de 0,42%.

O analista da Potenza Capital Bruno Komura, entende que o mercado está cético quanto aos ajustes: “Ninguém acredita que o pacote vai ser bom. A principal preocupação é a qualidade: será algo duradouro, estrutural, ou apenas para 2025-26?”, indaga.

Komura entende, contudo, que os dividendos extraordinários da Petrobras devem fazer com que os R$ 5 bilhões de bloqueio no orçamento, antecipados ontem pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, seja suficientes. O anúncio oficial do bloqueio deve ser feito ainda hoje.

A economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli, observa que a expectativa pelo pelo pacote “domina o cenário”, gerando volatilidade especialmente no mercado de câmbio.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em alta por conta do adiamento do anúncio do pacote fiscal por parte do governo federal.

Por volta das 16h45 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,486% de 11,470% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 13,240%, de 13,185%, o DI para janeiro de 2027 ia a 13,380%, de 13,365%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 13,300% de 13,255% na mesma comparação. O dólar operava de lado, cotado a R$ 5,8122 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em alta, com o Dow Jones registrando um novo recorde máximo, encerrando uma semana de ganhos para as ações em geral.

O Dow terminou a semana com alta de cerca de 2%, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq avançaram aproximadamente 1,7% cada. Isso representa uma recuperação em relação à semana anterior, quando o rali pós-eleitoral de Wall Street havia perdido força.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,97%, 44.296,51 pontos
Nasdaq 100: +0,16%, 19.003,7 pontos
S&P 500: +0,34%, 5.969,34 pontos

Confira abaixo a variação dos índices na semana:

Dow Jones: +1,96%
Nasdaq 100: +1,73%
S&P 500: +1,68%

Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo (Safras News)

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