Bolsa fecha em forte alta e descola de NY, com expectativa do novo arcabouço fiscal e queda da Selic antes do previsto

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São Paulo – Em dia de forte apetite ao risco por aqui, a Bolsa se descola de Nova York e fecha em alta de mais de 2% com os investidores animados na expectativa de que o novo arcabouço fiscal deva ser apresentado antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dias 21 e 22, e de que a taxa básica de juros (Selic) caía antes do previsto pelo mercado como já sinaliza a curva de juros futuros (DIs) e favorece as ações da economia doméstica.

Lá fora, as falas do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, não refletiram aqui. Ele disse que não decidiu sobre os juros nos Estados Unidos para a próxima reunião, 21 e 22, e que deve aguardar mais dados econômicos do país.

As ações da Magazine Luiza (MGLU3) subiram 6,52%, MRV(MRVE3) +4,74%. Petrobras (PETR3 e PETR4) avançou 1,47% e 1,27%. Vale (VALE3) teve alta de 0,91%. Bancos subiram em bloco pelo segundo dia seguido. O setor de educação como Yduqs (YDUD3) e Cogna (COGN3) subiram 12,16% e 8,91% refletindo melhorias no Fies (Fundo de Financiamento Estudantil).

O principal índice da B3 subiu 2,21%, aos 106.540,32 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril avançou 2,26%, aos 107.895 pontos. O giro financeiro foi de R$ 25,5 bilhões Em Nova York, as bolsas fecharam mistas.

Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, a Bolsa sobe e recupera as perdas do mês com os investidores animados na “expectativa de que o governo apresente o novo arcabouço fiscal e com os principais papéis como Vale, Petrobras e bancos subindo, as ações de construções e consumo também ajudam o índice que se beneficiam da queda do juro futuro”.

Rodrigo Cohen, analista de investimentos e co-fundador da Escola de Investimentos, disse que a bolsa foi “impactada com a boa notícia dada pela Simone Tebet [ministra do Planejamento] de que o arcabouço fiscal, muito esperado pelo mercado, vai ser divulgado até o final do mês e, provavelmente, antes da próxima reunião do Copom, sendo possível que os juros já comecem a cair. Isso dá alívio à curva de juros e beneficia o setor de varejo”.

Nicolas Farto, sócio e head de renda variável da Vértiq Invest, disse que a Petrobras sobe até por conta da queda da véspera e “está no radar de muitos investidores, paga um bom dividendo, e hoje teve a indicação para a substituição do Carlos Eduardo [Turchetto Santos] por Efrain Pereira [para integrar conselho da companhia], parece alguém preparado; vamos ver as falas do Powell; a Vale também sobe e ajuda o Ibovespa por conta do minério de ferro, mas tem de observar durante o pregão a performance da ação como ontem; os bancos também favorecem o movimento positivo do Ibovespa com alguns analistas acreditando que os juros vão baixar por aqui e acaba melhorando o crédito”.

Matheus Spiess, analista da Empiricus, disse que hoje o Ibovespa está descolado de Nova York em um movimento de “rebound [rebote] para os ativos de risco com alguns nomes subindo mais de 10%, destaque para as cíclicas domésticas pautadas com a tentativa de apresentação do novo arcabouço fiscal, mas pode mudar a depender do humor internacional”.

André Luzbel, head de renda variável da SVN Investimentos, disse que “as taxas dos DIs para baixo puxam a Bolsa para cima porque juros menores são bons para as empresas pequenas e, principalmente, alavancada”. O índice Small Cap subia 3,08%.

Pedro Serra, analista da Ativa Investimentos, acredita que a forte alta do Ibovespa “é um movimento mais local e tático até passar o evento arcabouço fiscal; se a questão fiscal for minimamente razoável e crível, a valorização pode continuar no curto prazo”.

O dólar comercial fechou em queda de 1,02%, cotado a R$ 5,1410. A moeda refletiu o intenso fluxo estrangeiro na bolsa e a diminuição dos ruídos domésticos.

Segundo o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “já se precificou muita coisa hawkish (severa, propensa ao aumento dos juros) na taxa de juros, então o pessoal está de olho no payroll (folha de pagamento), na próxima sexta”. O economista ainda sublinha que embora o mercado já precifique um aumento de 0,5 ponto percentual (pp) na próxima reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), o presidente da instituição, Jerome Powell, disse que a situação ainda não está fechada.

Borsoi também destaca a importância do fluxo estrangeiro que voltou a ser intenso em março: “Estamos vendo uma melhora disseminada dos ativos locais, que ainda estão muito descontados. O dólar pode chegar na faixa dos R$ 5,10”, opina.

Para o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, a alta do real é explicada devido à performance ruim da moeda nos últimos meses: “Estamos tirando um pouco a diferença”, avalia.

“Já se fala sobre uma taxa terminal de juros de 6% nos Estados Unidos, mas ainda assim temos um diferencial de juros muito grande”, opina Weigt.

De acordo com a Correparti, “lá fora, o dólar ganha levemente de algumas moedas fortes, porém perde para divisas emergentes e ligadas às commodities”.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em forte queda, com temores relacionados ao mercado de crédito e à desaceleração da economia brasileira.Segue forte na mesa a hipótese de que uma antecipação do início do ciclo de flexibilização monetária pelo Banco Central pode ser necessária.

O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,085% de 13,190% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,395%, 12,620%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,545%, de 12,760%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,790% de 12,970% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava em queda, cotado a R$ 5,1410 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto, com o Dow Jones em queda, com Wall Street processando os últimos comentários do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, sugerindo taxas de juros mais altas por mais tempo.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,18%, 32.798,40 pontos
Nasdaq Composto: +0,40%, 11.576,0 pontos
S&P 500: +0,14%, 3.992,01 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Julio Viana / Agência CMA.