Bolsa fecha em menor nível desde agosto com nomeação de Mercadante para BNDES; dólar cai

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A Bolsa fechou em queda pelo segundo dia consecutivo, no patamar de 103 mil pontos, no menor nível desde agosto, com o mercado reagindo mal ao nome do ex-ministro do governo Dilma Rousseff, Aloizio Mercadante, para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O anúncio foi feito na tarde de hoje pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Mais cedo, o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, indicou o economista, Gabriel Galípolo, para assumir a secretaria-executiva da Fazenda, que também não agradou os investidores.

Com essas notícias do cenário doméstico, as ações das estatais despencaram. Banco do Brasil (BBAS3) caiu 4,86% e Petrobras (PETR3 e PETR4) perdeu 1,35% e 2,46%. No caso da petroleira, a notícia de rebaixamento por parte do Bradesco BBI dos papéis para neutra e cortou o preço-alvo das ações preferenciais (PETR4) de R$ 53 para R$ 26 contribuiu para a queda.

O Ibovespa chegou a operar no positivo após dos dados de inflação nos Estados Unidos, que vieram abaixo da expectativa do mercado. O índice de preços ao consumidor (CPI, sigla em inglês) de novembro subiu 0,1% enquanto mercado previa 0,2% e o núcleo avançou 6,0% e a expectativa era de (+6,1%).

O principal índice da B3 caiu 1,71%, aos 103.539,67 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 1,03%, aos 103.745 pontos. O giro financeiro foi de R$ 30,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em alta.

Bruno Komura, analista da Ouro Preto Investimentos, disse que o mercado recebeu mal o nome de Mercadante porque “remete à atuação dele no governo da Dilma [ex-presidente Dilma Rousseff] e, agora no comando do BNDES, esperamos muitos estímulos por parte do governo, o que vai criar muitas ineficiências, desestímulos para o mercado de capitais e no final pode reduzir a eficácia da política monetária por causa dos subsídios; além de dificultar mais o trabalho do Banco Central”.

Marcus Labarthe, sócio-fundador da GT Capital, disse que a Bolsa vem sofrendo com as incertezas do cenário doméstico e de transição do governo. “A notícia de Mercadante no BNDES desagradou o mercado e de Gabriel Galípolo também foi mal recebida por posicionamentos como críticas ao teto de gastos”.

Mais cedo, o ministro Fernando Haddad nomeou o economista Gabriel Galípolo para a secretaria-executiva da Fazenda. Thiago Calestine, economista e sócio da DOM Investimentos, disse que a nomeação do Galípolo “não agradou o mercado e a composição desse ministério vai gastar mais que arrecada e não vai cumprir a regra de ouro, tem a MP das estatais; a gente fez um movimento de retrógrado do ponto de vista de avanço econômico, os nomes que estão sendo anunciados estão penalizando os ativos.

Calestine disse que a Bolsa chegou a ficar mais leve com os dados de inflação nos Estados Unidos que veio aquém das expectativas do mercado, mas voltou a pesar após o anúncio de Aloizio Mercadante para assumir a presidência do BNDES.

Matheus Spiess, analista da Empiricus, disse que a Bolsa sobe com a ajuda do cenário internacional após os dados de inflação nos Estados Unidos, mas o ambiente local requer atenção. “Quando o contexto internacional não é impeditivo, a gente acaba se beneficiando, as commodities sobem e conseguem sustentar a alta e Petrobras pesa e está relacionada ao ambiente político muito prejudicial”.

Spiess comentou que o mercado espera pela coletiva de imprensa para negar alteração na lei das estatais e do anúncio de nomes do segundo escalão da equipe econômica. “O Haddad [Fernando Haddad] pode vir com nomes pró-mercado, como de Marcos Cruz, Bernard Appy, entre outros, plural, muito semelhante com o que aconteceu com Palocci [Antonio Palocci, ministro da Fazenda do governo Lula de 2003-2006], poderia ser interessante porque no primeiro semestre do ano que vem vai ser muito importante para a definição da nova regra fiscal e discussão reforma tributária”.

O analista da Empiricus também comentou sobre a ata do Copom e dados do setor de serviços em outubro, que segundo ele vieram mais fracos que esperado- caíram 0,60%-” isso daria espaço para que a manutenção da taxa de juros pelo Banco Central (BC) pudesse ser flexibilizada, mas não é pelo temor fiscal, sinalizado também no documento divulgado esta manhã”.

O dólar fechou em queda de 0,03%, cotado a R$ 5,3100. Após o anúncio do ex-ministro da Casa Civil e da Educação, Aloizio Mercadante, como o futuro presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a moeda norte-americana ganhou força e fechou próxima à alta.

Segundo o especialista da Valor Investimentos Gabriel Meira, “o CPI mexeu alguns centavos no dólar, mas, em via de regra, devemos observar as decisões de amanhã, nos Estados Unidos, e quinta, na Europa”, referindo-se ao Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) e Banco Central Europeu (BCE).

O índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiu 0,1% em novembro ante outubro e 7,1% na comparação interanual – ambas abaixo das expectativas do mercado (0,2% e 7,3%, respectivamente).

Meira acredita que até o final do ano o dólar fique na faixa entre R$ 5,20 e R$ 5,40: “Existem muitas incertezas políticas e fiscais, além da definição das taxas de juros em economias desenvolvidas”, explica.

Para o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, “o mercado estava esperando o CPI com certa cautela, e após a divulgação dos dados o dólar começou a cair”.

Rostagno, contudo, enfatizou que a situação doméstica que a moeda brasileira ganhe mais força: “O movimento aqui é moderado, devido ao risco fiscal”, observa.

De acordo com o boletim da Correparti, “os mercados operam ainda em compasso espera com as decisões de política monetária do Banco da Inglaterra (BoE), BCE e Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). O CPI é visto com muita importância para a decisão de juros pelo Fed. Lá fora, o dólar perde de seus pares e das moedas emergentes ligadas às commodities”.

“Por aqui devemos ter uma abertura em leve queda, acompanhando o exterior, com os agentes locais de olho no anúncio de mais nomes que farão da equipe do futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT)”, opina a Corrreparti.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam em alta no aguardo de novos nomes do governo. O DI para janeiro de 2023 tinha taxa de 13,658% de 13,662% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2024 projetava taxa de 14,110%, de 13,975%, o DI para janeiro de 2025 ia a 13,690%, de 13,420% antes, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 13,370% de 13,130%, na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava de lado, cotado a R$ 5,3130 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam a sessão em alta, apesar de perderem força ao longo do dia – quando o Nasdaq chegou a subir quase 4%, após a divulgação do relatório de inflação no país em novembro, que veio mais suave do que o previsto pelos analistas de mercado.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: +0,30%, 34.108,64 pontos
Nasdaq 100: +1,01%, 11.256,8 pontos
S&P 500: +0,72%, 4.019,65 pontos

Com Darlan de Azevedo / Pedro do Val de Carvalho Gil/ Paulo Holland / Agência CMA.