Bolsa fecha em leve alta com “alívio” na relação Lula x BC, mas inflação nos EUA incomoda

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São Paulo – A Bolsa fechou em alta pelo segundo dia com os investidores respirando um pouco aliviados diante da sinalização do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que não tem intenção de brigar com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, após recentes críticas do governo em relação à autonomia do BC, meta da inflação e juros altos.

Mas o pregão não operou todo o dia no positivo, pelo contrário. Boa parte da sessão de hoje registrou queda refletindo a inflação ao produtor nos Estados Unidos (PPI, sigla em inglês) acima das expectativas- subiu 0,7% em janeiro ante dezembro- e a estimativa é de que os juros seguirão altos por lá. O mercado previa elevação de 0,4%.

A Vale (VALE3) teve alta forte ao longo do pregão, mas acabou arrefecendo os ganhos fechando (+0,21%). Os investidores esperam pelo balanço da mineradora após do fechamento do mercado.

A primeira reunião do Conselho do Monetário Nacional (CMN) aconteceu nesta tarde, durou apenas meia hora e o teor do encontro será conhecido após o fechamento do mercado, mas a meta da inflação ficou fora da pauta.

O principal índice da B3 subiu 0,31%, aos 109.941,46 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em abril avançou 0,43%, aos 111.915 pontos. O giro financeiro foi de R$ 24,7 bilhões. Em Nova York, as bolsas fecharam em queda.

Alexandre Pereira, analista da casa de análises do TC, disse que o Ibovespa se recuperou após “tons amenos do Lula em relação ao Banco Central, levando a uma trajetória mais positiva; a grande maioria dos ativos está em alta com destaque para a Vale; o cenário continua desafiador, mas vejo melhora no curtíssimo prazo”.

Apolo Duarte, CFP, sócio e head da mesa de renda variável da AVG Capital, destacou a volatilidade da Bolsa na sessão de hoje. “Vemos os bancos que chegaram a operar em queda e viraram para o positivo; podemos ver diversos setores que são influenciados pela curva de juros que estão tendo quedas mais fortes hoje, principalmente papéis de varejo”. Ele ressaltou o balanço da B3 “que veio ruim e refletiu nas ações, caíram 1,89%”.

Felipe Leão, especialista da Valor Investimentos, disse que a inflação mais resiliente nos Estados Unidos derrubou os mercados por lá e impacta na Bolsa.

“O resultado do PPI reforça que o Fed [banco central norte-americano] deve buscar novos aumentos nas taxas de juros e alguns diretores da instituição veem possibilidades de aumentos de 0,50 pp [para as próximas reuniões]. Os pedidos de seguro-desemprego-caíram para 194 mil, os analistas previam 200 mil- sugeriram que as empresas estão mais relutantes em demitir, elevando as preocupações com os salários e aumentando a inflação enquanto os efeitos da política mais restritiva se espalham por lá”.

Leão também comentou que os investidores seguem cautelosos cautela em relação aos riscos fiscais e “mantém no radar o debate da meta da inflação, apesar de ter sido descartada a discussão do assunto hoje na reunião do CMN”.

O dólar comercial fechou em queda de 0,19%, cotado a R$ 5,2090. A moeda sofreu volatilidade durante grande parte da sessão, refletindo as incertezas políticas e fiscais domésticas, além do temor que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) prolongue o ciclo contracionista.

Segundo o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, “o mercado aqui, especialmente o dólar, está muito volátil, com dias ruins seguidos por dias muito bons, e isso tem afastado o investidor”. O economistaexplica que esta volatilidade é explicada pela instabilidade política, em especial as discussões que envolvem o Governo e o Banco Central (BC).

“Diante de um cenário externo muito difícil, o dólar ganhou uma dinâmica altista nas últimas semanas. A atividade econômica dos Estados Unidos está muito resiliente, e já se fala em três ou quatro altas dos juros”, explica Borsoi.

Para o economista da BlueLine Flávio Serrano, “a percepção mudou um pouco, aumentou a sensação do Fed ir um pouco além neste ciclo. A inflação ainda não está em um nível de alívio”, que usou como exemplo o recém-divulgado PPI e outros indicadores que apontam para uma resiliência da economia estadunidense.

O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) ter subido 0,7% em janeiro ante dezembro (as projeções eram de +0,4%).

Serrano também entende que a discussão em torno das metas de inflação é prejudicial para o real, e que a discussão sobre o arcabouço é importante, mas ainda repleta de dúvidas: “Este ambiente de elevada incerteza está produzindo hoje uma correção. Também pode ser o início de uma postura mais cautelosa devido ao feriado de Carnaval no qual o mercado ficará fechado durante quatro dias”, opina.

De acordo com o boletim da Ajax Asset, “lá fora, ativos de risco registram leves altas com o recuo dos juros dos Treasury Bonds (títulos do Tesouro dos Estados Unidos). Por aqui, juros podem recuar na expectativa do anúncio do novo arcabouço fiscal e em linha com o movimento externo”.

As taxas curtas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) fecharam mistas, em dia de ajuste após a queda expressiva observada nas taxas na sessão do dia anterior. O DI para janeiro de 2024 tinha taxa de 13,235% de 13,300% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 12,550%, de 12,620%, o DI para janeiro de 2026 ia a 12,730%, de 12,735%, e o DI para janeiro de 2027 com taxa de 12,950% de 12,910% na mesma comparação. No mercado de câmbio, o dólar operava de lado, cotado a R$ 5,2210 para venda.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, depois de outro relatório de inflação forte e um declínio nas reivindicações de desemprego, mostrando que a economia está se mantendo em meio aos aumentos das taxas do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano).

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,26%, 33.696,85 pontos
Nasdaq Composto: -1,78%, 11.855,8 pontos
S&P 500: -1,37%, 4.090,41 pontos

Com Paulo Holland, Pedro do Val de Carvalho Gil e Julio Viana / Agência CMA.